A deputada Marina do MST (PT)Reprodução / redes sociais
Publicado 25/09/2023 05:00
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Lúcia Marina dos Santos, a Marina do MST, é deputada estadual pelo PT do Rio e militante da causa dos sem-terra. Filha de boias-frias, conheceu o Movimento aos 14 anos, em uma missa, num acampamento. Mudou-se para o Rio em 1996 e atuou em ocupações em Campos dos Goytacazes. É formada assistente social pela UFRJ e mestre em geografia. Foi eleita com 46.422 votos defendendo o combate à fome e à insegurança alimentar, priorizando as mulheres negras; a democratização da terra e a agroecologia, o fortalecimento da democracia institucional e dos direitos sociais. Diante do cenário de acirramento ideológico no país, é categórica. "O ódio foi alimentado todos os dias nos últimos quatro anos. O que a gente precisa alimentar a partir de agora são as pessoas. Com comida, com emprego, com moradia, com dignidade. Para que possam viver com alegria, não com ódio no coração, porque isso nunca foi a marca do nosso povo".
Muitas pessoas têm medo de ocupações do MST, e as associam a invasão de propriedade. Explique de forma clara a atuação do movimento?
O que o MST faz é ocupar latifúndios para que o governo desaproprie aquelas terras, ou seja, pague ao proprietário por elas, e ceda aos trabalhadores para produzir comida de verdade, para matar a própria fome e a do povo. Mas a terra continua de posse do governo, não do trabalhador. Mas não é terra como a do Lemann, em Membeca, perto de Secretário, ou do Neymar, em Mangaratiba. São terras do tamanho de mais de mil Maracanãs e que nada produzem. Ou que tenham trabalho escravo. Ou que destruam o meio ambiente. A lei brasileira diz que terras nestas condições devem ser destinadas à reforma agrária. O que o MST faz é ocupar estas terras para que o governo cumpra a lei, ou seja, faça a reforma agrária (risos). Invasão é o que faz uma parte da turma que diz que agro é pop, que toma terra indígena e quilombola à base da força, tchau e bença. Não pagam pela terra, destroem o meio ambiente e muitas vezes escravizam trabalhadores.
Como a alimentação saudável pode contribuir para o combate à fome?
Não só no combate à fome. O Brasil demorou, mas aprendeu, com alto custo para a saúde pública, inclusive, que o consumo em excesso de alimentos ultraprocessados provoca câncer, diabetes, hipertensão, uma infinidade de doenças que só fomos descobrir com o tempo. Existem milhares de casos de pessoas com obesidade e desnutrição ao mesmo tempo devido a uma alimentação inadequada. O objetivo maior do nosso mandato é justamente esse: matar a fome das pessoas, não as pessoas. E para isso, a única maneira é com comida de verdade, sem veneno.
A senhora foi vítima de violência política em Friburgo. Quais os motivos da revolta dos agressores?
O que aconteceu é um pequeno exemplo do que houve dia 8 de janeiro em Brasília. Um ataque à democracia, ao direito de uma deputada de exercer o mandato. Fui lá justamente para falar com o pequeno produtor das políticas públicas do governo Lula para este setor fundamental para o desenvolvimento do país que é a agricultura familiar. O governo federal vai comprar, por exemplo, toda a produção de alimentos de duas cooperativas da cidade. Tentaram nos intimidar espalhando mentiras para a população. Mas a gente ainda vai voltar muito a Friburgo e a todo o estado para levar investimento e ouvir as demandas da população. Para isso que eu fui eleita. E até meus adversários na Alerj estiveram solidários a nós, a começar pelo presidente Rodrigo Bacellar.
Como frear o radicalismo idelógico no Rio de Janeiro?
Responsabilizando judicialmente os criminosos. É um desafio de toda a sociedade e a imprensa vai ter um papel primordial nisso. O ódio foi alimentado todos os dias nos últimos quatro anos. O que a gente precisa alimentar a partir de agora são as pessoas. Com comida, com emprego, com moradia, com dignidade. Para que possam viver com alegria, não com ódio no coração, porque isso nunca foi a marca do nosso povo.
A Usina Cambahyba, em Campo do Goitacazes, foi desapropriada e o governo a destinou à reforma agrária. O que será feito agora?
A Cambahyba é um excelente exemplo. Uma conquista histórica do MST aqui no Rio. São mais de 20 anos ocupando aquele espaço para mostrar o absurdo que é. Uma terra do tamanho de 1.300 Maracanãs sem ninguém, e com mais de 3 milhões de pessoas morrendo de fome só no Rio. Agora teremos 185 famílias plantando e colhendo feijão, abóbora, banana, milho, tomate e hortaliças. Tudo sem veneno, no Assentamento Cícero Guedes, no que a gente chama de reforma agrária popular, desenvolvendo a agricultura próxima à cidade, o que facilita a comercialização. E teremos o compromisso das universidades, que vão nos ajudar a construir uma nova matriz tecnológica de produção como a agroecologia. Como pode alguém ser contra isso?
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