Publicado 20/05/2023 00:00
Uns bons, e maus, trinta anos se passaram quando o telefone, o fixo, me tirou da inércia. Pensei cá com meu zíper que somente poderia ser algum amigo mais chegado. Ou, quem sabe, uma operadora de celular que enche minha paciência com ofertas. Atendi e escutei uma voz conhecida. Será que é mesmo quem estou pensando? - Você está vivo, mesmo? Achei que já tinha morrido... - Bolas, é preciso responder que ainda estou por aqui? Resolvi levar na galhofa e mandei: - Eu ia morrer mas, como lembrei que ainda precisava pagar uma contas, adiei a passagem para o além. - Rápido silêncio e a voz do cara voltou: - Você conhece alguém no Detran? - Bolas, achei que deveria continuar com ironia. Afinal, após uns trinta anos, o sujeito nem foi educado, ou político, ou diplomático, em iniciar uma conversa. Ainda mais com a pinta de pedir favor esdrúxulo ou inconveniente.
Deixa esclarecer uma coisinha, amigos. Esse mesmo elemento, que se dizia meu parceiro, amigo e colega de profissão, uns trinta anos passados, me procurou com um convite fenomenal. Ele precisava entregar a casa onde morava. Mas, seguindo o contrato de locação, teria que devolver o imóvel em perfeito estado de conservação. Para isso, seria necessário fazer uma pintura geral no imóvel. Ora, ora, para quem ele pediu socorro? Claro que ligou aqui para o escriba! - Ô Luar, você é meu amigo e, por isso, sei que pode me ajudar a pintar a casa onde moro... - Caramba, eu não sabia que era pintor, ou mesmo algo parecido: - Ô Fulano, você deve ter se enganado de pessoa. Eu sei pintar o 7, e nada mais. - Ih, o cara ficou irritado e, após se lamentar e afirmar que estava sem dinheiro para contratar um profissional, desligou o telefone. Sem ao menos se despedir! Nesta ocasião, fiquei matutando, tentando imaginar o porquê o "amigo" cismou que eu entendesse de pintura. Bem, esqueci o caso.
Voltando aos dias atuais, após contar uma de algumas passagens com o Fulano, vou continuar reportando a conversa lá do início. Deixa eu ver onde parei. Ah, achei. Ih, chegaram os amigos e vizinhos. Deixa eu servir café bem quente. Tá frio nesta tarde de sexta feira. - Café ? - A pergunta, quase em uníssono, quase me assustou. - Bem, o que vai ser? - indaguei respondendo: Cerveja, caipirinha, ou leite quente? - Risadas... - Antes, porém, permitam contar o que vou mandar para o jornal. - E contei. Mas, faltou o finalzinho, né ? Vamos lá no início, novamente. O tal cara do telefonema foi direto: - Preciso que você consiga anular a multa de trânsito que a patroa cometeu. Sete pontos e é cara. - Respondi: - Ô cara, não me meto nisso. - Ele desligou! Aqui, na caverna, diante dos amigos de fato, recebi um conselho e o Fred foi o porta-voz: - Quando esse cara ligar novamente, diz logo, antes que ele peça outra encrenca, que você conseguiu morrer.
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