Publicado 05/11/2023 07:00
Rio - Levando o funk carioca para o mundo, o DJ Gabriel do Borel, que é responsável pela produção dos últimos lançamentos de Anitta, como "Mil Veces", "Casi Casi", "Used To Be" e "Funk Rave", celebra as parcerias de sucesso ao lado da cantora. O funkeiro, que também produziu músicas de Luísa Sonza, Rosalía e Ludmilla, fala ainda sobre o novo momento que está vivendo: a estreia como ator. Gabriel integra o elenco do filme de Claudinho e Buchecha, "Nosso Sonho", e fez uma participação em "Vai Que Cola", do Multishow, que foi ao ar na última quinta-feira (2). Confira a entrevista!
- Como foi o processo de produção do último lançamento de Anitta, a música "Mil Veces"?
A ideia era que fosse uma música que ficasse na cabeça das pessoas ao ponto delas repetirem mil vezes o seu refrão (risos). Essa música foi produzida no último song camp (acampamento criativo) que nós fizemos, que foi em Miami. E ao mesmo tempo que ela tinha um ponto bem positivo, que facilitava muito, porque a comunicação já era bem melhor, já que tinha uma sintonia melhor com a Anitta e toda equipe, além de um entendimento melhor sobre o que ela queria exatamente, também trouxe um certo desafio no sentido em que depois de várias músicas já produzidas, a gente tinha que vir com novos arranjos, algo que diferenciasse ela das demais. Então apostamos nesse funk melody, que remete muito à Anitta da antiga e ao funk dos anos 2000.
- Além de "Mil Veces", você já produziu outras músicas da Poderosa, como "Funk Rave", "Casi Casi" e "Used To Be". Como vocês se conheceram e como começou essa parceria?
Conheci a Anitta através de um amigo que me chamou para ir numa festa dela com ele. E na ocasião, eu, bem ousado, a chamei para fazer uma música comigo. Ela foi um amor de pessoa, me respondeu com maior carinho dizendo que animava fazer. Então, nós marcamos uma sessão de estúdio, ela estava presente e, inclusive, deu várias ideias, porque ela tem uma mente brilhante. E assim surgiu a nossa primeira parceria, que foi numa faixa minha chamada “Joga Sua Potranca”, que agora já soma quase dez milhões de visualizações no Youtube. Hoje, nós somos amigos, temos um grupo e, agora com esse projeto do novo álbum dela, nos falamos quase todos os dias. Mas dessa vez, o convite para essa nova parceria veio dela e, aliás, foi incrível! Ela me mandou mensagem para estar em Los Angeles com os maiores nomes do entretenimento mundial e nos melhores estúdios. No total, foram três song camps, dois lá e um em Miami, e participei da produção de quase 50 faixas. Estou muito feliz com o resultado e foi incrível estar trabalhando mais uma vez com ela e com tanta gente incrível do mercado nesse projeto.
- Com diversas músicas em colaboração com grandes artistas no currículo, qual delas você acha que foi seu maior desafio?
Acho que todas elas trazem um tipo de desafio diferente. Não que seja maior ou menor do que das outras, mas porque tem que ter sempre alguma coisa diferente em cada uma delas. Um toque especial que vai diferenciar elas de tudo o que está no mercado e, ao mesmo tempo, deixar a sua marca registrada naquele hit.
- O que representa para você ver o lugar e proporção que o funk está tomando?
Para mim representa uma grande conquista. O funk é alegria, é diversão e também uma forma de expressão. É um dos ritmos mais envolventes e de fato popular, que é ouvido desde os bailes de favela até nos condomínios de luxo de bairros nobres, em todo canto do Brasil. E mesmo sendo reconhecidamente parte da cultura carioca, é um movimento que meio que segue os passos do samba, do rap, da capoeira e até mesmo do futebol, que historicamente tem o protagonismo majoritariamente negro e a criminalização informal, por suas raízes estarem nas regiões da periferia. Então, ver toda essa proporção, até mundial, que ele vem conquistando, representa muito, porque o funk mudou a minha vida e vem transformando também os destinos de muitas pessoas, principalmente nas comunidades, onde existem muitas pessoas talentosas a espera apenas de uma oportunidade.
- Olhando para trás, como se sente tendo tantas produções de sucesso? O que acha que foi essencial na sua trajetória?
