Publicado 09/03/2024 00:00
Eu varria o quintal, juntando as folhas secas que caíram após a ventania da quarta que visitou o quintal aqui da caverna, quando o Ronaldo chegou para reclamar da tecnologia. Imediatamente concordei com o amigo. Nós, do tempo em que ainda se usava gravata borboleta e suspensórios, somos naturalmente analógicos e utilizamos mais nossos telefones (móveis ou fixos) para a singela função de falar ao vivo com o outro.
Aliás, não era qualquer assunto que se resolvia pelo telefone. Lembro, que certa ocasião, o compositor Beto Sem Braço usou a música para apelar ao juiz que não condenasse o traficante Escadinha, que era seu amigo: “Ah meu bom doutor, não bata esse martelo nem dê a sentença, antes de ouvir o que meu povo diz. Pois esse homem não é tão ruim como o senhor pensa”, dizia ele no samba.
Já o saudoso presidente Tancredo Neves ensinava que assunto importante tinha que ser feito pessoalmente, olho no olho. E outro político famoso por nossas bandas, o ex-deputado Tenório Cavalcante ia ainda mais longe: “Tem assunto que só ao pé do ouvido!”
Nesse momento, o Júlio chegou trazendo o engradado de cerveja que ficara de repor. E, ouvindo a conversa, disparou:
- Mas hoje, chefes de estado conversam e até brigam, usando as redes sociais. Um despautério!
E, enquanto se servia de uma geladinha, Ronaldo continuou sua queixa contra a chamada Inteligência Artificial, que ele garante, e eu concordo, é muito limitada.
- Ela não nos ouve - ele disse, para depois continuar: - A conta de luz não chegou pelo correio físico. E eu fiquei inadimplente e no escuro. Sem carregar o celular, também perdi o banco, o telefone e acabei isolado do mundo. Maldita tecnologia.
- Maldita tecnologia – confirmou Ibiapina, que chegava de boreste.
Com três amigos, o conselho estava finalmente instalado.
Estou pensando mesmo em abrir uma igreja aqui no meu quintal. Já tenho púlpito, fiéis e até o nome: “A Igreja da comunicação verdadeira”.
E se quiser falar com a gente, senão for pessoalmente, vai ser como na música do Martinho da Vila, “Pelo telefone”. E usando a boca, nada de dedilhar!
E nem pensem em pagar o dízimo com esse tal de bitcoin!
Publicidade
Leia mais