Publicado 13/11/2024 00:00
1. Estamos vivendo uma onda conservadora. O conceito de “dispensação”, apresentado por Mark Lilla em Os progressistas de ontem e do amanhã, explica bem isso: são períodos ou eras marcados por um conjunto específico de ideias, valores e instituições predominantes, que orientam a sociedade em um determinado rumo. Parece que estamos em uma dispensação conservadora. Na Argentina, nos EUA, na Holanda e na Hungria, e em ascensão rápida na Alemanha e França, vemos o enfraquecimento da era das esquerdas. Até a interpretação de que no Brasil a vitória do centro nas últimas eleições municipais foi acachapante me parece ilusória. Naturalmente, eleições municipais tendem a atrair mais o centro, pela própria natureza de pautas pragmáticas e locais, mas, ao fim, esse resultado ainda reflete a força da onda conservadora, que carrega consigo o que encontra no caminho. É um movimento que avança e que deve ser entendido como parte de um ciclo, uma “dispensação”, que um dia se encerrará — e aos que testemunharem o próximo ciclo caberá aceitar e preparar a transição.
2. A vitória de Trump nos EUA trouxe à tona um paradoxo interessante: algumas mulheres se indignaram, imputando aos homens a responsabilidade pela vitória do presidente. Só que Trump obteve mais votos femininos do que as pesquisas indicavam, revelando um distanciamento entre as percepções do feminismo e a realidade das mulheres. Sucedeu uma grande indignação, que levou grupos radicais a aderirem ao movimento “4B”, surgido na Coreia do Sul, resumido nas práticas de não fazer sexo, não dar à luz, não namorar e não se casar com homens; as iniciais de todas essas práticas, em coreano, correspondem à consoante B. Isso me lembrou da Lisístrata de Aristófanes, que, cansada da guerra, liderou as mulheres em uma greve de sexo. Isso também parece, ironicamente, com a conduta das cristãs devotas, que não fazem nada disso aí até contraírem um bom matrimônio, que, da perspetiva cristã, não é mera união na mesma casa. Evitam a intimidade física como forma de exercer poder sobre seu destino. A ironia é que, ao tomar essas decisões como afirmação de liberdade, as feministas radicais reencontram os valores antigos de abstenção e disciplina que sempre dignificaram a mulher.
Publicidade2. A vitória de Trump nos EUA trouxe à tona um paradoxo interessante: algumas mulheres se indignaram, imputando aos homens a responsabilidade pela vitória do presidente. Só que Trump obteve mais votos femininos do que as pesquisas indicavam, revelando um distanciamento entre as percepções do feminismo e a realidade das mulheres. Sucedeu uma grande indignação, que levou grupos radicais a aderirem ao movimento “4B”, surgido na Coreia do Sul, resumido nas práticas de não fazer sexo, não dar à luz, não namorar e não se casar com homens; as iniciais de todas essas práticas, em coreano, correspondem à consoante B. Isso me lembrou da Lisístrata de Aristófanes, que, cansada da guerra, liderou as mulheres em uma greve de sexo. Isso também parece, ironicamente, com a conduta das cristãs devotas, que não fazem nada disso aí até contraírem um bom matrimônio, que, da perspetiva cristã, não é mera união na mesma casa. Evitam a intimidade física como forma de exercer poder sobre seu destino. A ironia é que, ao tomar essas decisões como afirmação de liberdade, as feministas radicais reencontram os valores antigos de abstenção e disciplina que sempre dignificaram a mulher.
3. O futuro da esquerda talvez não esteja na aposta do identitarismo. Ninguém aguenta mais essa coisa de woke. Em vez dele, a esquerda encontra sua chance real ao propor um novo paradigma para a qualidade de vida, algo que o sistema de trabalho atual ainda não consegue oferecer. Recentemente, um projeto de lei causou polêmica ao levantar a possibilidade de reduzir a jornada de trabalho semanal, eliminando a restrição a apenas um ou dois dias de descanso por semana. Interessante que, nos estudos que li, os experimentos de jornadas reduzidas mostram resultados promissores em aspectos de saúde, economia e relações sociais. Curiosamente, ainda que a proposta parta da esquerda, o impacto de mais tempo livre permitirá que o trabalhador aproveite sua família, se aperfeiçoe, cultive novos interesses, consuma e, até mesmo, crie novos projetos — um fenômeno que, com bons ajustes, poderia ser aproveitado pela direita, canalizando-o como parte da onda atual. A direita teria a oportunidade de adaptar essa ideia, ajustando-a aos seus princípios. Afinal, “para que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”.
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