Publicado 09/05/2022 09:00
Professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas, Tássia Cruz é também gerente-executiva do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), que comemora cinco anos. Em entrevista ao jornal O DIA, a PhD em Economia da Educação fala sobre as atividades do centro, criado com o objetivo de melhorar a gestão da política educacional brasileira como um todo, para garantir educação básica equitativa, inovadora e de qualidade. "Conseguimos bastante sucesso na formação de gestores — lembrando que esses líderes desenvolveram competências que impactaram redes inteiras", conta.
O DIA: Nesses cinco anos de atuação do Ceipe, algo mudou em relação ao objetivo inicial?
TÁSSIA: Continuamos com a mesma missão de cinco anos atrás, quando a nossa diretora, Cláudia Costin, sonhava em fundar um centro de políticas educacionais. Trabalhamos para melhorar a gestão educacional com três diretrizes: excelência, equidade e inovação.
Houve algum aperfeiçoamento no decorrer desse tempo?
Tudo foi construído do zero e, ao longo do tempo, se tornou mais clara a necessidade de olhar para a gestão educacional. E, para trabalhar com o tema, passamos a desenvolver uma metodologia para gestores. Inclusive desenvolvemos uma matriz de competências, que se tornou referência: as existentes até então tinham foco nos gestores em geral. A Educação costuma olhar somente para dentro das escolas, mas é preciso pensar nas secretarias, em quem efetivamente toma as decisões.
Como você avalia os resultados?
Conseguimos bastante sucesso na formação de gestores — lembrando que esses líderes desenvolveram competências que impactaram redes inteiras. Estimamos um impacto em torno de 2,8 milhões de alunos ao longo desses anos. Um caso de sucesso é em Miracema, no Rio, cujo secretário participou da nossa primeira turma. O Ideb dos anos iniciais saltou de 5,9 em 2017 para 6,9 em 2019. O Ideb dos anos finais foi de 4,7 para 6,1.
Quando se fala em melhoria do sistema educacional, fala-se em valorização do magistério. Só isso basta?
O olhar para o professor é essencial, mas eles estão imersos em um sistema que precisa ser bem gerido. Muitos profissionais não têm apoio da secretaria, até mesmo na distribuição entre as escolas; não têm uma base curricular que os apoie; não têm materiais didáticos conectados a essa base; e não têm uma infraestrutura digna. Assim, não têm como fazer um bom trabalho, e nem as políticas de valorização têm como ser bem sucedidas.
Já é possível avaliar o impacto da pandemia na Educação?
Talvez a principal preocupação seja com evasão escolar e abandono, e já existem estudos que mostram esses efeitos. Também sabemos de alguns efeitos na queda do número de alunos alfabetizados e do rendimento. No estado de São Paulo, o resultado atual dos alunos é semelhante ao de três anos atrás: o crescimento na aprendizagem, que ainda era lento, não só parou de acontecer como ainda reduziu.
O que pode ser dito em relação aos desafios no Rio de Janeiro?
Os desafios que observamos no Brasil como um todo estão reunidos aqui. Mas especialmente no município temos temos questões de violência, com particularidades por causa das áreas conflagradas e de difícil acesso, que dificultam a ação da secretaria. Além disso, nossos jovens em situação mais vulnerável muitas vezes são estereotipados como incapazes de aprender — o que pode se tornar uma profecia autorrealizável. Para isso, temos uma formação específica, afinal, um aluno não nasce com menos potencial do que outro, e professores devem considerar isso em sua prática pedagógica.
Em que outras frentes o Ceipe atua?
Nossa missão é melhorar a qualidade e equidade do sistema, mas também temos um terceiro foco, que é a inovação. Não só em termos de uso da tecnologia, mas do caráter inovador da gestão. Fazemos o monitoramento e avaliação da iniciativa Educação Conectada, em parceria com o BNDES, apoiando os gestores desde a compreensão da visão sobre a tecnologia até a compra de materiais, passando pela capacitação dos professores.
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