RAFAEL NOGUEIRA NOVADIVULGAÇÃO
Publicado 09/10/2024 00:00
As eleições municipais mostraram um crescimento robusto da direita. Diferente de 2020, desta vez Jair Bolsonaro e seu grupo se dedicaram intensamente a eleger candidatos. Foi uma vitória expressiva, mas marcada por polêmicas e discordâncias. Daí ser tão importante fazer um sério balanço.
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Um só dia após os resultados, surgiram críticas dentro da direita. Silas Malafaia e Ciro Nogueira atacaram abertamente a postura de Bolsonaro. Nogueira afirmou que, se o ex-presidente tivesse acenado para o centro de forma mais explícita, estaria muito mais forte. Já Malafaia disse que Bolsonaro deveria ter caminhado à frente do povo, não atrás.
A crítica de Ciro é interessante, mas imprecisa. A verdade é que Bolsonaro tem evitado rupturas desnecessárias com o centro desde o meio de seu mandato. Sem abrir mão de sua identidade, permitiu que aliados em outros partidos fizessem suas campanhas, sem desaboná-los. Ele tem de ser cuidadoso mesmo, até sua base de apoiadores amadurecer a ponto de entender que um meio aliado é melhor do que um adversário inteiro.
A palavra "centrão" traz a ideia de corrupção e traição, mas existe um centro democrático que pende para a direita e com o qual é preciso compor. Essa aliança deve ser feita de forma transparente, pública e aberta, para que faça sentido ao eleitor conservador.
Malafaia, por sua vez, cometeu um erro grave ao expor conversas privadas com Bolsonaro na qualidade de pastor. E ainda foi contraditório: criticou Nikolas Ferreira por se distanciar dos acordos partidários, mas tretou com o líder mais importante do partido.
Em São Paulo, Pablo Marçal não chegou lá, mas foi bem. Mérito de seu carisma e de quem pensou sua campanha. Agora, o time Marçal precisa agir rápido para evitar o "efeito viúvas de Marçal", que leva seus eleitores a recusar apoio a Ricardo Nunes. Tabata Amaral foi rápida: viu os resultados e declarou apoio a Boulos. Por que a direita demora tanto para fazer o óbvio?
No Rio de Janeiro, apesar de Bolsonaro ter vencido Lula em 2022, seu candidato nas municipais, Alexandre Ramagem, não engrenou. Não sei quem conduziu uma campanha tão morna, mas o Rio merece mais. Ramagem, que é alguém que admiro, parecia desmotivado. Ainda assim, obteve cerca de 30% dos votos. Isso sugere que, com uma campanha mais forte e sem Eduardo Paes como adversário, a direita pode facilmente atingir mais de 40%.
O cenário para 2026 ainda é incerto. Se Bolsonaro for elegível, terá uma equação clara à sua frente: a direita tem 25% de um eleitorado em crescimento, enquanto a esquerda conta com 15% em declínio. O restante, cerca de 60%, é formado por centrão, indecisos e conservadores populares sem plena consciência da própria ideologia. Nesse cenário, Bolsonaro, sem dúvida, tem a maior capacidade de mobilização. Se conseguir manter o vigor retórico de 2018, moderando excessos para evitar falsas acusações de antidemocrático, será imbatível. Não faz sentido especular além disso por enquanto.
Crescendo, a direita cada vez mais vai se dividir em grupos distintos, que eventualmente vão brigar entre si. Por isso, precisa manter uma liderança forte, mas também organizar alas internas, permitindo que cada segmento eleja parlamentares conforme suas particularidades. Dessa forma, todos se sentem representados e podem se unir em torno de candidatos ao Executivo, sem birras públicas. E me preocupa a falta de formação política dentro do principal partido que abriga a direita, o PL, para o qual não faltaria dinheiro para qualificar e formar quadros.
Se Bolsonaro decidir passar o bastão – ou se for forçado a fazê-lo – talvez deva agir como Dom João VI ao deixar o Brasil. Antes de partir, Dom João disse a Pedro: “Se o Brasil se separar, antes seja por ti, que me hás de respeitar, do que para algum aventureiro.” Nesse sentido, a possibilidade de Eduardo Bolsonaro assumir a liderança do PL é alvissareira. Fora o Jair, só ele mesmo para ajustar a rota.
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