Aline Borel e Natalia CoinbraReprodução
Por Leonardo Rocha
Publicado 14/04/2019 03:00 | Atualizado 14/04/2019 10:48

Rio - Muita gente se perguntou na última semana quem era o danado do Seu Armando, logo que o áudio de um suposto funcionário dele viralizou nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais. Na gravação, um homem perde o controle e xinga o patrão, que teria se mostrado irredutível com a ausência do homem no trabalho devido às chuvas que atingiram a cidade na segunda-feira. Teve gente que achou graça e ainda fez paródia com o desabafo do rapaz e houve aqueles que não gostaram e organizaram uma manifestação na porta do estabelecimento do Seu Armando. O problema é que o forninho caiu e logo foi descoberto que tudo não passava de um meme criado pelo canal do YouTube "Ninja, o Sincero". Pode isso, Arnaldo?

"No caso do áudio do Seu Armando, o narrador é uma pessoa comum, a situação é banal e cotidiana. O empregado é um herói subalterno, um sujeito que se revolta contra a opressão e a exploração", destaca Viktor Chagas, criador do Museu do Meme, da Universidade Federal Fluminense. Poxa vida, heim!

A lista de memes criados no Brasil só provam que o país anda bem movimentado. Parece que quanto maior o problema, mas criativa fica a população. "Não há uma fórmula capaz de explicar as razões por que alguém se transforma em meme. O que temos claro é que há elementos que apontam para características que se repetem. Pessoas comuns, gafes e situações espontaneamente curiosas são exemplos", explica Viktor.

A velocidade que uma pessoas ou situação é catapultada ao estrelato na web é tão voraz que existe uma infinidade de memes que fazem a alegria do povo. Quem não se lembra dos bons drinques de Luísa Marilac? "Se isto é estar na pior...", diz ela, tomando um banho de piscina na Europa. Outra celebridade que viu sua carreira ganhar novos rumos foi a cantora Gretchen. Aos 59 anos, a Rainha do Rebolado trocou de coroa e se tornou a Rainha dos Memes.

"No início eu fiquei muito irritada, porque não entendia muito bem das usarem minha imagem para fazer graça. Mas logo que percebi a repercussão eu mudei de ideia. Eu adoro ser Rainha dos Memes! Acho superinteressante", avalia ela, que graças as brincadeiras foi convidada para gravar o clipe da música "Swish Swish", de Katy Perry. "De repente, vi pessoas de outros países compartilhando meus memes", diverte-se.

O mesmo aconteceu com Inês Brasil, que se tornou um webcelebridado após o vazamento de seu vídeo de inscrição para "Big Brother Brasil", da Globo, os irmãos do hit "Para Nossa Alegria", a cantora Jojo Toddynho, com a música "Que Tiro Foi Esse?", Nego Ney e a falta de opinião de Glória Pires na apresentação do Oscar 2016. As máscaras de carnaval também transformaram a vida do ator Fábio Assunção, que toda sexta-feira aprece nos grupos de WhatsApp ativando a alegria da galera. "Na última década, vimos saltar as menções a memes de internet em reportagens e outras locais. No mapeamento que conduzimos, vimos um reflexo do interesse da sociedade de forma geral pelo fenômeno. Vale lembrar que o conceito de meme surgiu ainda na década de 1970, portanto, é anterior à própria internet. Mas as mídias sociais são decisivas no processo de apropriação do conceito", destaca Viktor Chagas, alertando que o fato de alguém se tornar um meme não é sinônimo de status.

"Não podemos naturalizar essa condição. Há inúmeros casos de sujeitos que se transformam à sua vida se tornar personagens de memes e sofrem muito com isso. Gretchen, Inês Brasil, Luísa Marilac foram motivo de piada, inicialmente, por conta de seu exotismo, porque eram personagens pitorescas, não por compaixão ou adoração. Só depois desse primeiro movimento e tendo subvertido a própria audiência, é que elas se converteram em divas", avalia ele.

Memes de Aline Borel e Natalia Coimbra fazem o maior sucesso

Recentemente, duas cariocas estão dando o que falar nos grupos de Facebook e WhatsApp. Aline Borel, moradora de Araruama, e Natalia Coimbra, de Senador Camará, se tornaram webcelebridades através de seus memes. Tanto que Aline foi convidada por Maisa Silva para participar de seu programa no SBT, e Natalia foi sensação no festival Lollapalooza, que rolou no último fim de semana, em São Paulo. Juntas, elas somam milhares de fãs, são reconhecidas nas ruas, têm assessoria de imprensa e até plano de carreira.

Aline Borel, de 24 anos, caiu nas graças do público ao fazer vídeos engraçados das canções "É Cansativa a Vida do Crente", "Eu Vacilei e Po, To Ciente". De família evangélica, Aline começou a cantar na igreja. "Estou desempregada e estou tentando ser youtuber", conta.

Ela acredita saber o motivo do sucesso na internet. "Eu canto o que acontece na comunidade. Muita gente se identifica com isso. E também pelos erros de gravação", brinca. Há algumas semanas, Aline deixou os fãs preocupados ao saberem que ela estava internada para um tratamento psiquiátrico. A moça nega que seu sumiço esteja relacionada com a fama repentina. "Tive uma decepção amorosa. Fiquei deprimida, mas agora estou bem", garante ela, que já é reconhecida nas ruas. "Muitos me pedem pra tirar foto", diz ela, pontuando, que, apesar do exposição, não teve nada de concreto quando se trata em parcerias. "Meu sonho é ser uma cantora. Gostaria de cantar com Ludmilla e MC Duduzinho".

Outra que arrasa a cada foto que posta é Natalia Coinbra. Moradora da Favela do Sapo, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, ela foi parar no LDRV, grupo do Facebook em que bombam muitos memes. "Deve ser pelo meu jeito, minha maquiagem, meu sorriso", conta ela, que tem 25 anos. Antes da fama chegar, Natalia estava desempregada e chegou a trabalhar num supermercado, em salão de beleza e na limpeza de shopping. Mas, ao virar meme na internet, viu sua vida transformada. "Agora, eu tô chique. Todo trabalho que faço tenho retorno. Fui até reconhecida por polícia na rua. O filho dele usa as minhas fotos no WhatsApp. Ele me reconheceu em um bloco em Bangu", lembra a 'bruxa', como é chamada pelos fãs.

E por falar em bloco de carnaval, o rosto de Natalia também virou fantasia. A máscara com seu rosto chegou a ser vendida no Saara e numa festa de uma universidade em Manaus. "Sempre agi naturalmente. Se me encontrar na rua, vou estar tomando litrão, com cigarro na mão falando alto à beça", brinca ela, que é mãe solteira (de Nathaly e Aleff) e viúva.

Essa exposição de Aline e Natalia, no entanto, pode não ser tão positiva, caso as jovens não lidem bem com a fama repentina e, geralmente, passageira dos memes. "São duas meninas de origem humilde que se tornaram protagonistas de peças virais. Os conteúdos que circulam com a imagem delas certamente incorpora elementos de memes de internet bem sucedidos. Mas é precisamo ficar atentos aos efeitos. A internet nos apresenta efeitos ambivalentes para fenômenos como esses", aponta Viktor.

*Com Gabriel Sobreira

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