Publicado 22/08/2023 14:30 | Atualizado 22/08/2023 14:41
No cenário do telejornalismo brasileiro, existe uma lacuna (até hoje não proporcionalmente ocupada) que clama por mudança, por um sopro de diversidade e uma nova perspectiva. Mas o que conseguiu-se avançar até hoje, deve-se muito a sua obstinação. Foi-se, não à toa, no Dia de Yemanjá. Mas não nos deixa um vazio. Pelo contrário, seu legado se faz presente por representatividade em vários ângulos.
Mas não foi só na comunicação, inspirou profissionais de diversas áreas, que encontraram em seu exemplo o empoderamento para quebrar barreiras e redefinir seus destinos. Para o público em geral, a presença de Glória não fica somente na memória. Em São Paulo ela batiza um prêmio para profissionais que atuam contra o racismo. Já no Rio de Janeiro, vira sinônimo de contemplação emprestando seu nome para o antigo Parque das Ruínas.
Representatividade
Nesse palco onde a presença preta ainda é rarefeita, uma mulher avançou, abrindo caminhos, desafiando estereótipos e se tornando um farol de inclusão, visibilidade e luta contra o preconceito. Isso em numa época e em um cenário que transmitiam ao público corpos majoritariamente brancos. Ela se tornou um ícone de superação, não apenas para o jornalismo, mas para todas as mulheres negras que precisavam de um estímulo para forçarem espaços nas mais diversas profissões. Seus feitos transcenderam as telas e inspiraram gerações de jovens acreditando que merecem visibilidade, merecem ser ouvidas e merecem redefinir os limites de suas próprias ambições.
Ela desafiou as normas pré-estabelecidas, questionou o status quo e provou que o potencial de uma pessoa não pode ser medido pela cor da pele, mas pelo brilho em seus olhos e determinação de seus propósitos. Glória Maria também moldou o futuro, desafiando a marginalização e iluminando um caminho para uma sociedade mais diversa, justa e verdadeiramente igualitária.
Com o impulso de sua ousadia, vimos um crescente número de jornalistas que furaram o bloqueio da ditadura étnica, como Flávia Oliveira (Globonews), Maju Coutinho, Dulcinéia Novaes e Zileide Silva (TV Globo), Luciana Barreto (CNN), Iris Agatha, Joyce Ribeiro, Louise Freire, Luciana Camargo, Adriana Couto, Maria Amélia Rocha...
A grandeza do legado de Glória Maria é indiscutível, mas justiça seja feita, ela não foi necessariamente a primeira. A história não pode injustamente apagar a imagem de Ana Davies que desbravou a TV ainda em preto e branco.
Dando Glória a outras profissionais
O Observatório Nacional de Violência contra Jornalistas, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, instituiu o Prêmio Glória Maria, que visa reconhecer pessoas, entidades, organizações e empresas de comunicação que se destacarem pela atuação em defesa dos direitos da população negra e resgate histórico e cultural das contribuições do povo negro. A ideia da criação do Prêmio Glória Maria foi lançada pela deputada Monica Seixas do Movimento Pretas do PSOL no 1º Encontro de Veículos e Jornalistas Negros de São Paulo que ocorreu na simbólica data de 13 de maio dia da promulgação da Lei Áurea.
Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), embora a população brasileira seja formada majoritariamente por pessoas negras (56,20%), somente 20,10% dos profissionais de imprensa se autodeclararam pretos ou pardos. Além disso, a Pesquisa Racial da Imprensa Brasileira aponta que 98% desses profissionais afirmam que o desenvolvimento da carreira profissional é mais difícil do que a dos profissionais brancos.
Parque das Ruínas
Nascida em Vila Isabel - bairro boêmio imortalizado por Noel Rosa e Martinho da Vila, nada mais justo que rebatizasse um tradicional ponto de contemplação das várias belezas do Rio de Janeiro. O Parque Glória Maria fica localizado no histórico bairro de Santa Teresa. De lá tem-se visão panorâmica do Centro e da Baía de Guanabara, além de contar com uma intensa programação cultural.
O local possui galerias, teatro, pátios, parquinho infantil e mirantes. Foi justamente neste belo cenário que a jornalista Glória Maria gravou o programa “Retrospectiva 2011” que substituiu excepcionalmente o jornalístico “Globo Repórter” também comandado por ela junto com Sérgio Chapelin.
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