Rio - Regina Casé, 65 anos, costuma brincar dizendo que sempre foi uma onça. Na verdade, a meta de vida dela é virar uma onça-pintada de verdade. Para a atriz, o animal tem muitos simbolismos, como representar o país, reinar nas florestas que ela quer manter. "Injustiça me faz virar uma onça. Mentira, mexer com família, amigos, floresta... Várias vezes eu virei onça porque queriam derrubar árvore. Viro onça mesmo", avisa ela, que depois de 25 anos volta aos palcos com o 'Recital da Onça', no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon.
No espetáculo, em cartaz até 12 de maio, é se divertindo e se emocionado que o público percebe que literatura não tem nada de chato. Muito pelo contrário. Regina Casé conta que muita gente tem medo de pegar um livro e fala que não é para o bico, que não vai entender e que vai ser chato. "Eu mostro que muitas vezes estou dizendo um texto literário e as pessoas acham que sou eu que falo algo da minha cabeça. Aquilo que você achava que era inalcançável está na boca da gente, na vida da gente, no cotidiano", diz.
A atriz lembra um episódio em que Zeca Pagodinho foi assistir ao espetáculo na Bahia. Tudo que Regina falava, Zeca respondia. Foi assim quando a personagem dizia que tinha pavor de aeroporto, e Zeca falava também. "Igual criança no teatro infantil. Depois, ele me chamou e falou: 'Casé, até a metade eu achei que não tinha começado e que você estava só conversando'", conta ela, aos risos. "E muito daquilo que eu falava já era literatura. Pra você ver que a pessoa nem percebe", completa.
Em 'Recital da Onça', a personagem vivida por Regina vai representar o Brasil no exterior e seduzir a plateia para gostar da literatura nacional. Na primeira parte, por uns 20 minutos, a atriz brinca com a plateia, que até sobe ao palco e dança com ela. "Lá na Barroquinha (Espaço Cultural da Barroquinha, em Salvador, onde a peça estreou) era um axé. Aqui é samba. Se bobear, vou até convidar um dia desses a Mangueira pra ir lá".
Em cada cidade, o espetáculo aproveita para incluir texto de algum autor local. No caso do Rio, a escolha foi por Alberto Mussa, carioca de 57 anos. "Ele tem muitos livros, mas tem cinco que contam a história do Rio de Janeiro, cada um em um século: 20, 19, 18, 17 e 16. E eu pego o primeiro, a fundação da cidade, tudo engraçadíssimo", entrega a artista, que inclui também texto de Vinicius de Moraes descrevendo a época em que caminhava na antiga Favela do Pinto, que existiu onde agora é o teatro Oi Casa Grande. "Tem também Fausto Fawcett, que é praticamente um rap, bem contemporâneo, e Clarice Lispector, entre outros", adianta.
A carioca diz que a sua missão de vida é unir o erudito e a linguagem do povão, e mostrar que eles têm mais em comum do que pensam.
FAMA RUIM
Questionada se a TV e o público perderam com o fim do 'Esquenta!', da Globo, Regina é direta. "Se você andar comigo na rua, vai achar que sim. Vai ver que o pessoal está revoltado", destaca ela, que aproveita para esclarecer um boato antigo: de que não é fácil de lidar. "Até hoje não consegui entender. Todo mundo fala pra mim: 'Adorei você, tinham me falado que você nem ia tirar foto comigo'. Não sei de onde veio isso. Eu tiro foto até com poste (risos). Mas tenho uma fama ruim que eu não sei quem foi que inventou", diz.
O retorno aos palcos, para Regina, é uma forma de aquecimento. Após filmar o longa 'Três Verões', ainda sem data de estreia, a atriz está reservada para viver Lourdes, a protagonista de 'Amor de Mãe', novela das 21h escrita por Manuela Dias, que deve estrear em novembro. Na trama, ela é uma mulher pobre, que sai do interior de Minas Gerais em busca do filho que foi vendido pelo pai. "O meu melhor papel da vida é ser mãe, quando vejo minha filha, meu filho, como todo mundo adora eles. Todo mundo é apaixonado por eles. Pra mim é uma realização", derrete-se ela, que é mãe de Roque, de 5 anos, e Benedita, de 29.
Ao público, Regina faz um alerta. "São pouquíssimos dias, se deixar pro dia seguinte, já acabou. Tem que correr pra ir logo ver", convida. E quando questionada sobre seu retorno como apresentadora, ela avisa: "Daqui a pouco eu volto".
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