Publicado 12/08/2024 05:00
Presidente da Comissão de Desportos da Marinha e comandante do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), o almirante Cláudio Leite conversou com a coluna sobre o Programa Olímpico da Marinha, que prepara atletas de alto rendimento para competições internacionais. "Nas últimas três Olimpíadas (2020, 2016 e 2012), das 57 medalhas conquistadas pelo Brasil, 26 foram ganhas por atletas das Forças Armadas brasileiras, sendo 14 delas graças ao desempenho dos atletas da Marinha", ressaltou. Leite falou ainda sobre o Programa Forças no Esporte, mantido pela Marinha. "É destinado a crianças e adolescentes, de ambos os sexos, dos seis aos 18 anos, em situação de vulnerabilidade social. Ele tem por finalidade promover a valorização da pessoa, reduzir riscos sociais e fortalecer a cidadania, além de fomentar a inclusão e a integração social dos beneficiados".
Publicidade
Muita gente desconhece o Programa Olímpico da Marinha (PROLIM). Como ele funciona no Rio de Janeiro?
Criado para apoiar atletas de diversas modalidades esportivas, o PROLIM oferece uma infraestrutura de treinamento de ponta e um suporte multidisciplinar. O programa visa promover o desenvolvimento do esporte nacional, contribuindo para a transformação do Brasil em uma potência olímpica. Desde a sua criação, o programa tem sido uma força motriz por trás de muitos dos sucessos olímpicos do Brasil. A preparação intensiva e o suporte oferecido são fatores-chave que alimentam a esperança de novas conquistas e medalhas para o Brasil. Desde 2008, já foram incorporados à Marinha do Brasil, por meio do esporte, cerca de 200 atletas, contemplando 23 modalidades (atletismo, basquete, beach soccer, boxe, futebol feminino, golfe, judô, levantamento de peso olímpico, lutas associadas, maratona aquática, nado sincronizado, natação, orientação, pentatlo militar, pentatlo moderno, pentatlo naval, remo, saltos ornamentais, taekwondo, tiro esportivo, triatlo, vela e vôlei de praia). Para fazer parte do PROLIM, os atletas precisam se candidatar a uma vaga. Essa candidatura ocorre de acordo com o edital publicado pela Marinha. Já o processo de seleção leva em conta os resultados dos atletas em competições nacionais e internacionais. Se aprovados, os atletas precisam passar por um curso de formação, com duração de 45 dias. Após a conclusão do curso de formação, os atletas voltam às suas rotinas de treinamentos, seja na Marinha ou em seus clubes. Quem ingressa no PROLIM tem direito a todos os benefícios da carreira militar: soldo, 13º salário, férias e assistência médica, incluindo nutricionista e fisioterapeuta, além de poder usar as instalações esportivas da Força. No momento, o Programa Olímpico da Marinha (PROLIM) está contribuindo para os Jogos Olímpicos de Paris com 59 atletas, número bastante expressivo, uma vez que representa 21,6% do total de atletas brasileiros que participam da competição. Desses 59 atletas, 43 integram atualmente o PROLIM e 16 fizeram parte do programa pelo tempo limite de 8 anos. Atualmente, o total de atletas militares de alto rendimento que integram o PROLIM é de 235. Outros 481 já integraram o Programa, totalizando uma contribuição de 716 atletas de alto rendimento já apoiados pela Marinha, na busca da transformação do Brasil em potência olímpica. Nas últimas três Olimpíadas (2020, 2016 e 2012), das 57 medalhas conquistadas pelo Brasil, 26 foram ganhas por atletas das Forças Armadas brasileiras, sendo 14 delas graças ao desempenho dos atletas da Marinha. Isso quer dizer que 24,5% das medalhas obtidas pelo país, nos últimos três Jogos Olímpicos, foram possíveis devido à performance de atletas do PROLIM. Assim, nossas expectativas para os Jogos Olímpicos de Paris são as melhores possíveis.
O Projeto Paralímpico da Marinha (PARAPROLIM) é voltado apenas para militares ou aberto para toda a sociedade?
O Projeto Paralímpico da Marinha (PARAPROLIM) é aberto para toda a sociedade. Para se candidatar a uma vaga, é necessário ter entre 8 e 40 anos; possuir laudo médico atestando deficiência visual, intelectual ou física; apresentar avaliação médica para realização de práticas esportivas e agendar uma visita para realizar a avaliação. Atualmente, o PARAPROLIM conta com 180 pessoas com deficiência física de comunidades do Rio de Janeiro. Todos têm a oportunidade de desenvolver habilidades esportivas, visando a transformação em atletas paralímpicos. O apoio da Marinha ao desporto paralímpico teve início em 2015, quando o CEFAN autorizou que uma associação voltada para o atendimento de pessoas com deficiência (PcD) utilizasse a pista de atletismo para a condução de atividades desportivas com PcD. Na mesma ocasião, foi expedida portaria do Ministério da Defesa criando o Projeto João do Pulo, que tinha a finalidade de proporcionar aos militares com deficiências das três Forças a reinserção social por meio do paradesporto. Com o aumento na quantidade de PcD frequentando o CEFAN, mais duas instalações desportivas passaram a ser utilizadas: o parque aquático (natação) e a quadra de tênis (vôlei sentado). Assim, enquanto o efetivo de atletas crescia progressivamente, o CEFAN era visitado por diversas autoridades civis e militares, além de alguns empresários.
