Laila Garin e Claudio Gabriel em cena no musical A Hora da Estrela ou O Canto de MacabéaDivulgação/Ariel Cavotti
Publicado 23/03/2022 08:00
Rio - "Essa história acontece em estado de emergência e de calamidade pública": assim canta Laila Garin nos primeiros minutos de "A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa", musical inspirado no livro homônimo de Clarice Lispector. O drama retrata a vida de uma mulher alagoana que migra para o Rio de Janeiro apenas para viver às margens da sociedade carioca e, ainda assim, desperta a atenção de uma atriz, que narra a vida de Macabéa para o público.
Com músicas inéditas de Chico César, o espétaculo terá seu último fim de semana de exibição no Rio de Janeiro a partir desta quinta-feira, no Teatro Firjan Sesi Centro. A estreia de "A Hora da Estrela" aconteceu ainda em março de 2020, no ano do centenário de Clarice Lispector, mas a peça acabou sendo interrompida de forma precoce por causa da pandemia da covid-19. Após uma breve temporada híbrida em 2021, a montagem ganhou os palcos novamente com seu formato original.
As protagonistas
No musical embalado por canções que vão de samba a rock, Laila Garin encara o desafio de revezar os papéis de duas personagens diferentes, mas ligadas entre si. A baiana de carreira premiada no teatro musical inicia a trama na pele da personagem nomeada como Atriz, adaptação do escritor que aparece na obra literária e que assume a função de compartilhar com o público a história de uma mulher inicialmente sem nenhum atrativo digno de nota.
Ao despertar o interesse da Atriz, Macabéa se torna a grande estrela do espetáculo. Durante duas horas, o espectador observa, com detalhes, a opressão que a nordestina enfrenta desde sua infância, com uma tia agressiva, até sua vida adulta, quando é constantemente menosprezada pelo namorado, Olímpico de Jesus (Claudio Gabriel), e pela colega de trabalho, Glória (Cláudia Ventura). Em conversa com o DIA, Laila revela o que a fez aceitar o convite para dar vida à personagem.
"Eu conheci primeiro o filme da Susana Amaral [adaptação de 1985], depois que fui ler o livro de Clarice. Me apaixonei por Macabéa, a Macabéa de Marcélia Cartaxo. A composição dela foi referência para mim em muitos trabalhos no teatro. Quando veio o convite da Andrea Alves [idealizadora da peça] para fazer no teatro, eu aceitei imediatamente, porque é um presente para qualquer atriz. Eu tive medo, claro, pois é muito diferente de mim, externamente, a Macabéa", confessa.
A artista ainda comenta a experiência de se dividir entre a heroína da história e sua observadora. "Eu acho que, no espetáculo, começa bem separado, a Atriz de Macabéa, depois elas vão se fundindo. Já ouvi de muita gente do público que todos nós temos um pouco da Atriz e da Macabéa", conta Laila, que é conhecida por ter interpretado outras grandes personagens como Elis Regina, na biografia da cantora.
Com o avanço da vacinação no Brasil e a diminuição dos casos de covid-19 em diversos estados, Laila comemora o reencontro com os espectadores no teatro. "A sensação é de que o público está ávido por estar junto, em comunhão, de passar por uma experiência em grupo, coletiva. Estamos emocionados no palco, por estar de volta com essa troca, e o público também está emocionado. Temos uma alegria e uma gratidão imensa por estar passando por isso novamente. Além dos novos significados que a peça tomou depois de termos passado por essa calamidade toda."
Para curtir em casa
No último dia 8, a produção de "A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa" disponibilizou nas plataformas digitais o álbum que reúne as canções do espetáculo. No disco, Laila Garin divide os vocais com os colegas de cena e com Chico César, que compôs todas as faixas do musical, se baseando no último livro escrito por Lispector antes de sua morte. Presente em 15 das 16 músicas no compilado, Laila relembra como foi se juntar com o compositor nas gravações em estúdio.
"A experiência de gravar com Chico foi uma oportunidade de aproximação entre nós e conhecê-lo melhor em criação. Ver o próprio compositor das músicas interpretando-as... Eu vi significados novos nas letras. Ele me deu toques e me disse coisas que também interferiram na minha interpretação. Foi uma troca e um aprendizado muito grande. Eu aprendo só com a presença de Chico. Ele tem um olhar muito especial para a vida e um estado de espírito também muito especial. Tive o privilégio de ter as canções escritas por ele pensando na minha voz. É como criador e criatura se encontrando", reflete.
"A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa" tem seus últimos dias em cartaz no Teatro Firjan Sesi Centro, no Rio. Com ingressos a partir de R$ 40, o espetáculo encerra sua exibição com as últimas apresentações acontecendo nos dias 24 e 25, às 19h, e 26 e 27, às 18h. A classificação indicativa é de 16 anos.
Leia mais