Publicado 21/06/2023 14:49
Rio - No mês em que é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente, o Instituto Incluzartiz lança o programa Amazônia, agora, projeto multidisciplinar que convida o público a se aproximar dos olhares que partem da maior floresta tropical do mundo e de seus múltiplos agentes.
Por meio da união de produções e pesquisas pensadas a partir do complexo amazônico, o novo projeto permanente do instituto será dividido em três eixos: expositivo — que contará com uma série de exposições, coletivas e individuais, de narrativas e pesquisas em torno de artistas e da cultura visual amazônica; experimental — uma programação de estudos, conversas, oficinas e projeções de obras audiovisuais intitulada Laboratório Amazônico —; e pesquisa — ativação de parcerias e residências com outras organizações, instituições e projetos artísticos que estabeleçam intercâmbios entre vozes de diferentes estados.
Neste âmbito, será aberta no dia 24 de junho a exposição "O Sagrado na Amazônia", coletiva que apresenta as diferentes manifestações do divino na região amazônica, a partir dos olhares de 30 artistas e coletivos. Com a curadoria de Paulo Herkenhoff — pesquisador que há mais de 40 anos se dedica ao fomento da produção artística no Norte do país e ao debate crítico acerca do conceito histórico de “visualidade amazônica” —, a mostra irá ocupar o térreo do Centro Cultural Inclusartiz até 17 de setembro.
“Como atividade integrante do nosso novo programa permanente, Amazônia, Agora, esta exposição tem como proposta ampliar o debate em torno das riquezas naturais e culturais brasileiras e de como suas complexidades impactam a produção de artistas e pensadores.”, declara Frances Reynolds, presidente e fundadora do Inclusartiz.
Dividida em diversos núcleos, a coletiva, concebida com a colaboração de Lucas Albuquerque — pesquisador independente e curador do programa de residências artísticas da instituição carioca —, aborda os mitos e rituais indígenas, a relação com o sagrado pautado pelo sincretismo afro-amazônico e os festejos e cultos de origem cristã, evidenciando a profunda conexão entre o homem e a natureza no território amazônico e estabelecendo a preservação ambiental como mecanismo principal para perpetuar a cultura e os saberes defendidos pelos povos representados.
"O Sagrado na Amazônia" conta com uma grande presença de artistas originários da região amazônica brasileira, como Denilson Baniwa e Rita Huni Kuin, e também de povos da Amazônia Internacional, como a peruana Lastenia Canayo. São 75 trabalhos produzidos a partir de diversos suportes, entre pinturas, fotografias, vídeos, objetos e esculturas; além de documentos históricos.
Um dos destaques é a obra da pintora Yaka Hunikuin, natural da Terra Indígena Kaxinawa do Rio Jordão, no Acre. Na tela Yube Shanu, a artista versa sobre a cerimônia de cura pelo nixi pae, na qual é consagrada a medicina da Ayahuasca. De acordo com Paulo Herkenhoff, a cena representa o espírito do pajé, que preside a roda, o qual trata da pessoa que passa por um processo de cura, estando deitada na rede dentro da maloca.
Fotografias do paraense Guy Veloso, que registrou uma ampla gama de festas católicas na Amazônia, como a Marujada de São Benedito (Bragança, Pará) e a Festa de São Tiago (Mazagão Velho, Amapá), também compõem a seleção de obras. “O conjunto de suas imagens captura e demonstra uma Amazônia das religiões vorazes por corpos”, conta o curador.
Entre as seitas pentecostais, ele documentou batismos de fiéis da Igreja Deus é Amor. Entre as religiões afro-amazônicas, já se voltou para a Umbanda, o Candomblé e o Tambor de Mina, no Maranhão. “Neste tempo de perigosa intolerância, trago várias religiões, desde afro-brasileiras, passando pelo catolicismo até os neopentecostais, para em um ‘transe’ inter-religioso lançar um libelo à paz”, completa Guy Veloso.
A paraense Paula Giordano também integra a exposição com quatro fotografias autorais em preto e branco que, para o curador, revelam a absoluta entrega dos fiéis do Círio às homenagens à Virgem de Nazaré, capturando a intensidade da dor e do suor na fricção entre os corpos na procissão. Giordano apresenta ainda uma imagem a cores, que retrata o Pajé Júlio, quilombola da Ilha de Marajó que, atuando sob transe, faz trabalhos gratuitos de cura física e espiritual, flechadas e quebrantos.
“Para este momento, trago fotografias da minha pesquisa de longa duração, iniciada em 2012, em que investigo a relação do homem com o divino. Não é sobre uma religião, mas sobre espiritualidade, fé e resistência”, finaliza Giordano.
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