Rachel Sheherazade revisita opiniões sobre política e sociedade em nova obraDivulgação/Gabriel Barbosa
Publicado 03/12/2022 06:00
Rio - Para Rachel Sheherazade nunca é tarde para rever conceitos e mudar de ideia. Após um período eleitoral conturbado, a jornalista lança seu novo livro, intitulado 'O Brasil Ainda Tem Cura', que chegou às livrarias no final de novembro. A obra é uma versão atualizada de sua primeira obra e traz comentários da apresentadora sobre fatos recentes do cenário político e social do país. Em entrevista ao DIA, a autora explica o que a motivou a revisitar 'O Brasil Tem Cura', lançado em 2015, e se posicionar em discussões que marcaram o noticiário nacional nos últimos sete anos.
"Muitos acontecimentos políticos mudaram o rumo do país e o julgamento que eu tinha a respeito de alguns temas. Tivemos a cassação da presidente Dilma (Rousseff), o governo (Michel) Temer, a prisão de Lula na esteira da Operação Lava Jato, a ascensão da extrema-direita na figura de Jair Bolsonaro, as revelações sobre a parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro na condução do processo de Lula... Enfim, foram tantas reviravoltas que uma nova versão do livro se fazia necessária. Era um compromisso comigo mesma, com minha consciência. Eu, como milhões de brasileiros, fui levada a conclusões baseadas no projeto político de um juiz, um promotor e um candidato à presidência que, obviamente, não seguiram a cartilha da Ética e do Direito. Minha visão sobre os fatos foi esclarecida e hoje é mais madura e moderada", afirma.
Rachel define o novo livro como "um convite à reflexão e ação" e mergulha em uma linguagem simples para conversar a quem se refere como "o brasileiro comum": "O trabalhador, a dona de casa, o estudante, pessoas que ainda não possuem ou estão em busca de um entendimento maior sobre a política e a história do país, e que desejam respostas descomplicadas", destaca. Ao longo da obra, ela joga "a responsabilidade de transformação do país" para o leitor enquanto aborda temas como impunidade e o poder do voto.
A ex-âncora do telejornal "SBT Brasil" ainda conta que, atualmente, tem uma opinião diferente sobre alguns dos assuntos citados na primeira versão. "Não tenho qualquer receio em mudar de ideia. Meu medo maior é me agarrar eternamente a minhas convicções. Acho isso perigoso e estúpido. Sete anos depois de ter escrito meu primeiro livro, alguns conceitos me parecem velhos e ultrapassados, como política de cotas, perseguição religiosa no Brasil e a demonização da política", afirma.
Conhecida por seus comentários afiados na televisão, a paraibana de 49 anos foi uma das personalidades que usou as redes sociais para declarar seu voto em 2022, demonstrando apoio ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, Sheherazade critica a cobrança por posicionamento político de celebridades que tomou conta da internet ao longo do ano. 
"Há personalidades que militam por suas ideias e preferencias políticas, há aquelas que preferem a discrição. Como jornalista, sempre me abstive de revelar meu voto, mas este ano abri uma exceção, pois o risco de uma reeleição do atual presidente me pareceu mais importante que o meu silêncio. Mas, acredito que revelar ou não o voto é uma questão de foro íntimo. Ninguém deve se sentir intimidado, pressionado, afinal de contas ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer nada, salvo em virtude da lei", opina.
Com a vitória do petista na disputa contra Jair Bolsonaro (PL), Rachel revela ter boas expectativas para o próximo governo, mesmo depois da campanha eleitoral que chama de "vergonhosa". "Foi mais uma eleição alimentada pela indústria criminosa de notícias falsas, e ainda sob a ameaça constante de uma ruptura democrática. Isso tudo sem falar do abuso da máquina pública para fins eleitoreiros. Espero que tenhamos aprendido algo: como não fazer política", enfatiza a apresentadora.
Ao olhar para o futuro, a jornalista completa: "Espero um mandato reconciliatório do ponto de vista político e social. Tivemos quatro anos de muito ódio e desavenças que extrapolaram até mesmo os limites da política. Amigos e familiares tornaram-se, de repente, inimigos por conta de uma polarização ideológica rasa e estúpida. Desejo também que o atual governo possa cumprir suas promessas no campo social, que, sob o meu ponto de vista, são as mais urgentes e importantes. É preciso que se olhe para as necessidades básicas dos brasileiros comuns, dos cidadãos sem voz e sem influência. É para eles, principalmente, que o Estado deve se voltar".
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