Publicado 25/03/2023 00:00
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Estava conversando com o mais recente amigo de infância, o José Francisco, um carioca que vive em São Paulo, historiador amador. Não tem trinta e cinco anos de idade, mas já tem seu destino definido: cineasta. Dirige filmes de ação e documentários. Ele gosta de instigar, aqui, o velho repórter, para ouvir antigas histórias de bandidos, vagabundos e malandros do Rio de Janeiro. Mas, como lembrar de tudo que ele quer saber, estando a mais de quatrocentos quilômetros, usando está praga chamada WhatsApp?
Detesto essa modernidade. Prefiro o telefone antigo, desses que tenho três aparelhos, um no meu quarto, outro na cozinha e um no quintal. Vez por outra, tiro a poeira deles. Quase não ouço as campainhas, daquelas de estremecer o ambiente. Eu sempre uso a antiga linha, que vem de brinde no pacote de Internet. E, quando ouço o barulho, sinalizando que há alguém me chamando, já adivinho quem está do outro lado do telefone: o médico da patroa, ou Alcyr Cavalcante - fotógrafo porreta das antigas - ou o Nelson (que detesta celular, também). Fico satisfeito atendendo as ligações.
José Francisco, diante das minhas reclamações, justificou, dizendo que eu preciso me atualizar, já que o mundo mudou, "inclusive nas telecomunicações". Me recuso a abandonar meus aparelhos - de discos e um de manivela - que funcionam. Bolas, já não uso a gravata borboleta e as abotoaduras nas camisas. O carro, um "moderno" Gol, 2013, 1000 cilindradas, está inteiro. Será que terei que trocar o veículo por outro, elétrico? E a moedora de carne, movida a muque? Vai para algum museu? Será que irei, também?
E, José Francisco, pelo tal do WhatsApp, continuou a me torturar: - Já inventaram a tornozeleira eletrônica, para monitorar presos em liberdade. Já ouviu falar? - não perdi a oportunidade: - Já, sim. Até li sobre casos de ladrões, com monitoramento com essa geringonça, que foram flagrados roubando nas ruas! - gritei com três pulmões. Aproveitei a deixa, amigos, e fui em frente: - Tô aguardando aparelho que monitora mente de alguns políticos, e gente acostumada a dar golpes financeiros... - Escutei um leve sorriso chegando aos meus ouvidos.
E José Francisco retrucou: - não deve demorar a ser aprimorado... - Senti, pelas vibrações whatsappeanas, que me chegaram pelo celular, que o mais recente amigo de infância estava perdendo a paciência. Fui mais suave: - Você lembrou das tornozeleiras. Isso me levou aos anos 70, na época dos Doze Homens de Ouro que, na verdade, eram treze. - pronto, José Francisco, whatsappidamente desconversou: - Ih, preciso desligar. Tenho um filme para terminar...- e desligou.
Pensei cá, com meu zipper: Tá bom, amigo. Vou procurar no Google as últimas invenções. Quem sabe encontro o celular que transfira o tal do ZAP para o meu telefone de manivela? - Alô, telefonista Margarida. Por favor, avisa que estou no telescópio, tentando achar a família Jetsons. Já atendo. Obrigado, Margô !
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