Publicado 29/04/2024 05:00 | Atualizado 29/04/2024 12:00
Entre os pré-candidatos de direita à Prefeitura do Rio está o deputado federal Otoni de Paula, presidente do diretório municipal do MDB-Rio. Pastor evangélico, ele está em seu segundo mandato consecutivo na Câmara dos Deputados. Em entrevista à coluna, suas respostas se voltaram à crítica ao atual mandatário da cidade, Eduardo Paes. "A verdade é que o Rio está no vermelho. Não é à toa que o Eduardo Paes já pediu mais R$ 950 milhões emprestados esse ano. Nessa terceira gestão, já foram R$ 5 bilhões em empréstimos", disse.
PublicidadeSIDNEY: O senhor é pré-candidato a prefeito do Rio?
OTONI DE PAULA: Sim, meu nome está à disposição do partido (MDB) e do povo do Rio. O Eduardo Paes já está no poder há doze anos. Pergunte a qualquer carioca: você se sente seguro na cidade? Aprova o serviço de Saúde? Tem creche para todas as crianças? Tem ar-condicionado nas salas de aula? E nos ônibus? Claro que não! Para amenizar a imagem, ele está gastando uma fortuna em marketing e dizendo que refez o BRT. É, ele fez, mas dava para ter feito três. A verdade é que o Rio está no vermelho. Não é à toa que o Eduardo Paes já pediu mais R$ 950 milhões emprestados esse ano. Nessa terceira gestão, já foram R$ 5 bilhões em empréstimos. E não fica por aí, esses dias mesmo saiu na imprensa que a cidade fechou 2023 com um déficit de R$ 1,4 bilhão. Todo mundo sabe que esse ano o orçamento não vai fechar novamente. Mas ele vai maquiando os números. Esse método é muito irresponsável. Veja que, em 2016, ele entregou a prefeitura com quase R$ 6 bilhões em dívidas. Isso precisa parar. Nesse contexto que surgiu a nossa candidatura.
O ex-presidente Bolsonaro escolheu Alexandre Ramagem como seu candidato para enfrentar Eduardo Paes. Ele fez certo?
Não há nada mais natural do que Bolsonaro apoiar um nome do seu partido. Respeito a escolha dele e acrescento que temos um objetivo comum. A gente sabe que o principal problema do Rio de Janeiro é a violência. E o atual prefeito diz que isso não é responsabilidade dele. Mas tem nas mãos o maior efetivo de guardas municipais do Brasil. Infelizmente, ele só usa para bater em camelôs, multar motoristas e tomar conta de estátua em espaços públicos. A discussão sobre o treinamento e o armamento da Guarda precisa avançar. O maior patrimônio de uma cidade é o seu povo, a missão principal é proteger os cariocas. A iluminação pública, por exemplo, a cidade virou um verdadeiro pisca-pisca. Isso não é responsabilidade do prefeito? Nesse sentido, o Ramagem tem força. É um delegado experiente, meu colega na Câmara Federal.
A rede municipal de ensino do Rio registra déficit de 6 mil professores. O que é preciso para melhorar o ensino público no Rio?
Trocar o prefeito. Não temos problema de orçamento. Temos é problema de gestão. Foram investidos ano passado na rede municipal de educação R$ 8,8 bilhões e esse ano temos uma previsão orçamentária de R$ 9,4 bilhões. Mesmo assim falta professor, não temos uma política clara de cargos e salários para nossos educadores, o direito do aluno com necessidades educativas especiais não é respeitado. Segundo o relatório anual de educação promovido pela Câmara Municipal, 76% das escolas municipais do Rio precisam de reparos urgentes. Ainda, 62% das escolas do município não apresentam quadras poliesportivas em condições adequadas e 35% nem quadra tem. E por último, Eduardo cortou da previsão orçamentária R$ 25 milhões que seriam para climatizar nossas salas de aula, o que é uma questão de saúde pública, já que algumas passam da sensação térmica de 40 graus. Tiraram dinheiro da escola pública, mas deram R$ 10 milhões para o show da Madonna. É muito claro que existe uma inversão de prioridade por aqui.
A segurança pública é um dos pontos mais sensíveis no estado do Rio, com atuação do tráfico e de milícias. O que fazer para enfrentar isso?
Sejamos sinceros: o problema do Rio é que parte da política anda de braços dados com o crime organizado. Para alguns políticos, é mais barato e garantido os votos de áreas onde a população é refém. É o tal do “voto do medo”. Como disse anteriormente, não dá mais para jogar toda a responsabilidade no Estado. Por exemplo, por que a lei 13.675/2018 que coloca a Guarda Municipal como agente de segurança pública não foi aplicada? Por que o decreto 10.822, que criou o Plano Nacional de Segurança Pública não foi implementado? Ele prevê a criação do Plano Municipal de Segurança Pública. Mas, cadê? Deixo claro que temos uma Guarda muito competente. O problema é que o líder utiliza mal a tropa. Se eu tiver a honra de ser o prefeito vamos criar a Academia de Segurança Municipal, com curso de requalificação, treinamento técnico, operacional e psicológico. Vamos gradualmente armar a nossa GM. Repito: o maior patrimônio do Rio são os cariocas.
Segundo a pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, a cobertura no Estado do Rio alcança apenas 57% da população. Por isso os hospitais da capital carioca acabam tendo uma demanda muito maior do que o previsto pois atende outros municípios. Como resolver esse problema?
Esse é um problema crônico. Faz tempo que a saúde da capital está na emergência. Mas nas cidades vizinhas é pior: tá na UTI. E como os hospitais ficam de portas abertas, não tem como negar pacientes. A saída é uma conversa franca entre os governos (federal, estadual e municipal) para redefinir as responsabilidades. Agora, por exemplo, surgiu a proposta de municipalizar a gestão de algumas unidades federais. Essa ideia ainda não foi debatida, está para acontecer uma audiência pública na Câmara dos Vereadores. Estou observando esse movimento. O que não pode acontecer é o famoso “deixa que eu deixo”. Lembram o problema que deu quando o município assumiu alguns hospitais estaduais? Gerou uma crise gigante no atendimento. E, como sempre, quem mais sofre é o pobre.
A frota de ônibus municipais da capital tem, em média, 7 anos. Houve um acordo em 2022 entre Prefeitura, Promotoria e consórcios para pagamento de subsídios para melhorar a qualidade, mas até agora não foi feito. Como agilizar isso?
Isso é um vespeiro danado. Mas quem fez o contrato com as empresas de ônibus foi o atual prefeito. Fez e não respeitou. Por isso virou essa bagunça. No campo das soluções, parece claro que o município precisa investir. Hoje você tem “tarifa zero” em algumas cidades do Brasil. Claro que isso exige um estudo sério para a gente tomar decisão. Estamos muito atrasados, até hoje ninguém sabe ao certo quanto custa o sistema e quanto lucram os empresários. Lembram da tal caixa-preta? Parte daí! Precisamos colocar os números na mesa e chamar os empresários para um novo acordo, porque esse contrato que está vigente já mostrou que não funciona.
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