Publicado 29/04/2023 00:00
Início de uma tarde de outono, quando ainda quase fazia frio. A patota de vizinhos estava reunida no quintal, ao redor de uma mesa de jardim, protegida por guarda-sol, prevenindo bombardeio das aves que iriam voltar aos ninhos. Cervejas, claro, e uns salgadinhos, deixando o papo rolar. Todos reunidos para não fazer nada, mesmo. Começamos a falar sobre Serra Pelada, passamos por extração ilegal de minérios e terminamos na campanha, pouco explicada até hoje, a 'Doe Ouro para o Brasil'.
Lembram desta? Foi após o golpe de 1964, em 13 de maio, campanha lançada pelos Diários Associados, do falecido Assis Chateaubriand, em todo o território nacional. Rendeu uma grana violenta, uns US$ 30 milhões. O empresário ficou com 20% de comissão. E o restante? Quantas velhinhas patriotas doaram suas alianças de casamento? Lembro de um fazendeiro, do Sul, que mandou forjar uma enxada de ouro maciço, pesava pouco mais de dois quilos, para doar. E outros tantos que entregaram carros do ano, joias variadas e valiosas, dinheiro vivo, etc e etc... A campanha começou em São Paulo e logo atingiu a maior parte da nação. Mil ideias surgiram para a doação final. Só ideias, é claro. Nem adianta procurar no Google. São várias versões.
Bem, as opiniões do grupo foram variadas, incríveis e até esdrúxulas. Deu para boas risadas e gozações. Enquanto isso, os salgadinhos sumiram. Logo as maritacas apareceram. De repente, lembrei do amigo Kiko, artista gráfico que gosta de desenhar as aves. Foi pensamento rápido. Mas dei um sorriso de parceria. É ele que ilustra essas mal traçadas linhas. Imaginei a obra que faria. Mas, as reclamações dos amigos me trouxeram de volta ao quintal. Fred estava reclamando que alguém estava jogando lixo no chão. É o mais certinho do grupo: - Tem lugar certo para descartar tudo - avisou em um tom de crítica. E emendou: - A cerveja tá acabando... Trouxe algumas - Deu pra escutar até zumbido de abelhas.
A chegada de outros amigos, equipados com empadinhas, pastéis e salames, acendeu um sinal luminoso, vermelho, na mente: DIETA ! Bolas, meio por cento aqui do grupo não tem problemas de saúde. Mas a maioria tem. Peguei o megafone e gritei para a patroa, lá no fundo da caverna: - Pode trazer chá e bolachas, por favor? - Silêncio total no quintal. Em poucos segundos, as reclamações. Ibiapina foi o primeiro a reclamar: - Vai parecer asilo. - Júlio ainda rebateu: - Não sou inglês para beber chá. - E logo chega a patroa: - Quem é o doente aqui? - Fiquei quieto, fingindo estar ausente, fotografando os pássaros. Liguei o radinho de pilhas, marca Spica, que guardo com carinho, e ouvi, baixinho, Harry Belafonte cantando a música 'Bananas'. E disfarcei: - Vejam! Casal de Sabiás. E emendei: - Afinal, cadê o tal ouro do Brasil? - Ufa.
Bem, as opiniões do grupo foram variadas, incríveis e até esdrúxulas. Deu para boas risadas e gozações. Enquanto isso, os salgadinhos sumiram. Logo as maritacas apareceram. De repente, lembrei do amigo Kiko, artista gráfico que gosta de desenhar as aves. Foi pensamento rápido. Mas dei um sorriso de parceria. É ele que ilustra essas mal traçadas linhas. Imaginei a obra que faria. Mas, as reclamações dos amigos me trouxeram de volta ao quintal. Fred estava reclamando que alguém estava jogando lixo no chão. É o mais certinho do grupo: - Tem lugar certo para descartar tudo - avisou em um tom de crítica. E emendou: - A cerveja tá acabando... Trouxe algumas - Deu pra escutar até zumbido de abelhas.
A chegada de outros amigos, equipados com empadinhas, pastéis e salames, acendeu um sinal luminoso, vermelho, na mente: DIETA ! Bolas, meio por cento aqui do grupo não tem problemas de saúde. Mas a maioria tem. Peguei o megafone e gritei para a patroa, lá no fundo da caverna: - Pode trazer chá e bolachas, por favor? - Silêncio total no quintal. Em poucos segundos, as reclamações. Ibiapina foi o primeiro a reclamar: - Vai parecer asilo. - Júlio ainda rebateu: - Não sou inglês para beber chá. - E logo chega a patroa: - Quem é o doente aqui? - Fiquei quieto, fingindo estar ausente, fotografando os pássaros. Liguei o radinho de pilhas, marca Spica, que guardo com carinho, e ouvi, baixinho, Harry Belafonte cantando a música 'Bananas'. E disfarcei: - Vejam! Casal de Sabiás. E emendei: - Afinal, cadê o tal ouro do Brasil? - Ufa.
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