Sem tabus, 'Derrapada' aborda os apuros da gravidez na adolescência

Rio - Abordando os desafios da gravidez na adolescência, o longa "Derrapada" acaba de chegar aos cinemas brasileiros. Adaptação do livro inglês "Slam", de Nick Hornby, a obra mostra o dilema de Melina [Nanda Costa], ao ver sua história se repetir quando o filho Samuca [Matheus Costa], de 17 anos, engravida a namorada, Alicia [Heslaine Vieira]. Ambientado em Madureira, na Zona Norte do Rio, o filme dirigido por Pedro Amorim escancara a vivência na periferia. O diretor comenta o processo de transportar uma história do subúrbio londrino para o carioca. 

"O grande lance de adaptar um livro um filme para o seu para o seu país, para sua cidade ou para a cidade que você quer fazer, é você achar pontos cardeais e pedras fundamentais que façam com que você acredite que aquela história aconteça naquela cidade. No livro, a história se passa no subúrbio de Londres. Quais são os subúrbios do Rio? O Rio é imenso. Vamos para onde? Madureira, claro. Por quê Madureira? É um dos maiores subúrbios do Brasil e o personagem do Matheus é skatista. Então, pronto. A partir desses pontos cardeais que são espelhos, mas são brasileiros e cariocas, e você consegue criar uma realidade e o plano de fundo", destaca.

A história se passa no ano de 2016, quando os movimentos estudantis ganharam força em instituições brasileiras. Alícia, jovem negra de classe média, tem participação no grêmio estudantil. O diretor explica a escolha desse período para ambientação da trama. "É um momento muito importante de reivindicação dos alunos por ensino melhor, pelo aumento do salário dos professores e uma das razões principais era para deixar a personagem da Alice mais forte, porque no livro ela era meio fútil, meio patricinha e não tinha uma ideal, além de querer ser modelo. A gente achava que era muito importante o Samuca não se apaixonar por uma gatinha qualquer, mas também era fundamental, ele se apaixonar por uma mulher forte e que isso estivesse à frente da beleza, então acho que é essa foi a nossa questão com a adaptação."

Uma das protagonistas de "Malhação - Viva a Diferença", que foi ao ar em 2017 na TV Globo, Heslaine Vieira estrela mais um projeto que retrata a gestação durante a adolescência, desta vez, como a jovem mãe. "É completamente diferente, mas eu tentei trazer um pouco dessa experiência ali no set com a Gabi para cá, mas ao mesmo tempo contei muito com ajuda da Estrela, que é a nossa preparadora de elenco, com as mulheres da equipe, com a Nanda Costa...Eu queria que, embora não tivesse essa vivência, que isso passasse para a tela e esse era meu grande objetivo. Mas é importante a gente falar com o jovem de uma forma séria, falar sobre escolhas de ter o filho ou não ter", disse.

"Essa história também se passa a partir da perspectiva do Samuca, que é uma visão masculina, a gente sabe que a quantidade de mãe solo é assustadora, mas aqui a gente fala de um adolescente que está tentando entender esse processo da gravidez junto com a Alicia, tentando entender como isso também afeta a vida dele, a dela e quais são as consequências disso. Eu acho que esse filme trata sem tabu, mas com bastante verdade essa história", completa.

A atriz ainda destaca a coragem de Alicia para lidar com a gravidez, mas pontua que, diferente da realidade de muitas mulheres, sua personagem tem o apoio do namorado. Para Heslaine, é significativo mostrar a paternidade em exercício. "Acho que ela é bastante forte e traz o Samuca junto com ela, né? Ele participa desse processo também e é um pai presente dentro das limitações dele. Acho que é muito importante também olhar essa perspectiva. Mas a gente fica esperando isso acontecer, mas nós mulheres somos responsabilizadas por tudo, né? Eu acho que a gente tá mostrando mais do que isso no filme. Porque isso é uma realidade que a gente conhece bastante e o filme, embora mostre isso, ele também traz o lado do Samuca."

Responsabilidade

Intérprete de Milena, Nanda Costa reflete sobre a inversão no papel visto na sociedade, em que a mulher assume completamente a responsabilidade com o filho, e comenta a presença de Samuca nos cuidados da criança. "Estamos falando do pai ficar com a criança. O Samuca acaba ficando com a criança para que a Alice possa estudar. Eu acho que a gente precisa muito pensar para não se assustar e não julgar porque cada um sabe da sua história. A maternidade é difícil mesmo, é um grande desafio sobretudo tão jovem, né?", pontua.

Mãe das gêmeas Kim e Tiê, a atriz de 36 anos brinca com a experiência de ter sido avó na ficção. "Foi um sustinho! Caramba, agora a gente está começando a pensar que se vai ter avó irão pensar em mim. Antigamente, eu era a mãe adolescente e de repente eu virei a avó. Mas eu estou amando isso. Adoro desafio, eu acho que é bom poder contar histórias em lugares diferentes e não estranhei porque é isso, né? A Melina queimou a largada, o Samuca queimou a largada e eu acabei fazendo uma jovem avó, porque os dois anteciparam o que é esperado de uma maternidade, né?", opina.

"Então acho que a real é que não existe a hora certa para ter filhos. Às vezes acontece cedo. Às vezes demora para acontecer e no meu caso demorou um pouco mais no caso da Lan, que é a minha companheira, demorou mais ainda com 54 anos, e assim a hora certa é a hora que o filho vem, eu acho."