Publicado 26/09/2022 09:00 | Atualizado 26/09/2022 20:13
A Baixada Fluminense ganhou destaque nas eleições de 2022. O atual governador e candidato à reeleição Cláudio Castro fez questão de buscar um vice na região: Washington Reis — que foi prefeito de Caxias, o segundo maior colégio eleitoral do estado. Reis renunciou, mas a escolha não foi à toa: quase 25% da bancada de deputados federais é da área, assim como cerca de 20% da Alerj. Para explicar como interagem as forças políticas locais, em entrevista a O DIA, o mestrando em sociologia política Vitor Escobar compartilha análises da pesquisa que culminou no Dossiê da Baixada, uma coletânea de artigos lançada pelo Laboratório de Partidos e Política Comparada da UFRJ.
O DIA: Por que estudar especificamente a Baixada Fluminense?
VICTOR: A gente viu que a região teve uma centralidade muito grande nas eleições, o que levou a eleger Washington Reis. O que melhor ilustra isso é o esforço do Cláudio Castro para se tornar o candidato mais conhecido, que era a principal barreira de sua campanha. Como ele subiu tanto nas pesquisas, com tantos escândalos nos noticiários? Descobrimos que existe uma mobilização muito grande das bases eleitorais da Baixada, uma hegemonia de apoio, tanto de prefeitos quanto de vereadores. Não adianta ter muito dinheiro de campanha, tem que saber mobilizar as bases. Além disso, figuras muito relevantes do estado são de lá, a exemplo do Waguinho, prefeito de Belford Roxo, que é o presidente estadual do União Brasil.
Como é a representação da Baixada na política fluminense?
Na Baixada há 13 municípios, que somam 194 vereadores. Sendo que, dos 46 deputados federais, dez estão de alguma forma ligados à Baixada. O recorde é de Nova Iguaçu, que tem três deputados federais. Nas eleições de 2018, foram eleitos 18 deputados estaduais ligados à região, nem que seja de modo afetivo. Fazendo uma conta mais ou menos, é 20% da Alerj.
Como o apoio de prefeitos pode pesar na eleição de governador?
Conseguimos verificar que existe em muitos municípios da Baixada uma simbiose entre os interesses do Executivo local e a Câmara dos vereadores. Muitas vezes o prefeito tem algum candidato a deputado estadual e federal, ou apoia algum vereador, e os demais vereadores atuam mobilizando as suas bases eleitorais para fazer a relação entre o candidato e eleitor. Até porque, se formos pensar em nível de representatividade, o vereador está mais perto do cidadão — então eles fazem campanhas declaradas, usando até fotos juntas em panfletos. Essas bases de prefeitos e vereadores atuando em prol de candidaturas, principalmente a de deputado, acabam chegando ao governador por questões de coligação partidária.
Por que a esquerda tem muito menos vereadores na Baixada?
Uma explicação oficial seria uma falta de organização dos partidos de esquerda na região, que não desenvolvem políticas para mobilizar esses votos. Em 2018, creio que o André Ceciliano tenha sido o único candidato de esquerda eleito lá. A Baixada até vota nesses candidatos, mas a nível federal ou estadual, não local. Caxias, por exemplo, votou muito no Marcelo Freixo e no Alessandro Molon em 2018. Vale também ressaltar que dos 13 prefeitos, 12 são de centro-direita.
Embora haja vereadores de esquerda, nenhum está apoiando Marcelo Freixo. Por quê?
Observamos que a política local importa muito mais do que as conjunturas políticas a nível estadual. Além disso, não sabemos o grau de interação dos vereadores com a política partidária. Por exemplo: vimos o caso de um vereador eleito pelo PT, mas que foi secretário do Waguinho (União Brasil) e não declara o seu apoio. Ou seja, seguindo a orientação do prefeito, talvez seja mais interessante apoiar a candidatura do Cláudio Castro.
Dos 13 municípios, 12 são da coligação partidária do atual governador. Qual é a sua conclusão?
Temos que observar a conjuntura partidária que o Cláudio Castro construiu ao longo do governo — buscando apoio através de cargos, secretarias — e também lembrar do dinheiro da Cedae, que foi repassado pelos municípios. A Baixada Fluminense está com um monte de obra. Então, tanto a relação partidária mais ampla quanto uma aproximação com os prefeitos consolida o apoio, e fica muito mais difícil para outros candidatos conseguirem entrar nesses municípios.
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