Secas mais constantes e intensas acompanhadas de morte de animais aquáticos ameaçam a Amazôniafoto de divulgação Fundação Boticário
Publicado 17/03/2024 13:12
Ondas de calor cada vez mais presentes, com a sensação térmica ultrapassando os 60 graus agora no Rio de Janeiro! A turística Cartagena das Índias, na Colômbia, enfrenta o avanço do mar, que desenterra cadáveres e ameaça submergir seu rico sítio histórico. Cinco países insulares caribenhos - Tuvalu, Maldivas, Marshall, Nauru e Kiribati - estão destinados a simplesmente desaparecerem do mapa devido à elevação das águas do oceano como consequência do degelo, um dos efeitos diretos do aquecimento global...
As inúmeras tragédias anunciadas estão cada vez mais próximas.
Amazônia Seca
Durante a última e pior seca registrada, foram descobertas dunas formadas em canais do Rio Amazonas, expondo vestígios de civilizações antigas que nunca tinham sido vistas na história moderna. Isso sem mencionar a mortalidade de golfinhos de água doce, peixes e outros animais, colocando também em risco à subsistência de comunidades ribeirinhas.
"A conservação da floresta e a redução das emissões de gases de efeito estufa são passos fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas na região", defende Fabiana Prado, gerente do LIRA– Legado Integrado da Região Amazônica e do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.
Um recente artigo publicado na revista Science, intitulado "Um Rio em Fluxo", alerta para os efeitos  extremos  na região, apontando para um futuro comprometedor para a maior floresta tropical do mundo.

Outro estudo, este denominado "Transições Críticas no Sistema da Floresta Amazônica", adverte que o bioma está à beira de um colapso em larga escala, causado pelo aquecimento global, secas extremas, desmatamentos e queimadas. Os cientistas do Instituto Nature estimam que até 2050, de 10% a 47% da floresta estarão gravemente comprometidos por esses distúrbios.
Dia da Conscientização sobre Mudanças Climáticas
O mês de março é emblemático por abrigar o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, temática cada vez mais real e próxima de nosso cotidiano das populações. Afinal, oito em cada 10 brasileiros demonstram preocupação, e sete em cada dez pessoas sentem os aumentos da frequência e intensidade dos eventos. Diante disso, é preciso que a sociedade transforme essa percepção em ações práticas. 
"Como estamos em um ano eleitoral, vale pesquisar desde já o que os candidatos a prefeito e vereador podem fazer para tornar nossas cidades mais resilientes às mudanças climáticas. Todos os municípios precisam criar estratégias de adaptação às mudanças do clima, evitando agir somente após desastres naturais", aconselha Cecilia Polacow Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professora/pesquisadora da PUC-Rio.
A relação dos brasileiros com as mudanças climáticas" traz revelações interessantes. As populações de Recife (94%), São Paulo (88%) e Rio de Janeiro (79%) estão entre as mais sensibilizadas. Dividindo os dados por regiões, a Centro-Oeste  é a que mostra-se mais atenta (84%), seguida pelo Nordeste e Sudeste (80%). O curioso é que o índice é menor justamente na área mais vulnerável, que é a Norte, com 78%. Por sua vez, a população dessa mesma área foi a que mais externou percepção sobre o aumento de tempestades, fortes vendavais e longos períodos sem chuva seguida pela Sul (73%), Sudeste (72%), Centro-Oeste (71%) e Nordeste (66%).
Rio 60 Graus
Com relação às constantes ondas de calor que estão castigando parte do país, 67% dos entrevistados acreditam que elas estão se intensificando. O índice de percepção para outros efeitos foram: chuvas (36%), ventanias (34%), enchentes e alagamentos (32%), tempestades (24%) e deslizamentos e desmoronamentos (14%).Para nove em cada 10 pessoas abordadas, as mudanças climáticas têm alto grau de impacto sobre os animais e a biodiversidade, bem como sobre o futuro das próximas gerações.
Para 86% das pessoas, as mudanças dos padrões do clima devem impactar na economia do país e, para 81%, vão influenciar diretamente no cotidiano das cidades. A pesquisa revela também que 72% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas podem gerar impactos diretos em suas vidas, relatando diversas situações que afetam seu cotidiano: aumento no preço dos alimentos (8,8 em uma escala de 0 a 10); seguido por desmatamento e ondas de calor (8,7); extinção das espécies (8,5); e secas (8,4).
"Os resultados evidenciam que as pessoas estão muito sensíveis ao tema e percebem os diferentes impactos das mudanças do clima em nosso dia a dia. O maior desafio agora é transformar essa preocupação em atitudes que possam trazer soluções. É preciso aproveitar a sensibilidade da população para avançar em ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, também, para adaptação das cidades às mudanças inevitáveis que estão por vir", complementa CeciliaHerzog.
Mudanças de Hábitos
O lado positivo revelado pela sondagem é que 87% estão dispostos ou muito propensos a alterarem seus hábitos em benefício do clima. Entre as a rever suas ações cotidianas: reciclar e descartar o lixo corretamente (24%), plantar árvores (15%), evitar o uso de plástico (8%) e usar meios de transporte menos poluentes (8%).
"Além das atitudes individuais, que têm sua importância, temos o grande desafio de mobilizar esforços para a conservação e restauração dos ecossistemas naturais, fortalecendo as Unidades de Conservação do país. Devemos entender que a natureza conservada é a única solução estrutural para os nossos problemas", destaca Malu Nunes da Fundação Boticário.
Brasil: Sétimo maior emissor de CO2
De acordo com relatório do Observatório do Clima, as mudanças de uso da terra – o desmatamento responderam por 49% das emissões brutas de gases de efeito estufa do país em 2021.  Em seguida, vêm a agropecuária, com 25%, energia e processos industriais, com 22%, e resíduos, com 4%. O documento aponta que o Brasil é o sétimo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, sendo responsável por 3% do total global. O ranking é liderado pela China, que emite 25% do total de gases nocivos, seguida pelos EUA (12%), Índia (7%), União Europeia (6%), Rússia (4%) e Indonésia (4%).
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