O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Sebastião JoséReprodução / Sindicato dos Rodoviários
Publicado 30/05/2022 09:00
Sebastião José da Silva preside o Sindicato dos Rodoviários há três anos, mas está envolvido com a luta dos trabalhadores desde 1995. Nesta segunda-feira, o Tribunal Regional do Trabalho recebe a proposta das empresas de ônibus para a categoria, que ameaça entrar em greve, por causa da falta de reajustes. Em entrevista ao jornal O DIA, ele fala sobre os desafios enfrentados pelo segmento tanto antes da pandemia como os atuais, além de debater alternativas para o aprimoramento do setor. "Houve uma queda enorme no poder aquisitivo e os rodoviários não têm cláusulas sociais que possam compensar o salário mais baixo", lamenta.
O DIA: Qual é a situação dos rodoviários atualmente?
SEBASTIÃO: Uma liminar nos proíbe de fazer greve desde novembro, e estamos sem reajuste há três anos. A possibilidade de uma paralisação é muito grande: já estamos em uma situação parecida com a pré-pandemia, de normalidade, e a categoria precisa, no mínimo, ter a compensação da perda inflacionária.
A categoria dos rodoviários não parou durante a pandemia. O que isso significou?
Houve redução de jornada, apesar de o setor ser de serviços essenciais. O decreto presidencial previa isso, então fizemos aditivos para que todos trabalhassem e não houvesse um achatamento salarial tão grande. Além disso, no período da pandemia, tivemos 7.100 demissões em dois anos, só na capital.
O setor passa por uma grande crise. Como os trabalhadores estão sendo afetados?
São dois fatores principais. O primeiro é a redução muito grande nos postos de emprego. Hoje, temos 50% menos vagas do que há 10 anos. Só nos últimos cinco anos, 11 mil postos foram perdidos. Um segundo ponto crucial é que houve uma queda enorme no poder aquisitivo, ainda mais porque os rodoviários não têm cláusulas sociais, como plano de saúde e, pasme, nem ticket alimentação. Apenas recebemos uma cesta básica de R$ 350 para inteirar as compras.
Quais eram os problemas enfrentados pela categoria antes da pandemia?
Nesse ponto, o que já era ruim ficou pior. São quatro principais problemas: trânsito, jornadas excessivas, condições dos veículos e a violência. Temos muitos motoristas agredidos. Muitos pedem demissão, ou estão afastados por doenças ocupacionais e questões psicológicas. Temos altos índices de doenças cardíacas ou hemorroidas, em decorrência do longo tempo em que os trabalhadores passam sentados. Não temos nem banheiro nos terminais, o que traz consequências no longo prazo.
Qual é a proposta do sindicato para melhorar a situação?
A redução da jornada é um aspecto que traria muitos benefícios sem, em contrapartida, tantos impactos; mas é preciso avançar na discussão. Com os rodoviários rodando por menos tempo, conseguiríamos aumentar as vagas, além de diminuir os riscos para os passageiros. E seria também uma forma de inserir mais mulheres nesse mercado, que oferece salários igualitários. São as jornadas que as afastam do segmento.
Os usuários reclamam das tarifas em relação ao serviço prestado. O que o senhor tem a dizer?
A abordagem do custo o passageiro não é correta, em nossa visão. Vale lembrar que, por lei, quem paga pela passagem é o empregador, que desconta até 6% do salário para custear o vale transporte. Ou seja, é uma parcela pequena que efetivamente tem que tirar dinheiro do próprio bolso. O problema é que, ao longo do tempo, tivemos uma queda brusca de passageiros por causa do desemprego — e, para quem está desempregado, até uma passagem de R$ 1 é cara.
Qual a sua opinião sobre a proposta de subsídios às passagens?
Hoje, como as empresas recebem exclusivamente por usuário transportado, o interesse delas é manter os ônibus somente nos locais com grande demanda. Nesse novo modelo, o poder concedente vai poder determinar onde os carros devem rodar. Esse é um indicativo muito positivo, na minha opinião, pois o poder público vai poder atender a população. A visão da oferta de transporte deixa de ser exclusivamente uma mercadoria e passa a ser um serviço público.
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