Obra que faz parte da exposição 'O Negro no Rio', da artista Geórgia LoboDivulgação
Por Gabriel Sobreira
Publicado 27/01/2019 05:00

Com a bola debaixo do braço, um jovem negro, só de short, em Ipanema, observa o Morro Dois Irmãos, no Leblon. Uma mulher negra de unhas vermelhas levanta os dreadlocks dela enquanto aprecia a vista do Rio. Outra, de óculos escuros, aproveita um fim de tarde perto do Pão de Açúcar, na Urca. E um casal negro passeia pela orla de Ipanema. Esses são só alguns dos personagens heroicos, fortes, orgulhosos e belos que estão retratados na pintura da artista plástica Geórgia Lobo, 53 anos, integram a exposição 'O Negro no Rio', em cartaz até dia 10 de março (de terça a domingo, das 12h às 19h), no Centro Cultural dos Correios, no Centro.

"Fui convidada pelos Correios e na primeira entrevista o diretor me perguntou se teria um tema", lembra a carioca, que no dia anterior à entrevista havia esboçado um desenho. Era uma encomenda para um quadro que poderia fazer parte da próxima novela das 19h, da Globo.

No pedido do cenógrafo, ela teria que retratar o Rio de Janeiro dos anos 1980/1990. "Quando estava desenhando duas mulheres de biquíni asa delta. De repente, mudei para um negro segurando uma bola e olhando extasiado para o Dois Irmãos. Então falei: 'O Negro no Rio'", conta, empolgada.

Geórgia Lobofotos Divulgação

VALORIZAÇÃO

Desde que comentou com amigos o projeto da exposição, várias pessoas passaram a enviar sugestões de cenas. "Todas elas retratando o negro em condição subalterna, mesmo que envolto em poesia", lembra Geórgia. "Nunca senti atração por essas situações", defende Geórgia, que em seus quadros mostra que negros, assim como qualquer ser humano, tem direito de desfrutar a vida tento as mesmas condições.

"Não existe nenhuma comprovação biológica que diga que a raça negra é inferior, então por que um casal negro não pode ser visto passeando num conversível vermelho no Aterro do Flamengo? Essa é uma cena que adoro e está num dos quadros da exposição. Por que os negros não podem se sentir bem na própria pele?", questiona ela, que é formada em Desenho Industrial.

Como fruto de uma herança histórica em que negros eram normalmente retratados em pituras como escravos ou em situações de submissão, a artista credita que sua arte, de alguma forma, traz uma ressignificação social para a autoestima dos negros. "Adoraria ter visto essa minha exposição quando criança. A imagem sempre negativa dos negros me fazia sentir vergonha. Eu olho para eles, meus personagens, e sinto orgulho. Quero que todos se sintam assim como eu hoje em dia, que deixem os preconceitos de fora e admirem , sintam, reflitam", deseja.

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