Publicado 05/07/2023 00:00
É no mínimo polêmico — e é algo que tenho visto acontecer — considerar a Independência na Bahia, em 2 de julho, como a data principal da independência do Brasil. Os partidários do Brasil eram leais a D. Pedro I, e não alheios a ele. São duas coisas diferentes: a independência em si e a sua consolidação por meio da guerra, da diplomacia, da constituição, entre outros fatores.
Remontam ao período joanino as razões para a guerra na Bahia. As mudanças e a autonomia conquistadas pelo Brasil desagradaram a burguesia portuguesa, que buscava recolonizar o país e submetê-lo novamente às regras do Pacto Colonial, explorando tensões internas.
Algumas regiões mantiveram a lealdade às cortes de Lisboa — Cisplatina, Maranhão, Grão-Pará, Piauí e Bahia — gerando conflitos que, em conjunto, formam o que podemos chamar de Guerra da Independência do Brasil.
O Príncipe-Regente D. Pedro tomou posição em prol da causa brasileira. Essa decisão foi influenciada pelas demandas das elites brasileiras e pela insatisfação popular com a interferência d'além mar. Daí se seguem o Dia do Fico (09/01), a convocação de uma Constituinte brasileira (03/06), o Grito do Ipiranga (07/09), a Aclamação (12/10) e a Coroação (01/12) do Imperador, tudo em 1822.
Em 1823, iniciam os trabalhos da Assembleia Constituinte (03/05), e prosseguem os esforços de guerra. São muitas as datas importantes, mas os atores da época entenderam que o 7 de setembro era o marco central. E na tradição nacional assim ficou.
Para fazer frente a Madeira de Melo, militar leal às cortes, foi contratado por Pedro I um general que já havia lutado ao lado de Napoleão: Pierre Labatut. Ele foi fundamental para o sucesso dos movimentos independentistas na Bahia.
Maria Quitéria, baiana que marcou a história como heroína da causa brasileira, destacou-se ao se alistar no exército. Sua coragem e dedicação servem como exemplo do engajamento popular na causa independentista.
O 2 de julho é sem dúvida um evento da maior importância à história do Brasil, fato digno de comemoração e de profundo respeito, mas ele se torna incompreensível sem o devido reconhecimento aos outros marcos, especialmente ao Grito do Ipiranga. Analogamente, podemos citar o exemplo dos Estados Unidos, cuja independência foi declarada em 4 de julho de 1776, mas a guerra pela sua efetivação perdurou até 1781, e sua constituição só foi ratificada em 1787. São duas etapas distintas: a declaração e a consolidação.
Não termina com a guerra o processo de independência do Brasil. Em 1824 o país recebe sua primeira Constituição (25/10), e em agosto de 1825 os maiores reconhecimentos internacionais, a começar por Inglaterra, Portugal, Áustria e, daí em diante, todos os países da Europa.
São muitas as datas importantes para que o Brasil se tornasse independente, muitas mais para que assim se mantivesse e se firmasse. É importante celebrar o bicentenário da vitória da Independência na Bahia, mas desvinculá-lo do 7 de setembro, ou fazê-los competir, é politicagem, não história.
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