Qual a diferença do Programa Forças no Esporte (PROFESP) do CEFAN para os demais mantidos pela Marinha?
O PROFESP é destinado a crianças e adolescentes, de ambos os sexos, dos seis aos 18 anos, em situação de vulnerabilidade social. Ele tem por finalidade promover a valorização da pessoa, reduzir riscos sociais e fortalecer a cidadania, além de fomentar a inclusão e a integração social dos beneficiados. Tudo através da prática de atividades esportivas e físicas, realizadas no contraturno escolar (matutino e vespertino), nas organizações militares, com o fornecimento de duas refeições diárias. O programa executado no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN) não apresenta diferenças significativas em relação aos demais núcleos mantidos pela Marinha do Brasil (MB). Atualmente, a MB recebe cerca de 10 mil participantes do PROPFESP, em diversas organizações militares espalhadas por todo o Brasil. O CEFAN, por exemplo, localizado no Rio de Janeiro, atende 830 alunos, sendo o quartel com o maior número de crianças e jovens do país. Nesse caso, o programa acolhe alunos de diversas comunidades carentes da Avenida Brasil, que são beneficiadas pelo convênio com a Arquidiocese do Rio de Janeiro (Pastoral do Menor). Além disso, pela grande capilaridade das Forças Armadas, o programa está presente em 139 localidades de todos os estados e Distrito Federal, inclusive no Arquipélago de Fernando de Noronha e em comunidades indígenas no interior da Amazônia. No total, são atendidas cerca de 30 mil crianças nos quartéis da Marinha, do Exército e da Força Aérea. As atividades oferecidas pelo PROFESP no CEFAN são: natação, atletismo, futsal, futebol de campo, jiu-jítsu, boxe, voleibol, judô, taekwondo, karatê, remo escaler, remo costal, canoa havaiana, futevôlei, pentatlo moderno, esgrima, corrida de orientação e golfe; atividades culturais; cursos profissionalizantes e preparatório para concursos públicos; reforço escolar; e acompanhamento psicológico. Por fim, o CEFAN, por ser um Centro de Educação Física, oferece uma estrutura que permite a descoberta de possíveis talentos esportivos entre as crianças, como aconteceu com a atleta Laura Amaro, do Levantamento de Peso Olímpico, que chegou à Marinha com 13 anos e tornou-se uma competidora de alto rendimento, a ponto de angariar o vice-campeonato mundial de levantamento de peso em 2021, a 3ª colocação no Pan de Santiago de 2023 e ser um dos talentos do Time Brasil nas Olimpíadas de Paris.
O treinamento físico militar desenvolvido pela Marinha do Brasil tem mais semelhanças ou diferenças em comparação a outras iniciativas de outras forças militares?
O Treinamento Físico Militar (TFM) desenvolvido pela Marinha do Brasil tem mais semelhanças em comparação com outras iniciativas de forças militares. Em todas as Forças Armadas, o objetivo do TFM é condicionar fisicamente os militares para situações relacionadas às atividades militares. A condição física é essencial para a manutenção da saúde, eficiência no desempenho profissional, tomada de decisão diante de imprevistos e segurança da própria vida, todas essas características dependem direta ou indiretamente das qualidades físicas e do espírito de corpo proporcionados pela prática do TFM.
O cidadão sempre pergunta o custo e o benefício para o país de se manter programas de alto rendimento. Qual é a contribuição dos atletas da Marinha para o desempenho do Brasil nas Olimpíadas?
A participação dos atletas do Programa Olímpico da Marinha (PROLIM) tem contribuído decisivamente para o desempenho do Time Brasil. Nessas Olimpíadas, por exemplo, os judocas Willian Lima e Larissa Pimenta, que foram medalhas de prata e bronze, são oriundos do PROLIM. E olha que eles representam apenas dois dos 59 atletas brasileiros (21,5% do Time Brasil) que pertencem ou já pertenceram a esse programa da Marinha. Logo, a expectativa é de muito mais medalhas ao longo da competição. Nas últimas três Olimpíadas (2012, 2016 e 2020), o país acumulou 57 medalhas, sendo 26 delas conquistadas por atletas militares e 14 dessas tendo como origem o PROLIM. No total, 45% das medalhas do Brasil nessas últimas três competições foram conquistadas por atletas militares. Em 2020, os atletas da Marinha subiram ao pódio seis vezes. Na ocasião, com os medalhistas de ouro Hebert Conceição (boxe), Ana Marcela (maratona aquática) e Kahena Kunze (vela); com a prata da Beatriz Ferreira (boxe) e com os bronzes do Alisson dos Santos (atletismo) e do Daniel Cargnin (judô). Em 2016, os atletas do PROLIM ganharam nove medalhas, com destaque para os ouros dos Sargentos Rafaela Silva (judô), Robson Conceição (boxe), Martine Grael e KahenaKunze (vela), além do Alison e do Bruno Schmidt (vôlei de praia). A Ágatha e Bárbara Seixas (vôlei de praia) levaram a prata e a Mayra Aguiar (judô) o bronze. Já em 2012, o PROLIM contribuiu para o Time Brasil com as medalhas de ouro e bronze, respectivamente, das atletas Sarah Menezes e Mayra Aguiar do judô.
Leia mais