Alexandre Louzada é o carnavalesco da Beija-Flor de NilópolisFoto: Divulgação / Eduardo Hollanda
Publicado 11/04/2022 16:57 | Atualizado 21/04/2022 18:18
Rio - Inspirado na figura do Pensador, do povo tchowkwe, a Beija-Flor vai trazer um retrato da contribuição intelectual negra no Brasil. Sob o comando do carnavalesco Alexandre Louzada, o enredo "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor" levará para a Marquês de Sapucaí o "levante quilombista", em nome do reconhecimento da intelectualidade preta.
Ao DIA, Louzada ressaltou a honra em assinar um desfile da agremiação de Nilópolis, Baixada Fluminense. "De verdade, é uma grande responsabilidade, mas eu não direcionei para mim os holofotes. É um enredo que me fez ouvir mais do que o exercício da fala. Todo o tempo fui o intérprete plástico de muitas vozes. Temos aqui uma equipe brilhante e que, juntos, construímos um grandioso Carnaval", comemorou o carnavalesco.
Com "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor", a Azul e Branca de Nilópolis vai retratar na Marquês de Sapucaí as diversas contribuições de intelectuais pretos ao longo do tempo. "O samba-enredo da Beija Flor é uma poesia contundente que aborda de forma magnífica todas questões que iremos retratar, além de belo, ele toca diferentemente as pessoas em cada verso, cada frase, criando identidades diversas como um hino que representa esse levante", explicou.
Com várias passagens pelo comando da Beija-Flor, Louzada deu um pequeno spoiler de uma homenagem ao carnavalesco Laíla. Aos 78 anos, o diretor de Carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo foi uma das vítimas da covid-19 em 2021. Com mais de 50 anos de trabalho com o Carnaval carioca, Laíla dedicou mais de 30 à Beija-Flor de Nilópolis, sendo campeão 14 vezes. 
"Se a Beija-Flor se credencia como escola de samba e de vida, voltada para a sua comunidade, tem sim, muito do trabalho do Laíla em sua história. Ele será homenageado, tanto pelo seu legado mas também como ícone, junto com tantos outros personagens exemplo expostos nesse enredo. Laíla sempre será inspiração para todos nós", defendeu Alexandre Louzada.
Com o desenvolvimento do desfile todo feito durante a pandemia da covid-19, o carnavalesco enxerga que trabalhar durante o período foi um desafio. "Acho que a pandemia, primeiramente, mexeu com o nosso psicológico, reconheço que foi bastante difícil pensar em alegria e festa num momento tão avassalador. Foi um grande exercício de superação e resiliência. De cuidados com protocolos sanitários, pois a empatia do povo do samba para com todas as perdas humanas, sejam dos notórios ou dos anônimos, nos uniu na dor e na luta para vencer essa adversidade", argumentou Louzada, que continuou:
"No que diz respeito ao trabalho, foi uma tarefa que exigiu paciência porque o número de pessoas envolvidas foi reduzida e também porque tivemos que buscar alternativas de matéria prima devido à escassez de oferta".

O samba-enredo é de autoria de J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa e é interpretado por Neguinho da Beija-Flor. A agremiação será a sexta e última a passar na Avenida já no sábado, 23 de abril, ainda na primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.
No último Carnaval, sob o comando de Alexandre Louzada, a Beija-Flor de Nilópolis conquistou o quarto lugar da competição com o enredo "Se essa rua fosse minha". O samba-enredo foi composto por Magal Clareou, Diogo Rosa, Julio Assis, Jean Costa, Dario Jr e Thiago Soares. 
Confira o samba-enredo:
Confira a letra: 
A nobreza da corte é de Ébano
Tem o mesmo sangue que o seu
Ergue o punho, exige igualdade
Traz de volta o que a história escondeu
Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu
Mas você não reconhece o que o negro construiu
Foi-se ao açoite, a chibata sucumbiu
E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil
Quem é sempre revistado é refém da acusação
O racismo mascarado pela falsa abolição
Por um novo nascimento, um levante, um compromisso
Retirando o pensamento da entrada de serviço

Versos para cruz, conceição no altar
Canindé Jesus, ô Clara!!
Nossa gente preta tem feitiço na palavra
Do Brasil acorrentado, ao Brasil que escravizava

E o Brasil escravizava!!

Meu pai Ogum ao lado de Xangô
A espada e a lei por onde a fé luziu
Sob a tradição Nagô
O grêmio do gueto resistiu
Nada menos que respeito, não me venha sufocar
Quantas dores, quantas vidas nós teremos que pagar?
Cada corpo um orixá! Cada pele um atabaque
Arte negra em contra-ataque
Canta Beija Flor! Meu lugar de fala
Chega de aceitar o argumento
Sem senhor e nem senzala, vive um povo soberano
De sangue azul nilopolitano

Mocambo de crioulo: Sou eu! Sou eu!
Tenho a raça que a mordaça não calou
Ergui o meu castelo dos pilares de Cabana
Dinastia Beija Flor!
Ficha técnica: 
Nome: Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis
Posição do desfile: sexta escola a desfilar
Dia e hora: sábado, às 3h
Cores: Azul e branco
Presidente: Almir Reis
Presidente de Honra: Anízio Abraão David
Carnavalescos: Alexandre Louzada
Rainha de Bateria: Raíssa de Oliveira
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho e Selminha Sorriso
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Composição: J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa
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