Jorge Aragão homenageia a cultura preta no EP Projeto IdentidadeDivulgação/ Yves Lohan
Publicado 25/11/2023 07:00 | Atualizado 25/11/2023 09:22
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Rio - O que não falta é motivo para comemorar! Após anunciar que teve remissão completa do câncer, Jorge Aragão está trabalhando em seu novo EP, intitulado "Projeto Identidade". O artista divulgou, na sexta-feira (24), a mais recente canção, "Moleque Atrevido", que vai passar a se chamar "Respeita", e foi gravada ao lado de Djonga. Ao DIA, o cantor fala sobre o diagnóstico do linfoma, o novo álbum e sua parceria com o rapper Xamã, na regravação do sucesso "Eu e Você Sempre".
"Quem me conhece desde o início da minha carreira, sabe que a minha base está fincada no samba, mas também sabe que eu já fui guitarrista de banda de baile e já gravei tanta coisa que me dá a liberdade de uma visão própria sobre a minha musicalidade. E algum tempo atrás eu tive um convite para poder fazer uma música com o Xamã e aí eu busquei entender um pouco mais sobre ele e todo o mundo dele. Iríamos fazer outra música, mas acabamos fazendo 'Eu e Você Sempre', que na nova versão passou a se chamar 'Sempre Eu e Você'", conta Jorge sobre a canção, originalmente lançada nos anos 2000.
O sambista relembra como foi a escolha de Xamã e a inclusão de um novo trecho na regravação da música. "Eu o conheci no Prêmio Sim à Igualdade Racial, e numa das nossas conversas, contei sobre o Projeto Identidade e ele quis participar. Trabalhar com o Xamã foi uma maravilha. De cara, quando você olha para ele, já percebe que é um menino do bem, uma pessoa que você se sente à vontade de estar do lado. Quero dizer, eu, respeitando o posicionamento dele hoje dentro do mercado, a evolução que teve, todo trabalho dele, fiquei muito, muito, muito contente de poder tê-lo comigo cantando, principalmente dividindo uma faixa que é parte importante da minha trajetória musical. E agora somos autores parceiros, ainda bem!", celebra.
Fã declarado de Aragão, Xamã não esconde a emoção de participar do projeto. "Foi uma grande honra! Eu sou um grande fã do Jorge há anos e poder colaborar em uma música com ele é um sonho realizado. O processo todo foi muito especial. A ideia era trazer uma abordagem contemporânea para a canção, adicionando elementos do meu estilo e da minha vivência ao lado do Jorge. A letra eu fiz junto do meu parceiro Ramon Calixto, que também é o meu diretor musical. Foi irado demais misturar samba e rap", diz.
Homenageando a cultura preta, o novo EP, "Projeto identidade", descrito por Jorge como "um bom encontro entre o samba e o rap", terá música a música lançada semanalmente até janeiro de 2024. A primeira canção foi divulgada no mês da Consciência Negra. "Prestigiados são aqueles que usam a arte como luta. E eu fico feliz em saber o que fiz pela música. Temos a cor da noite, somos filhos de todo açoite, mas podemos construir diariamente novos caminhos. Seguimos unidos, mais fortes e mais lindos", reflete o veterano.
Xamã ressalta, então, a importância de fazer parte de um projeto como esse: "Para mim, representa um momento de celebração e reconhecimento da cultura preta e também indígena. A música tem um poder transformador, e espero que esse projeto possa inspirar o diálogo e reflexão sobre essas questões".
Além das regravações já lançadas com Xamã e Djonga, compostas e interpretadas pelos rappers, o "Projeto Identidade" vai contar ainda com participações de BK, Emicida, L7nnon, Rappin Hood, Liniker, Negra Li e uma faixa totalmente inédita com Xande de Pilares. As músicas também vão ter um lyric video (conteúdo audiovisual em que uma música toca ao fundo e a letra aparece simultaneamente na tela) e um mini-documentário, onde o cantor e os rappers convidados vão falar mais sobre o projeto e seu significado.
Sobre a seleção de artistas e o processo de criação para o EP, Jorge relata: "Depois que eu fiz essa parceria com o Xamã, me veio uma curiosidade de saber como é a musicalidade deles. E eu comecei a entender melhor e até achar muitas semelhanças com o samba. Então começamos a fazer esse projeto, com toda essa temática das pessoas negras, faveladas, de subúrbio. E agora eu conheci os meninos e comecei a me identificar com o Matuê, o Marcelo D2, que eu já até conhecia, o Xamã, o Djonga e todos os outros".
Remissão do câncer
Em outubro, Jorge Aragão anunciou a remissão completa do câncer que vinha tratando desde julho deste ano. O sambista, então, revela como foi a descoberta do linfoma não Hodgkin, que tem origem nas células do sistema linfático e que se espalha de maneira não ordenada.
"Primeiro, quando você recebe a notícia de ter um linfoma, é uma sentença. Não adianta. Você até conhece pessoas que venceram essa doença, mas é estranho porque a gente só consegue lembrar daqueles que se foram por ela. Então, é meio que como uma sentença de que acabou a sua vida. E logo que tomei consciência, já comecei logo o tratamento, que inclusive foi feito por uma hematologista e não uma oncologista. E aí que eu fui tomando ciência de que eu poderia superar. E quando os médicos falaram que estou em remissão, fiquei muito feliz, ao mesmo tempo que grato", conta.
O cantor, então, descreve a nova fase de sua vida após a remissão do câncer e o lançamento de novos projetos. "Para mim, é como se eu tivesse nascido agora. Nasci agora já sabendo compor e com todo um aprendizado de vida e de tecnologia ao meu redor", diz.
Inspiração
Com mais de 40 anos de carreira e sucessos que passaram por diversas gerações, Jorge Aragão reflete sobre a importância da música em sua vida. "A música e o samba para mim são como se eu tivesse só a carne e alguém viesse colando a minha pele de cima a baixo. É a maneira como eu me apresento hoje para o mundo. O samba é minha identidade, o samba é meu sorriso, o samba é minha letra... Só não vou dizer que o samba é o ar que eu respiro porque seria muito piegas (risos). Sua importância, na favela ou em qualquer lugar, é a mesma que dou a minha raça. Ele é primordial. E acima de tudo, minha defesa também", pontua.
Para os artistas que estão começando, o músico aconselha: "Seja verdadeiro com os sentimentos. Fale do que te emociona. Pense e sinta o que as músicas estão passando".
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