Colunista Rafael Nogueirareprodução
Publicado 07/06/2023 06:00
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Marco da história recente do país, as revoltas de junho de 2013 começaram com protestos contra o aumento das tarifas de transporte público, e logo se espalharam por todo o território nacional trazendo à tona indignações e demandas antes caladas por parte significativa da população brasileira. Elas foram fundamentais para o surgimento da nova direita na política nacional.
Menos por competência do que por herança e sorte, a esquerda deixou uma sensação de que o Brasil decolaria em definitivo para um novo patamar de importância mundial. O crescimento foi tão celebrado que Lula se reelegeu mesmo com o mensalão. Seus discursos nos setes de setembro, dizendo que era o protagonista da verdadeira independência que viria com o pré-sal, mostraram-se falsos.
A gastança irresponsável, unida a escândalos cada vez maiores, foi criando um clima de profunda insatisfação. E a bomba estourou nas mãos de Dilma Roussef. O governo havia trabalhado intensamente sua autopropaganda, e nas escolas e nas universidades a linha-mestra era a de uma constante e progressiva politização. Todos tinham que respirar, pensar e falar de política. Afinal, isso é cidadania, diziam, repetindo Paulo Freire.
Seguros de que os seus mestres ativistas dariam conta de preparar o terreno para que não houvesse nenhum novo politizado manifestando-se de forma indesejável, nada temiam.

Mas todo dia a realidade era sentida pelo brasileiro comum diante dos serviços públicos muito deficientes, que não combinavam com o tão falado crescimento. A gastança privada por parte de líderes políticos, a corrupção sistêmica, e a forçada de barra para enfiar narrativas goela abaixo minavam a confiança da população nas instituições políticas.
Paulatinamente, escritores independentes, professores livres, e jovens intrépidos, que não aceitavam a camisa-de-força imposta pelo sistema escolar e pela cultura partidarizada, ignorados por donos de jornais e revistas, pela TV, pela rádio e pelas editoras, foram para as redes sociais, onde publicavam textos e vídeos de graça, dando voz a um público cada vez maior.
Tenho para mim que a ideia por trás das primeiras revoltas, se é que havia alguma, era tão ousada quanto revolucionária: a parte mais radicalizada da esquerda incendiaria as ruas, e na visão dela, o governo teria a desculpa para impor à população aquilo que só os mais extremistas queriam aceitar: uma venezuelização do Brasil.
A única direita que havia era a fisiológica, conservadora de si mesma e de seus privilégios. Não reagia; acomodava-se. Chegou então a hora de uma nova força política aparecer. Líderes, movimentos e grupos conservadores, liberais e antissistema ganharam força e adquiriram visibilidade. Era ainda uma massa amorfa, inconsciente, esperneando contra tudo o que via.
Os primeiros saíram de suas casas para defender o que amam; os segundos, para reconstruir a ordem política; os últimos, para destruir o status quo. Essa promoção de uma agenda política mais alinhada à direita vigora até hoje, e sua maturação é o melhor que podemos esperar de 2013, dez anos depois.
Rafael Nogueira é professor de História, presidente da Fundação Catarinense de Cultura e ex-presidente da Biblioteca Nacional
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