Publicado 23/11/2024 00:00
Temperatura baixa para a época. O tempo lusco fusco, como chamava minha avó paterna, a Beatriz. Quintal arrumado, limpo, começando a chegar os amigos, ou o “G Quase 20”, como apelidou o Júlio, em uma gozação ao encontro de líderes mundiais, aqui no Rio.
Publicidade- Sem a Janja e sem palavrão - gritou o Nelson, um eterno gozador, acompanhando o raciocínio. E Adilsinho, mestre em cálculos, deixou de lado o assunto inicial e foi mais além:
- Não esqueçam a inflação!
Ih, que silêncio. Chegamos até a escutá-lo. Somente Fred, brincalhão, aproveitando o espanto geral, mandou ver:
Ih, que silêncio. Chegamos até a escutá-lo. Somente Fred, brincalhão, aproveitando o espanto geral, mandou ver:
- inflação é páreo duro com a margarina - e arrematou: - as duas são mortais.
Eita, mais silêncio. Caramba, corri até geladeira e peguei o pote de manteiga, a mineira, e voltei ao grupo, mostrando o produto como se estivesse apresentando o dever de casa à professora. Céus, o silêncio continuava. Aproveitei e corri, de volta, para guardar o alimento.
Enquanto o tempo voava, Ibiapina foi incendiar o carvão na churrasqueira. E foi ele que, em tom sério, advertiu: estamos falando de carne assada direto no fogo. Não pode, jamais, queimada ou chamuscada. Quando queimada, é veneno. E um crime contra a boa gastronomia.
Alguém iniciou as palmas. E todos acompanharam. O vizinho de bombordo, que estava preparando o molho, com receio de ser advertido, perguntou geral: - posso continuar do meu jeito de sempre, ou teremos restrições?
Alguém iniciou as palmas. E todos acompanharam. O vizinho de bombordo, que estava preparando o molho, com receio de ser advertido, perguntou geral: - posso continuar do meu jeito de sempre, ou teremos restrições?
Tou achando que estamos vivendo sob um regime de extremo cuidado. E isso me fez lembrar do passado errático, daqueles deliciosos e perigosos tira-gostos do bar da Dona Maria: os nacos de carne seca à milanesa, do jiló e o maxixe, fritos juntos no óleo com um certo tempo de uso. E não ficavam encalhados.
E, churrasco vai, churrasco vem, diante das cervejas, apresentei meu suco de nêspera, batido na hora. É difícil para os amigos acreditarem que continuo em dieta, rigorosa, intransigente e cruel. Pior, sob a vigilância implacável da Primeira Dama da caverna. No lugar do churrasco, ainda me contento com bolachas de água e sal. Terrível momento. Mario Melo, outro amigo aposentado que resolveu se juntar ao grupo, foi fundo quando alertou:
E, churrasco vai, churrasco vem, diante das cervejas, apresentei meu suco de nêspera, batido na hora. É difícil para os amigos acreditarem que continuo em dieta, rigorosa, intransigente e cruel. Pior, sob a vigilância implacável da Primeira Dama da caverna. No lugar do churrasco, ainda me contento com bolachas de água e sal. Terrível momento. Mario Melo, outro amigo aposentado que resolveu se juntar ao grupo, foi fundo quando alertou:
- Ô Luar, não se atreva a migrar para cerveja sem álcool. - E, com a voz de barítono que carrega de nascença, concluiu: - cerveja sem álcool é para os fracos, quase pulando a cerca.
Tou lascado. Ele ainda me presenteou com um par de alteres. Só resta, no momento, comer fígado bovino, ao ponto. Vou ficar comportado. Mas, em protesto, coloquei um sucesso dos anos 70, de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano. O nome da música “De papo pro ar” é um convite ao ócio.
“Quando no terreiro faz noite de luar e vem a saudade me atormentar, eu me vingo dela tocando viola de papo pro ar..."
“Quando no terreiro faz noite de luar e vem a saudade me atormentar, eu me vingo dela tocando viola de papo pro ar..."
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