Publicado 07/10/2023 00:00
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Já havia alimentado as aves e passei a outra tarefa: alimentar a Chiquinha, a cadela que a patroa resgatou de vizinho que vende bebidas e que ameaçou jogar o animal na rua. A cadela tem sete meses atualmente, porte grande, pesada e mal-educada. Já destruiu o aparelho de medir a pressão, plantas na varanda, espantou vizinhos e visitas e é mais misturada que gasolina. Tô contando isso porque, lembrei da quarta-feira passada, que comemorou o padroeiro dos animais. Bem, quase todos os animais...
Chiquinha é a quarta abrigada, após ter um futuro incerto nas ruas. Antes, vivia aqui o Cão, que veio de Angra dos Reis, um vira-latas mais esperto do que muito dos políticos, de porte pequeno e que tinha ódio de helicópteros que sobrevoavam aqui a região.
Outro resgatado foi o Jorge Tadeu. Um poodle mestiço, peludo de porte médio, branco tipo neve, que já veio batizado com esse nome por conta do sucesso do personagem também vira-lata e mulherengo interpretado pelo ator/cantor Fábio Junior na novela Roque Santeiro.
O Jorge Tadeu era um cão temperamental, guloso, meio falso. Veio de uma oficina mecânica aqui, do Engenho de Dentro. O único raça-pura foi o Nêgo – também já veio batizado -, um Doberman, que apesar da aparência assustadora por conta do porte, mais dócil que uma criança. Veio de um amigo, Luís, que livrou o velho pai da tarefa diária de passear com o animal, "parece surfista de cachorro", conforme explicou.
Nêgo e Jorge Tadeu ficaram amigos. Um fato marcante, foi um início de dezembro. O Elias, dono de pousada no Abraão, na Ilha Grande, veio ao Rio fazer compras para o pequeno hostel. Parou a picape, carregada com mantimentos, no quintal, entrou na caverna, jantou e dormiu.
Mas, Nêgo, atraído pelos aromas que vinham da caçamba do veículo, partiu para dentro e se fartou. Vez por outra, deixava cair algum tira gosto para o Jorge Tadeu, que não conseguiu subir.
Pela manhã, Elias viu o estrago. Os cães fizeram o Natal particular antecipado
E Elias? Depois de ladrar, mas não morder nenhum dos dois, voltou ao mercado para refazer as compras.
Cada um deles, em épocas diferentes, marcou presença. Travessura, gestos e gostos que, ao longo do tempo, marcaram a vida na caverna, correndo entre a varanda e o início do quintal, invadindo a casa.
Deram alegrias, preocupações e despesas. O Cão, por exemplo, chegou sujo, fedendo a perfume barato. Deu um trabalhão para anular o cheiro. Mostrou gratidão e se apegou à família e à casa. Jorge Tadeu foi terrível. Em noite de 31 de dezembro, com o foguetório da passagem de ano, entrou em luta com o Nêgo. Fui desapartar e ele mordeu meu pé esquerdo. A dentada atingiu artéria. Encarei hemorragia. Fui parar no Hospital Miguel Couto. Passei o Ano Novo no hospital. Jorge Tadeu, em outra ocasião, fugiu de casa. Vizinho encontrou ele longe, lá perto do Morro do 18.
Estava dividindo uma marmita, na rua, com um desconhecido, sentado em uma calçada da Rua Torres de Oliveira. O vizinho conseguiu trazer o animal para casa, apesar da reclamação do desconhecido que o alimentava.
Quase esqueci do Panther, outro que chegou já batizado. Mistura de pastor com vira-latas. Porte grande, do tamanho do apetite. O vizinho queria se livrar dele e, como sempre, a patroa acolheu o animal. Ele, não sei o porquê, quando conseguia escapulir do quintal, corria direto para uma birosca que funcionava aqui, pertinho. Na casa anterior, viva acorrentado. Aqui, sempre viveu livre e solto.
Mas, voltando à Chiquinha, agora ela é a dona do pedaço. Quer entrar? Traga um osso. É o passe exigido para o acesso à Caverna.
Ah, melhor trazer dois. Sempre é bom garantir a saída.
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