Publicado 20/03/2024 17:11 | Atualizado 20/03/2024 17:11
Eu tomava o café que a minha senhora havia acabado de passar, quando vi na TV um vídeo que fez minha xícara parar no ar, no caminho entre o pires e a boca, até a bebida esfriar. Policiais do Batalhão de Santa Cruz faziam uma festinha de aniversário, com direito a bolo, velinha e cantoria, para um dos três milicianos baleados durante operação da Polícia na Avenida Brasil, que se recuperavam no hospital Pedro II, situado no mesmo bairro.
A cena inusitada de policiais alegremente pousando ao lado de criminosos me remeteu a outra ocasião, lá pelos de 1960, quando o enterro de um político de São João de Meriti foi cercado de bandidos, amigos do morto, que tinham ido ali lhe prestar a última homenagem.
Mas naquele tempo, diferentemente de agora, ninguém pôde registrar a façanha, para não arranhar a imagem do dito cujo.
Esse assunto, sobre relações perigosas, eu tive que levar para os amigos do meu quintal.
Para acompanhar a conversa, encomendei um pote de tremoços e outro de azeitonas. O dia estava muito quente para salgados fritos. Aliás, por que esse verão de El Níño não vai embora? Tenho ouvido queixas até mesmo das maritacas.
Bem, voltando ao assunto daquela imagem, e com o conselho reunido, foi Fernando, que entende muito dessas coisas de justiça e de criminosos, quem lembrou que naqueles tempos os bandidos não eram divididos entre milicianos e traficantes. Naquele tempo eram apenas quadrilheiros. E tratados do mesmo jeito - garantiu.
Mas, como acontece hoje, também eram conhecidos por apelidos. Entre os meliantes que frequentavam as páginas policiais estavam o Horroroso, o Escangalhado, o Pernambuquinho e o Sabino dos Cachorros. Um deles tinha o divertido apelido de “Praga de Mãe”, embora fosse o xodó de sua progenitora, dona Lídia. Seu nome verdadeiro era Luís Carlos da Silva Silvino, um temido pistoleiro lá das bandas de Nilópolis, na Baixada Fluminense, que estava jurado de morte pela polícia. Juramento esse anunciado nos jornais e efetivamente cumprido pouco tempo depois, em agosto daquele ano.
O mais curioso é que naquele caso, o subdelegado, que também fazia um bico como papa-defunto, cobrou da família 43 mil cruzeiros para fazer o enterro de terceira classe. E para garantir o pagamento atrasou o funeral por dois dias. Quando o defunto foi finalmente liberado, no momento do enterro no cemitério de Ricardo de Albuquerque, a turma do detetive Le Cocq apareceu e prendeu quatro dos amigos do morto.
Naquele tempo a polícia não dava colher de chá nem para bandido morto.
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