Na verdade, é um misto de sensações que fica difícil até achar palavras para explicar. Tenho vivido muitas coisas emocionantes e muito especiais na minha carreira, mas levando em consideração a realidade de onde eu vim, esse ainda é o tipo de coisa que você se pergunta se está mesmo acontecendo, sabe? A ficha demora um pouco a cair. E eu acho, de verdade, que o essencial foi acreditar no meu sonho, mesmo quando ele parecia ser totalmente impossível, por conta de toda a realidade que eu e a minha família vivíamos. Olho hoje para a minha trajetória e também de outros artistas como a Anitta e a Ludimilla, e fico muito feliz porque vejo mais uma vez o Brasil conquistando o mundo. O menino do Borel que sonhava em conquistar sua comunidade está voando alto, tendo seu trabalho reconhecido e tornando o nome do Borel também conhecido. Porque a gente costumava a ver um nome de comunidade em destaque, apenas quando era para falar sobre violência e outros problemas sociais. Então, essa é uma forma de dizer que a favela também é cultura. E ser porta-voz disso é muito gratificante, principalmente porque a medida que artistas como nós vão avançando, eu consigo ter uma dimensão melhor do quanto o nosso trabalho e a nossa arte estão conseguindo contribuir para que o nosso funk quebre barreiras. O funk hoje tem chegado a lugares que era muito difícil de se pensar há bem pouco tempo, o que é uma grande vitória para o movimento. Mas ainda existem barreiras que precisam ser quebradas. Hoje, estamos liderando as principais playlists das plataformas digitais, mas por toda sua história, o funk precisa e merece ter mais respeito.
- Com qual artista você tem o sonho de produzir uma música?
Nossa, são vários! O meu sonho é produzir com os maiores nomes da indústria, como The Weeknd, Travis Scott, Bad Bunny, Taylor Swift, entre outros.
- Qual conselho você dá para quem está começando no funk?
Não desista. Mesmo que as circunstâncias e o mundo todo digam que não, os nossos sonhos são sim possíveis. Depende da sua força de vontade e você tem que querer. Eu venho de uma família que não tinha condições financeiras. Minha mãe sempre trabalhou como doméstica. A casa que a gente morava, inclusive, era de um cômodo só, com banheiro. Era lance de dormirmos eu, minha mãe, meu padrasto (na época), e meus irmãos, todos na mesma cama. E hoje, aquele menino sonhador do Borel está vencendo! Tenho muitas novidades a caminho e vou continuar batalhando em busca dos meus sonhos. Quando eu comecei a dar meus primeiros passos na música, eu sonhava em me tornar reconhecido apenas no Borel, minha comunidade. E quando o Beat do Borel estourou no Brasil inteiro, eu fiquei muito feliz porque vi que eu poderia ir muito além e estou indo, graças a Deus!
- Um sonho que ainda não conquistou?
Cada dia eu realizo um sonho diferente e cada dia eu vou sonhando mais. Prefiro guardar os meus sonhos, mas fiquem tranquilos que muitos já estão sendo realizados e vocês vão saber em breve alguns deles.
- Quais são os seus próximos projetos?
O ano de 2023, como um todo, está sendo muito produtivo para mim e de muitas realizações, profissionalmente falando. Além da minha música como trilha do desfile da Louis Vuitton (ano passado teve uma outra no fashion film da Mugler), e das minhas parcerias recentes com a Anitta, também fiz parceria com a Ludmilla e tive a oportunidade de estrear como ator, fazendo parte do elenco do filme “Nosso Sonho”, a cinebiografia do Claudinho e Buchecha. Fiz também uma participação no programa "Vai Que Cola". Também tive duas músicas de produção minha na trilha sonora da série "Robin Hood", que estreou no final de setembro. Fiz turnê na África, shows pela Europa e lancei algumas músicas que também coloco minha voz. E mesmo estando já tão perto do ano acabar, ainda tenho bastante novidade para trazer para o meu público. A maioria delas ainda não posso falar, mas temos mais algumas músicas com a Anitta, parceria com a Bad Gyal, que já foi anunciada, e com outros artistas da Espanha, Argentina e, possivelmente, uma dos Estados Unidos, que será uma grande surpresa. Algumas coisas ainda estão em negociações, mas será algo assim, inacreditável. Surreal mesmo!
- Como foi atuar nessas produções? Pretende investir mais nesse lado ator?
Eu sempre admirei o trabalho de muitos atores e atrizes, mas confesso que nunca me imaginei atuando. Sempre estive muito focado no meu sonho de ser DJ. E ao longo da minha carreira, as experiências nos clipes e nos palcos foram despertando essa curiosidade e mostrando que todos nós artistas somos um pouco atores também. Então, estou muito feliz, porque essa é uma oportunidade de mostrar que o Gabriel do Borel é um artista plural. E estar participando do "Vai que Cola" é, de verdade, surreal, porque são atores muito talentosos, que sempre me fizeram rir muito em casa assistindo. Assim como participar do filme "Nosso Sonho", que traz ali a memória de muitos artistas que abriram essa estrada do funk para que a nossa geração agora pudesse caminhar. No início, em ambos, acho que por ser algo tão novo e diferente do que faço habitualmente, fiquei um pouco nervoso, mas todos foram muito gentis e generosos comigo, me ajudando com o texto e dando dicas também.
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