Publicado 16/11/2022 00:00 | Atualizado 16/11/2022 16:03
O que mais têm feito os analistas políticos é falar de 2023 como se fosse um novo 2003. Já eu vejo mais diferenças do que semelhanças. O Brasil e o mundo são outros. Nem Lula é o mesmo.
O Brasil não tinha uma direita, neutralizada que era pelo teatro das tesouras protagonizado por PT e PSDB. Havia uma dúzia de liberais e conservadores em atividade, mas nem liderança nem massa crítica para peitar o tucano-petismo.
Nas eleições de 2006, Lula chegou a comemorar o fato de não haver um só candidato de direita na disputa. Hoje temos uma direita tão forte que todos os setores de esquerda, mais os descontentes de centro, bem como os saudosos das benesses governamentais, tiveram que se unir para derrotá-la.
A imagem construída para o candidato do PT era a do Lulinha paz e amor. Abandonado o extremismo de juventude, o ex-sindicalista de terno Armani perseguiria o fim da pobreza por meio do diálogo e da concórdia. Era tudo falso, mas o símbolo que representava o obrigava a ser comedido. E hoje? Temos um Lula ex-condenado, ressentido, decadente, vingativo.
Em seu recente discurso de vitória, Lula disse que seu governo será de união, mas não com a direita, nunca com a direita. Chamou todos que não votaram nele de fascistas – calúnia que não deveria se apagar da memória, porque é chamando os divergentes de violentos que se consegue violentá-los com sucesso. Que união é essa na qual metade do país não tem lugar?
Do ponto de vista econômico, Lula herdou um bom cenário. Recebe agora o bom trabalho da equipe de Bolsonaro, mas a feliz fase da economia global de 2003 não se repete; são tempos de pós-pandemia, guerra no leste europeu e economia em crise. Não é bom agouro: seguindo a tendência, em poucos anos não sobrará nada.
A política externa era peculiar, com as novas cruzadas iniciadas a partir do 11 de setembro de 2001, e um Presidente de direita nos EUA, George W. Bush. Na América Latina parecia fácil o trabalho lulista, coberta que era pela maré vermelha. Desta vez, repetir o feito não será tão fácil. Lula tem em Biden um aliado, mas as expectativas de aceitação absoluta e recepção festiva em todo o mundo é estranha. Seu histórico é bem conhecido – até Obama chegou a criticá-lo –, há resistência conservadora na América Latina, nos EUA, na Europa, e seu percurso de erros foi divulgado em todos os continentes.
À segurança pública: O número de crimes violentos já preocupava em 2003, mas o governo petista o viu crescer sem parar, e sem qualquer reação efetiva. Houve matança a céu aberto em 2006 causada por retaliação do crime organizado, e chegamos a 60 mil mortes anuais, cifra digna de guerra.
O Brasil de 2022 viu a maior queda em homicídios, latrocínios e roubos da nova república. Já era. Acredito que em 2026, veremos, se estivermos vivos, estatísticas de aumento significativo da violência urbana.
Se o mandato iniciado em 2003 foi ruim, este próximo parece muito pior. Tivemos ao menos a alegria de vencer a Copa de 2002 antes de tudo. Que venha a taça.
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