Publicado 17/02/2024 00:00
A Quarta-Feira de Cinzas chegou na caverna trazendo bolinhos de bacalhau, camarões, cerveja e refresco de groselha para os que não bebem. Os amigos, dessa vez, vieram com as respectivas famílias para o encerramento oficial da folia que do lado de cá do muro mantém a antiga tradição da festa terminar na quarta-feira.
– Liga o gramofone que a festa, vai começar – disse o Fred, trazendo um engradado de cerveja para reforçar a confraria.
Pedido feito e imediatamente realizado. Enquanto lá fora, na rua, ainda tem bloco passando, trazendo com ele o hit do Carnaval deste ano, que vem macetando nossos ouvidos há dias, o gramofone toca um repertório variado, mas antigo, em discos de 78 rpm (rotações por minuto), que começa com 'Allah-la-ô', a marchinha que estourou no Carnaval de 1941, na voz de Carlos Galhardo e segue com 'Não sou cachorro não', do saudoso Waldic Soriano. E não poderiam faltar o rei do rádio, Nelson Gonçalves, com a saudosa 'Naquela mesa' e a eterna 'Volta do Boêmio', e ainda Noel Rosa, com sua 'Conversa de Botequim'...
As letras falando de bar e boemia inspiraram o tema da reunião do conselho e o assunto não poderia ser outro: relembrar os velhos tempos desses bares icônicos que até hoje guardam nossas histórias. O Café Lamas, Bar Brasil, o Armazém Senado, a Casa Paladino, entre outros, ainda vivos e funcionando, e o saudoso e imperial Bar Luiz, que faziam parte do roteiro do Carnaval, onde, depois de pular muito, íamos recuperar as energias e continuar a festa no modo “sentados”.
Enquanto tagalerávamos, as mulheres cantavam com os reis do rádio os sucessos de antigamente e as crianças agitavam o quintal correndo atrás da cachorra gigante Chiquinha, que corria atrás das gatas aqui de casa.
No meio da confusão, alguém lembrou de perguntar por que o Chave de Ouro só saía depois do Carnaval, na Quarta-Feira de Cinzas.
Houve um tempo em que a festa na rua era proibida, só mesmo os bailes da elite eram permitidos. O povão tinha que brincar de fugir da polícia. Quando alcançados, os foliões eram recolhidos ao xilindró para só serem liberados na Quarta-Feira de Cinzas.
Daí a data de comemoração do bloco ser essa.
Se fosse hoje, que o Carnaval não tem mais prazo para acabar, a polícia teria que manter aqueles foliões presos o ano inteiro.
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