Publicado 09/09/2024 05:00
O jornalista Maurício Menezes, de 74 anos, 54 dedicados ao ofício de informar, já passou por várias emissoras de rádio e TV, acompanhando os fatos mais relevantes do país, com o diferencial de nunca se separar do seu constante bom humor. Em relação às campanhas eleitorais desse ano, ele aponta o que é mais divertido. "Não há nada mais engraçado do que ver os candidatos a prefeito e vereador prometendo acabar com a violência. Governos já tentaram o exército e não conseguiram. Como prefeitos vão conseguir isso com a Guarda Municipal? Os candidatos prometendo acabar com o comunismo! Nem na Rússia ou na China existe mais comunismo".
PublicidadeMaurício Menezes, é mais fácil rir dos erros dos jornalistas ou dos políticos brasileiros?
É sempre mais fácil rir dos erros dos jornalistas. Porque nós erramos em função da pressa do nosso trabalho. Eu escrevi um livro (O Plantão de Notícias) só com os erros da imprensa. Cada um mais curioso e engraçado que o outro. Todos nós erramos. Desde a menor rádio do interior do Brasil até a BBC de Londres. Numa eleição para o governo do Rio Grande do Norte, concorriam duas mulheres e uma acusou a outra de já ter trocado cinco vezes de partido. A repórter entendeu “trocado cinco vezes de marido”. E foi a manchete do jornal…
Com a chegada dos influenciadores, o que muda no ofício da informação?
Influenciador é das coisas mais chatas do mundo. Eu não sei bem o que é isso nem a utilidade. Nem quem toma a decisão de contratar um influenciador e nem como a pessoa decide que vai ser isso. Eu, em geral, percebo que uma pessoa é influenciadora pela quantidade de botox na cara… Já me apresentaram como influenciador e eu levei um susto!
Você atuou durante a ditadura, na transição democrática, e ainda hoje. A democracia brasileira é sólida?
Eu levei alguns anos para descobrir o que era trabalhar na democracia. Vivi os quatro generais da ditadura. Era chefe de reportagem da Rádio Globo quando um censor ligou e me disse: “a partir de hoje não tem mais censura, a responsabilidade é de vocês…”. Custei a entender a mensagem, achava que a responsabilidade sempre era minha. Acho que depois daquelas depredações em Brasília, das prisões dos depredadores, da posição dos militares brasileiros, acho que a democracia está muito sólida. Uma tristeza gente pedindo o AI-5, a derrubada do Governo, o fechamento do Congresso… Aquelas pessoas não sabem o que é ditadura. Eu pedia a elas exemplo de países felizes com a ditadura e em geral era xingado. Os melhores países são democracias.
A nova geração pratica “cancelamentos” aos que fazem humor político incorreto. O que pensa disso?
É muito difícil fazer humor com medo de dizer que um magro é magro… Mas o humor sadio, ou correto, é sempre o melhor e é possível. O ideal é sempre aquele que não agride ou humilha. Mas as vezes pode escapar alguma piada errada. Os judeus e os ingleses adoram fazer piadas sobre judeus e ingleses. Nos Estados Unidos, um humorista ficou todo queimado na guerra do Iraque. Voltou todo deformado e, em um primeiro show, dois anos depois de receber alta, disse que queria ser cremado e que iria ter um abatimento de 50% da funerária, porque metade do serviço já tinha sido feito. Uma piada maravilhosa! Mas quantos veteranos americanos devem ter ficado revoltados com essa história?
O Rio de Janeiro ainda dita a pauta cultural do Brasil?
São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba têm uma noite maravilhosa e teatros espetaculares, mas nunca vão superar o Rio. O Rio será sempre a capital do humor, do samba, da praia, da bossa nova, do pagode e dos maiores humoristas. De vez em quando, vamos a São Paulo ganhar algum dinheiro.
Onde o seu show pode ser assistido?
Não estou em nenhuma temporada, mas não estou parado. Tenho feito apresentações isoladas do show que montei sobre os “causos” das rádios, dos jornais e das TVs. Mas, em breve, farei uma temporada.
Qual história mais engraçada você presenciou praticada por um político?
Nossa! São muitas! Eu adoro ver programas eleitorais no rádio e na TV. Mas os políticos não têm senso de humor, embora os programas sejam muito engraçados tentando mostrar seriedade. Na atual campanha, não há nada mais engraçado do que ver os candidatos a prefeito e vereador prometendo acabar com a violência. Governos já tentaram o exército e não conseguiram. Como prefeitos vão conseguir isso com a Guarda Municipal? Os candidatos prometendo acabar com o comunismo! Nem na Rússia ou na China existe mais comunismo. Depois que os Stones tocaram em Cuba e todo mundo cantou Satisfaction, acabou o comunismo na ilha. Está faltando humor no Brasil e nenhum país vive sem sorrir. Não vamos eleger santos, vamos eleger governantes. O Brasil precisa de campanhas para que as pessoas sorriam, aprendam o que é democracia, e larguem o celular. E se espelhem em Tancredo Neves, o político mais bem humorado que conheci. Eleito presidente da República, foi procurado por um amigo que disse estar incomodado diante de rumores de que seria escolhido ministro da Educação. “Vamos combinar o seguinte: o senhor confirme que eu o convidei, mas o senhor decidiu não aceitar”, respondeu Tancredo.
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