Publicado 18/11/2023 15:44
A frequência das reuniões na caverna tem caído. Claro, a temperatura de deserto afasta qualquer amigo das conversas e debates matinais e vespertinos. O Fred, por exemplo, nascido e criado na Suíça, encara os 40°C no Rio de Janeiro, cidade que adotou, quase sem reclamar muito. Mas, os cariocas do grupo reclamam bem mais.
Então, quando eu me dirigia ao salão de barbeiro o Cláudio sempre dá um trato na minha cabeleira de verão aqui na Rua Borja Reis, encontrei Adilsinho, Nélson, Ibiapina e o Luiz da loja de autopeças. O salão fica num ponto estratégico. De bombordo, a farmácia, a padaria e o jornaleiro. E, a estibordo, o bar do Ligeirinho.
Oito horas da matina, um calor de derreter aço, e o papo entre eles só poderia ser mesmo sobre a temperatura alta, muito alta. Até o Cláudio entrou na conversa. Peguei-o (o papo) no meio, com o Luiz reclamando dos custos em água mineral: O meu prejuízo em garrafas de água sem gás é grande. Sim, porque ainda tenho a conta da Águas do Rio – explicou. E justificou: O freguês chega para comprar uma peça de carro, vê a garrafa de água e vai logo pedindo um copo. Não vou negar...Nélson foi mais além: –Prefiro cerveja estupidamente gelada. Só bebo água em casa.
Bem, antes de cortar o cabelo e começar a sentir sede, lancei o veneno: – Tá na hora de mudar nosso fuso. Vamos viver acordados das 20h até ás 6h. Pronto, foi o gatilho acionado para conversa e debate por toda a manhã. Ou mais. E entrei na loja do Claudio. – Amigo, vou no corte “Escovinha”!
Na calçada em frente à loja, o assunto rendeu. Eu escutava e, vez por outra, dava um palpite. Fred, com seu andar acima dos 6 km por hora, apareceu. Não vi quem puxou mesa e cadeiras do Ligeirinho. Pronto. A caverna, ao que parece, foi momentaneamente substituída por uma sede provisória. – Como mudar o horário? indagou o Luiz. Ih, o Cláudio sorriu, perguntando e concordando: – Sim, como mudar e fazer todos daqui aceitarem? Caramba, pensei alto: – Isso é discussão pra mais de quatro rodadas de cervejas. Claudio soltou uma gargalhada e me acalmou: – Já estou acabando o corte. E concluiu: – Vai dar tempo de você pegar a quarta rodada. Mas dei o troco: – O pior é não conseguir cadeira na sombra.
Saí da loja. E, ainda sacudindo os pelos da calça, desafiei: – Já pensaram nos trajes do Papai Noel? Vai ser de sunga e trazendo isopor com cerveja gelada?
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