Publicado 29/06/2024 00:00
Eu ainda não tinha tomado o meu café que aqui em casa é bem matinal mesmo (sou eu que canto o amanhecer para acordar os passarinhos da região), quando o aroma de bergamota invadiu a cozinha trazido pelo vento. Sim, estamos no inverno e vivemos em Água Santa, uma região quase rural dentro dessa cidade de concreto urbano.
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No subúrbio o aroma vai mudando de acordo com as estações. Porque por aqui é comum as pessoas viverem em casas com quintal. E, por isso mesmo, também é comum a cultura de árvores frutíferas. Eu, por acaso, tenho....
Fruta de conde, uma, acerola, pitanga, mamão, uva e claro, pimentas, muitas pimentas. Melhoram o humor e espantam o azar.
Aliás, está na época da poda das videiras, são três pés de uvas diferentes.
O mamoeiro, confesso, é teimoso e não quer crescer, continua na altura do amigo Bartolomeu, que nos deixou antes do combinado.
As árvores atraem as aves que continuam me visitando. Tem aqui um velho tronco de uma árvore que até hoje é visitado por pica-paus. Aliás, para quem vive no centro da cidade fica a deixa: diferentemente dos desenhos animados, o pica-pau é minúscula. Tem no máximo 5 centímetros de tamanho, tal qual o casal de beija-flor que se apoderou do pé de fruta do conde. Não chega a ser uma reforma agrária, mas cada espécie encontra aqui o seu poleiro.
E tem também a Chiquinha, a cadela filhote gigante, mestiça como eu, que afasta os gatos da vizinhança. Ela só não gosta dos voos rasantes dos helicópteros, que usam os céus de Água Santa como rota entre a Barra e o Centro da Cidade, cortando o caminho por cima da serra dos Pretos Forros.
Mas, amigos, confesso, as adoráveis ararinhas são as mais barulhentas. Elas avisam com antecedência que vão chegar. Parecem mesmo parentes próximas das maritacas.
Nesse interior onde está instalado o Principado de Água Santa, já habitaram quatis, gambás e o bicho preguiça, que sempre foi um mal exemplo para o bicho homem, que, por conta da ocupação da região, migraram para Floresta da Tijuca, do outro lado da serra.
Aliás, naquele outro lado, também a estrada Grajaú-Jacarepaguá e suas respectivas favelas também afugentaram outros bichos da nossa fauna. Alguns deles, volta e meia, invadem o asfalto e as casas a procura de alimentos, atraindo assim os bombeiros e a imprensa, que os tratam como invasores. Mas são eles os moradores mais antigos da cidade.
Isso sem contar a enorme variedade de micos, que foram contrabandeados para cá e se transformaram em uma espécie de praga. São mais vistos caminhando pelas fiações da Tijuca, do Méier e que vêm aqui procurar sossego para dormirem e se procriarem pelas bandas de cá.
Tal como nós os bichos-homens mais velhos, que, como eu, sentam aqui na varanda para assistir esse espetáculo da natureza.
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