A atriz Taís Araújo e ator anglo-brasileiro Alfred Enoch interpretam os personagens principais do filmeDivulgação/Internet
Publicado 20/04/2022 19:19 | Atualizado 20/04/2022 19:27
"Quem sabe faz a hora não espera acontecer", já dizia o compositor Geraldo Vandré. Os militantes do Movimento Negro Perifa Zumbi, as Mulheres Olga Benário e do Movimento de Mulheres da Região dos Lagos entenderam bem o recado do poeta e foram à luta, ou melhor, foram até o Cine Araújo, que fica no único shopping de Cabo Frio, nesta terça (19), cobrar a exibição do filme “Medida Provisória”. O longa, que já chamou a atenção do público antes mesmo de ser assistido, denuncia o racismo estrutural no Brasil. No cinema, os movimentos conseguiram o compromisso de exibi-lo, com estreia para esta quinta-feira (21).

Gravado em 2019 e muito premiado em festivais nacionais e internacionais, a data de estreia nacional foi o último dia 14 de abril. Mas esse lançamento não contemplou a Região dos Lagos. Então, os movimentos sociais pressionaram e garantiram que os moradores das cidades da Costa do Sol tivessem a oportunidade de conferir este filme tão aguardado, que foi dirigido por Lázaro Ramos e conta com grande elenco negro como Taís Araújo, Seu Jorge, Alfred Enoch, Emicida e Aldri Anunciação. Além de Adriana Esteves e Renata Sorrah entre outros.
O cinema de Cabo Frio, Cine Araújo, não estava no calendário de estreia do filme  - Anna Clara Laurindo
O cinema de Cabo Frio, Cine Araújo, não estava no calendário de estreia do filme Anna Clara Laurindo
O longa é apontado como um marco para o Movimento Negro de todo país. Muitos cabo-frienses reclamaram nas redes sociais, principalmente no twitter e outras páginas do Cine Araújo, cobrando uma explicação: “ Quando soube que não ia estrear em Cabo Frio, fiquei realmente indignada e percebi que muitos conhecidos compartilhavam desse sentimento. Percebi, também, que se eu quisesse realmente assistir teria que me deslocar para Niterói, o lugar mais perto com o filme no catálogo, o que era totalmente inviável”, comentou Isabelle Nogueira.

Imagem publicada nas páginas dos movimentos Redes Sociais

“ROLEZINHO” NO CINEMA
A juventude negra resolveu aproveitar o ensejo para organizar um “rolezinho” no shopping do município na quinta-feira (20), antes da exibição. O objetivo é chamar a população da região e ocupar o espaço, que hospeda as únicas salas de cinema da cidade para assistirem juntos ao filme. No Instagram, para divulgar o evento, as organizadoras escreveram: “Apesar do Cine Araujo ter disponibilizado apenas dois horários de salas de cinema, nas menores salas, sem ao menos divulgar em cartaz que o filme será exibido, nesta quinta-feira (21) iremos lotar as duas sessões que acontecerão as 15h15 e 22h. Vamos valorizar o cinema nacional e a direção de pessoas negras.”
O questão evidente é que Lázaro, Taís, Seu Jorge e cia ficariam bem orgulhosos em saber dessa mobilização toda dos jovens negros da Região dos Lagos para garantir o acesso à arte, mais especialmente ao filme que vem provocando uma importante reflexão sobre o racismo no Brasil e trazendo um despertamento coletivo ao povo preto. 
SOBRE O FILME

O enredo de “Medida Provisória”, primeiro filme dirigido pelo ator Lázaro Ramos, se passa no futuro. Na trama, num regime opressor, o governo brasileiro decreta uma medida provisória que obriga os cidadãos negros a voltarem para a África. Caracterizado como polêmico e distópico, o longa sofreu ataques, foi vítima de atrasos e até tentativas de boicotes.

“O filme, bancado com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de crime de racismo. Temos o dever moral de boicotá-lo nos cinemas. É pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente”, disparou o ex-presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, em suas redes sociais.
Para o Movimento Negro, cada vez que Camargo condena algo, imediatamente torna-o referência positiva aos militantes. O contrário também se aplica.


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