O coordenador do SOS Crianças Desaparecidas, Luiz Henrique OliveiraDivulgação
Publicado 17/04/2023 09:00
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Trabalhando há mais de duas décadas na causa do desaparecimento de menores, Luiz Henrique Oliveira é coordenador do SOS Crianças Desaparecidas, organização sem que tem como objetivo localizar crianças e adolescentes. O projeto, umbilicalmente ligado à Fundação para a Infância e Adolescência (FIA), trabalha para dar visibilidade aos sumiços e oferece apoio psicológico e jurídico para as famílias afetadas. Em entrevista a O DIA, Oliveira destaca o papel da sociedade nos casos de desaparecimento. "Qualquer informação, por menor que seja, pode ser crucial. A comunidade precisa estar atenta e comunicar os casos suspeitos ou as situações de risco".
O DIA: Quantos menores de idade desaparecem por ano no estado do Rio?
Luiz Henrique: Hoje, temos cerca de 70 menores desaparecidos no RJ, num total de 600 pessoas não encontradas, incluindo aquelas que já atingiram a maioridade. Neste ano foram registrados 53 desaparecimentos, com 46 já resolvidos, uma média de um caso por dia, podendo variar. Desde sua implementação, em 1996, o SOS Crianças Desaparecidas já registrou 4.255 casos, dos quais 3.656 foram solucionados até o momento — índice de sucesso superior a 85%. Vale dizer que a pandemia aumentou os desaparecimentos, principalmente por causa de fugas, o que deixa claro a necessidade de investimento em políticas de contenção da violência no ambiente familiar.
Quais são as causas mais comuns dos desaparecimentos?
Os casos de fuga têm aumentado significativamente, correspondendo a cerca de 73% dos registros. Em seguida: casos de sequestros, conflitos de guarda — quando um familiar leva a criança sem autorização —, subtração de incapaz — quando o menor é levado por qualquer motivo que não seja para conseguir um resgate —, e por último, há situações como abandono e homicídio. O que chama atenção nos dados é que apenas 52% das crianças desaparecidas estão matriculadas em uma escola, enquanto 35% trabalham e estudam. Ou seja, há uma questão de vulnerabilidade financeira, poia menores de idade deveriam só ir para a escola.
Há sinais de que uma criança pode fugir de casa?
Há algumas mudanças de comportamento que podem ser um indicativo, como a queda no desempenho escolar, aumento da agressividade, isolamento social, desobediência a regras e até parar de se importar com violência sofrida no ambiente familiar. Sobre esse último caso, vale lembrar que os professores desempenham um papel essencial na identificação, podendo notar sinais físicos ou comportamentais de uma criança que esteja sofrendo abuso. Nessas circunstâncias, é preciso comunicar imediatamente o Conselho Tutelar da região para ajuda profissional.
O que pais e responsáveis devem fazer assim que desconfiam do desaparecimento?
É um momento confuso, mas é preciso mobilizar a própria comunidade e divulgar a imagem do jovem e um telefone para contato — mesmo com risco de trotes. Em seguida, o responsável deve procurar a delegacia mais próxima, onde será feito o registro de ocorrência e a polícia deve iniciar a busca imediata. Todos os comunicados são recebido em tempo real na FIA, mas haveria um ganho se aeroportos e rodoviárias fossem avisados imediatamente. É importante lembrar que, diferentemente do que muitos pensam, não é preciso esperar 24h para fazer o registro junto à polícia. Quanto mais tempo desde o desaparecimento, mais difícil se torna a localização.
O que precisa ser melhorado no sistema de localização?
É necessário internalizar que o desaparecimento de um menor é questão coletiva. É fundamental dar visibilidade em todos os meios de comunicação — a novela "Explode Coração", por exemplo, ajudou a dar um grande empurrão nessa causa. A população precisa ser ativa, denunciando casos suspeitos e situações de risco. Muitas pessoas ainda têm receio, mas esse é um meio fundamental. Qualquer informação, por menor que seja, pode ser crucial. A comunidade precisa estar atenta e comunicar situações como crianças desacompanhadas em locais públicos, como ônibus, hospitais e ruas. Tanto a população quanto os órgãos públicos precisam entender que a coletividade deve fazer parte desse processo.
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