Publicado 14/10/2023 00:00
Noticiários sobre a estiagem na Região Norte, com os rios secando e deixando populações sem alimentos, sem água até de beber, me levaram ao cientista Janot Pacheco. Lembram dele? Aquele que, no final dos anos 50, conseguia fazer chover no Nordeste sedento? O método era bombardear nuvens com produtos químicos e as chuvas caíam sobre a secura desértica daquela região. Será que daria certo na Região Norte?
Com toda a derrubada ilegal da floresta e a contaminação por mercúrio nos rios? Sei não... O mundo está mudado e vai ficando cada vez mais complicado. Tantos séculos e o bicho homem civilizado parece não ter aprendido nada com os outros bichos-bichos e com índios das nossas florestas. Não consegue sequer conviver com seus pares. No Rio, é essa guerra sem fim entre milicianos e traficantes. Enquanto isso, outra desgraça acontece no Oriente Médio, na briga entre judeus e palestinos. Fome, miséria, mortes, explosões, pavor em ambos os lados.
Ainda com aquelas cenas de explosões na cabeça, dos noticiários da tevê, fui dormir em noite de ventania e chuva forte. Lá por volta da metade da madrugada de domingo último, um forte estrondo, que estremeceu minha cama, me levou, por instantes, para as cenas da guerra. Acordei assustado, peguei a lanterna e saí para tentar achar o motivo do barulho ensurdecedor. A cadela agitada, correndo pela varanda e o quintal, era o alerta de que algo estava errado. E, de repente, percebi que chovia dentro de casa.
Havia um rombo no meu telhado. Caramba, será que algum míssil foi desviado para a Água Santa? Outro estrondo ainda mais forte abriu também o telhado que cobre parte da varanda. Sim, minha casa estava sendo atacada, mas não por bombas ou tiros. Algo foi arrastado pela ventania. Vesti um capote impermeável e, com ajuda da maior escada que tenho, cheguei no alto. Bolas, eis que jazia sobre a cobertura metálica da varanda uma enorme tampa de caixa d'água. A peça foi arrancada de alguma casa de vizinho e atingiu, de início, as telhas. Depois, rolou até chegar a cobertura metálica. Não, não foi míssil.
Mas, com as chuvas, goteiras surgiram no teto do meu quarto. Sobre a cama. Até pela luminária! Deslocamento dos móveis, driblando o pinga-pinga interminável. Sono? Sumiu. Não foi míssil, mas, uma semana se passou e o dono da tampa de reservatório de água não apareceu. Outro problema: as telhas são do tipo francesas. O estoque da reserva técnica que eu tinha zerou e atualmente está difícil de conseguir uma nova remessa delas no mercado. É a terceira tampa que atinge o meu telhado, em épocas e vizinhos diferentes. Em nenhum dos casos, os donos das tampas apareceram para um papo, um interesse em saber dos prejuízos. Acho que não se fazem vizinhos como os de antigamente. Nem vizinhos, nem telhas. Melhor eu procurar algumas peças em lojas de demolição. Ah, e também conservar os velhos (ou antigos) vizinhos. Esses, sim, amigos e solidários.
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