Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco
Publicado 12/11/2022 06:00
Um tempo chuvoso, com sol, com calor e frio. Não tem como segurar gripe, febre ou outro mal que seja. Tô recolhido no fundo da caverna, sem ver os pássaros e sem varrer o quintal. Ih, e longe dos vizinhos. Longe dos olhos porque, o tal zap é implacável. Então, soube que há uma divisão de águas entre eles. Uns defendem a desinvenção de ideias e modernidade. Já os outros, felizes com o progresso da Ciência e etc e tal.
Bem, o que fazer? Vou continuar neutro. Particularmente, só entre nós: sou favorável às novas invenções, o progresso. É graças aos
cientistas que, entre outras coisas, podemos ficar cada vez mais velhos, vivos e com saúde. Concordam?

Mas, enquanto a previsão do tempo nos informa da confusão entre frio, calor, sol e chuva, mandei pedido de auxílio a um dos vizinhos. O César chegou para cuidar do quintal e alimentar os pássaros (milho picado, alpiste, bolinhos de miolo de pão) para os mais jovens e para os mais velhos, também). E fico prisioneiro dos noticiários das emissoras de TV e de rádios. E leio os principais jornais do Rio e do país.
Caramba, a coisa anda meio confusa. Ou bastante? Em uma das escapulidas para uns exames em laboratório, o Ibiapina chegou e foi logo me gozando: "Ô Luar, tá com a cabeleira grande. Parece o penteado do Boris Johnson!". Dei um sorriso educado. Bolas, nem ao barbeiro tive condições de ir. Mandei recado para ele, depois da comparação do penteado, avisando da minha ausência forçada e que apareceria em breve para barba, cabelo e bigode.

Caramba, na saída da porteira, tentando ser rápido (somos vulneráveis aos ladrões na saída ou na chegada em casa), quase fui cercado pelos amigos e conhecidos. "Tá sumido!", gritou um. "Vai passear?", indagou outro. Bolas, quero ser rápido. Só lancei sorrisos forçados, e acelerei, dando "adeus" com a mão esquerda. Mais adiante, o Fred varria a calçada dele. Reconheceu o carro e me saudou com a vassoura erguida. "Tava preso?", gritou. Nem respondi. Só tem gozador na área. E lá fui para o laboratório passar por exames...

No regresso, claro, lembrei da saída agitada. Liguei para o Nelson e combinei para ele me aguardar na porteira. "Ô Nelson, comprei uns salgadinhos para você. Me aguarde que estou chegando !". "Foi o estratagema que bolei para entrar rápido no quintal". Ele abriria o caminho. Pô, tava me sentindo uma estrela do Rock, famoso, tentando se livrar dos fãs.
O plano deu certo. Entrei rapidinho no quintal, Nelson fechou a porteira e veio rapidinho à procura dos salgadinhos. Mas ele foi me mostrando o celular com várias mensagens dos vizinhos: "Luar chegou e trouxe salgadinhos para a turma!". Céus. Acho que vou ficar do lado dos amigos que são contra os avanços das tecnologias. Se vivêssemos na era dos sinais de fumaça, aposto que a troca de mensagens seria, digamos, mais lenta e levada pelo vento. Acho que tô começando a ficar com saudade do tempo do bonde e dos sarau.
 
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