Publicado 10/11/2020 13:57 | Atualizado 10/11/2020 19:02
Sete anos após o desaparecimento do então desconhecido ajudante de pedreiro, Amarildo Dias de Souza, na Comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio, o sumiço de um homônimo ajudante de cozinha, em Búzios, na Região dos Lagos, remonta a emblemática pergunta: Onde está o Amarildo? Querido pelos colegas de trabalho e amado pela família, Amarildo Macedo Brito, de 28 anos, desapareceu, misteriosamente, no último dia 3 de novembro, após sair da casa da noiva, no bairro Maria Joaquina, localizado em um dos acessos ao balneário.
Natural de Araruama, cidade vizinha na Região dos Lagos, Amarildo foi morar com a tia, em Búzios, para trabalhar em uma famosa rede de restaurantes. No dia do desaparecimento, o ajudante de cozinha estava de folga e aproveitou para visitar a noiva, que está no sétimo mês de gravidez e com quem pretende se casar logo após o nascimento do filho. “Ele saiu da casa da noiva por volta das 22 h. Estava chovendo. Testemunhas viram o Amarildo correndo por causa do temporal. A casa em que mora com a tia fica próximo à da noiva, mas ele não retornou. O último acesso dele ao WhatssApp foi às 4h da manhã do dia seguinte. A partir daí, o aparelho foi desligado e ninguém teve mais notícias dele”, contou, a irmã de Amarildo, a dona de casa Lorrayne Macedo da Silva, de 24 anos.
Buscas- O sumiço de Amarildo chamou a atenção da família devido à ausência no trabalho, pois não costumava faltar o serviço. De acordo com a família, o ajudante de cozinha não tinha inimigos, não vinha recebendo ameaças e estava feliz com a chegada do primeiro filho. “Era um rapaz ‘do bem’, na dele, trabalhador. A roda de amizade se resumia aos colegas de trabalho e primos”, ressalta Lorrayne, que, com apoio de amigos, afixou cartazes, com a fotografia de Amarildo, em diversos pontos da cidade, e realizou buscas em hospitais e institutos médicos legais em outras cidades da Região dos Lagos.
‘Me ajudem, por favor! Quero encontrar meu filho vivo ou morto’
‘Me ajudem, por favor! Quero encontrar meu filho vivo ou morto’
Num apelo dramático (Áudio abaixo), a caseira Cineia da Conceição Macedo, de 45 anos, faz um apelo às autoridades para encontrar o filho Amarildo. “Meu filho é trabalhador, não é bandido. As autoridades não têm informações e, há uma semana, procuramos pelo Amarildo. Estou dormindo à base de remédios tranquilizantes. Já procuramos em todos os lugares possíveis. Estamos abalados. Não sei o que aconteceu. Mas, como toda mãe, quero encontrar o meu filho, vivo ou morto. Quero, pelo menos, enterrar o meu filho. Me ajudem, por favor!”, disse, emocionada, a mãe do Amarildo.
Investigações- O caso foi registrado na 126ª DP (Cabo Frio). Após divulgação do caso no DIA Online, uma testemunha, através de denúncia anônima, informou à família ter visto Amarildo entrar em um carro preto, com quatro homens. O fato foi comunicado à polícia e será investigado. A polícia realizou diligências na região e ouvirá testemunhas na sequência das investigações. Nenhuma possibilidade foi descartada para elucidar o desaparecimento do ajudante de cozinha. De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), foram registrados 2.430 desaparecimentos, de janeiro a setembro, de 2020, em todo o Estado do Rio de Janeiro. Armação de Búzios compõe a 4ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP4), que compreende Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Região dos Lagos, e registrou 355 casos no mesmo período.
Sumiço emblemático, em 2013, chamou atenção para os desaparecimentos forçados e terminou com 12 policiais condenados
Caso emblemático, o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, no dia 14 de julho de 2013, na Rocinha, comunidade da Zona Sul do Rio, ganhou os holofotes da mídia e jogou luz para os casos de desaparecimentos forçados, comumente conhecidos quando ocorre abuso de autoridade e violência policial. De acordo com as investigações, Amarido foi conduzido pelos agentes, de forma arbitrária, até a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde teria sido torturado e morto pelos policiais militares.
Em 2016, a Justiça condenou, em primeiro grau, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo. No segundo grau, oito condenações foram mantidas, enquanto quatro militares foram absolvidos.
Sumiço emblemático, em 2013, chamou atenção para os desaparecimentos forçados e terminou com 12 policiais condenados
Caso emblemático, o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, no dia 14 de julho de 2013, na Rocinha, comunidade da Zona Sul do Rio, ganhou os holofotes da mídia e jogou luz para os casos de desaparecimentos forçados, comumente conhecidos quando ocorre abuso de autoridade e violência policial. De acordo com as investigações, Amarido foi conduzido pelos agentes, de forma arbitrária, até a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde teria sido torturado e morto pelos policiais militares.
Em 2016, a Justiça condenou, em primeiro grau, 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo. No segundo grau, oito condenações foram mantidas, enquanto quatro militares foram absolvidos.
O desparecimento forçado de pessoas é definido, pela Organização das Nações Unidas (ONU), “como a privação de liberdade executada por agentes do Estado ou por pessoas e grupos agindo com sua cumplicidade, seguida da recusa em reconhecer que o fato aconteceu e da negação em informar o paradeiro ou destino da pessoa. Quando praticado de modo sistemático contra um segmento específico da população (movimentos políticos, membros de uma religião ou etnia) é um crime contra a humanidade que não pode ser anistiado. Os tratados internacionais proíbem os desaparecimentos forçados em qualquer circunstância, mesmo durante guerras”.
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