Publicado 23/04/2022 05:00
Rio - Princesa da Paraíso do Tuiuti, Mayara Lima, de 24 anos, é o nome deste Carnaval. A jovem atraiu todos os holofotes após um vídeo em que esbanja sincronia com a bateria viralizar nas redes sociais, no mês passado. Nos ensaios técnicos da agremiação, ela foi ovacionada pelo público. Neste sábado, a professora de samba volta a pisar na Marquês de Sapucaí e revela sua expectativa para o desfile da Azul e Amarelo, que levará o enredo 'Ka ríba tí ÿe - Que nossos caminhos se abram', desenvolvido por Paulo Barros, que homenageará personalidades como Barack Obama e Nelson Mandela ao celebrar histórias de luta e resistência negra.
"Estou muito ansiosa, com um frio grande na barriga. Pra mim, é novo estar à frente da bateria e também essa exposição no Carnaval. Aí você junta tudo isso. É muita emoção", brinca Mayara, que se sentiu envergonhada ao ser elogiada por seu samba no pé por várias celebridades. "Ser elogiada pelo meu talento é maravilhoso. Mas confesso que me senti um pouco envergonhada. É isso, sou muito simples. Sempre estudei samba, me profissionalizei e pretendo continuar seguindo esse caminho".
A beldade, que desfila pela Paraíso do Tuiuti desde 2011, ainda fala sobre a responsabilidade de estar à frente da bateria do Mestre Marcão. "Representa muito pra mim e para muitas meninas. Sempre sonhei em estar à frente de uma bateria. É uma conquista muito grande, independente do cargo", confessa ela, que cita suas maiores referências no Carnaval Carioca. "Gosto da Evelyn (Bastos, da Mangueira), Raissa (de Oliveira, da Beija-Flor), Bianca (Monteiro, da Portela), Raphaela (Gomes, da São Clemente). Elas são mulheres da comunidade e isso é muito legal. A gente se enxerga nelas".
Há poucas horas antes de cruzar a Passarela do Samba, a professora entrega alguns detalhes de sua fantasia. "Ela representa as mulheres negras, as deusas africanas. Vai ser um pouco mais ousada. Decidi colocar o corpo pra jogo na Sapucaí (risos). A verdade é que a fantasia não é nem muito pelada e nem muito tapada, acho que as pessoas vão gostar", opina.
Ao relembrar o último desfile, Mayara cita um perrengue que enfrentou na Avenida. "Perrengue é o que a gente mais passa, né? É costeiro caindo por causa do peso, é sandália que não fecha. No último desfile, em 2020, minha sandália não queria fechar de jeito nenhum. Mas a gente deu um jeitinho e encaixamos ela. Fui dar uma entrevista. A repórter me pediu pra sambar. Pronto, as tiras da sandália quer eram até a coxa começaram a cair. Comecei a chorar. A minha mãe amarrou de um lado, meu amigo do outro e fui sambar. Conclusão, o perrengue vem. Mas a magia do Carnaval é tão grande que isso tudo fica pra trás".
E, se depender da Princesa, a Paraíso do Tuiuti leva o título deste ano. "A gente tem muito respeito por todas as escolas. Mas, com certeza, a gente quer ser campeão. Estou muito confiante para trazer esse título para e escola. Está tudo muito lindo", revela.
Professora de samba
O amor de Mayara pelo samba virou profissão. "Dou aulas de samba há oito anos. Trabalhava em uma escola como professora, queria fazer pedagogia, dar aulas, levar isso pra minha vida. Mas fiz uma viagem para o exterior em 2016 para dar aulas de samba. Quando eu voltei, decidi que não seria mais professora de escola e, sim de samba", afirma. Com o furor em torno da jovem neste Carnaval, ela confessa que deu uma pausa nas aulas, mas deve retornar em breve. "Não consegui continuar dando as minhas aulas, por conta do Carnaval. Então, foquei nisso da preparação para o desfile e tudo mais. Mas não vou parar de sambar e nem dar aula de samba. Quando eu voltar, tomara que tenha muitas alunas. Meu whatsapp de trabalho está cheio", vibra.
Cria da Cidade de Deus
Mayara Lima mora há dois anos em São Cristóvão. No entanto, ela é nascida e criada na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. "Vivi minha vida inteira na Cidade de Deus. Quando eu vou à Comunidade, as pessoas ficam felizes de me verem, elas dizem que se sentem representadas por mim, elogiam meu samba. Brincam que eu estou levando a CDD para o mundo. Meus primeiros passos do samba são dali. Nunca vou esquecer minhas raízes. Muitas meninas daquela comunidade se sentem representadas por mim e isso é muito especial".
Família respira o Carnaval
Casada com Renan Marins, diretor de barracão da escola, a professora diz que a família vive em função do Carnaval. "A gente não tem vida, respiramos Carnaval. É trabalho o ano inteiro", diverte-se. Os dois são papais de Arthur, de três anos, que já mostra interesse pelo samba. "Ele curte os ensaios. A gente leva um pouquinho. Ele canta o samba, já samba um pouquinho no quintal. Tem jeito".
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