Na foto, Aluana Guilarducci, 41 anos, e Leticia participam do bloco em pernas de pauSandro Vox
Publicado 22/04/2022 19:24
Rio - Blocos de rua estão desfilando em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro desde a quarta-feira (20) do carnaval fora de época, mesmo sem o apoio da prefeitura, que cancelou o carnaval de rua. Nesta sexta-feira (22), "A Banda" saiu da Rua do Mercado, próximo a Praça XV, e desfilou pelas ruas do Boulevard Olímpico, acompanhado de centenas de foliões. Somente os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, na Intendente Magalhães e os shows no Terreirão do Samba haviam sido confirmados de maneira oficial no município.

Outros blocos também desfilaram pela cidade durante esta manhã, o "Filhotes Famintos", levou foliões para o Armazém Utopia, enquanto o "Flor do Reggae" se concentrou na Praça Marechal Ancora. De pernas de pau a fantasias representado animais, os foliões se divertiam ao som de marchinhas como "mamãe eu quero" e "abre alas", tocadas pela Banda.

A professora Aluana Guilarducci, de 41 anos, foi uma entre as foliãs que apostaram no uso das pernas-de-pau para se jogar na folia. Para ela, a volta dos blocos representa muito para os amantes de carnaval, mesmo com as suas limitações.

"Eu tô no carnaval já tem uns 18 anos, por aí, nesse carnaval de rua e apesar da falta de estrutura que a gente tem esse ano, o carnaval é uma festa popular dessa cidade, parte da cultura da cidade, e como são quatro dias de carnaval pela prefeitura, apesar da falta de estrutura, a gente tá aqui fazendo festa. Depois da pandemia, depois de tantas mortes, de tanta irresponsabilidade dos governos diante disso, aqui, para gente, é uma festa pela vida. É festejar que a gente tá vivo, que a gente sobreviveu e o carnaval representa isso, também um renascer", expôs.

Pelo menos 30 blocos ainda devem desfilar na cidade até este domingo (24). Ao total, mais de 60 vão passar pelo Rio arrastando foliões saudosos do carnaval, entre quarta e domingo. A foliã Carolina Barbosa, de 32 anos, que é fisioterapeuta e moradora de São Paulo, contou que veio para o Rio para curtir o carnaval.

"Tem um pouco de emoção de poder encontrar as pessoas e um pouco de medo por conta de não ter sido liberado, a gente não ter segurança, tanto aqui no Rio, quanto em São Paulo. Mas é importante a gente voltar com as festas de rua, com as manifestações, é um misto de emoções. Eu gosto do Rio, eu sempre venho, e eu vim ver uns amigos aqui pelo feriado e aproveitei o carnaval".

A folia também reuniu famílias com crianças e adolescentes no local. a chef de cozinha Priscila Lacerda, de 34 anos, levou sua filha, acompanhada de outros amigos, seu marido e sua filha.

"O carnaval é um momento muito importante da nossa vida, eu acho que o carnaval traz a felicidade da batalha de todo um ano, é aquela pausa para gente vai respirar e lembrar porque que a gente tá vivendo, porque a gente tá aqui, carnaval alegria". A chef ainda destacou a importância dos blocos menores estarem colocando seu carnaval na rua e dá acessibilidade para que famílias com crianças também possam participar da festa.

"Normalmente são nesses pequenos blocos que, por exemplo, pessoas como eu, que tem filhos, vão procurar, porque eu não vou me enfiar no meio do monobloco, eu não vou me enfiar no meio do bafo da onça ou qualquer outra coisa, não tem como com crianças. Para criança não é legal e a a gente fica sempre na tensão".

A professora Gabriela Serpa, de 39 anos, era uma das integrantes do grupo de Priscila e também levou seu filho para pular carnaval. Segundo ela, esses dias de ‘transgressão’ são necessários, principalmente paras os cariocas e que a volta dos blocos dá oportunidades das crianças conhecerem um pouco mais da festa popular.

"O carnaval é um momento de transgressão necessária. A sociedade precisa do carnaval, a gente precisa do carnaval, porque é a nossa dose de transgressão por um momento de mais a pressão do trabalho, de um momento de mais a pressão na vida. Para quem é a mãe, para as crianças poderem vir a saber o que é um bloco, o carnaval, depois ficar muito tempo sem fazer nada. E para quem é carioca já faz parte da cultura da gente vir para o bloco, vir para o carnaval, desligar a cabeça das coisas e viver a transgressão do carnaval. Beber mais, sair mais, se vestir como quiser, fazer as coisas como a gente entende. É direito implícito na sociedade viver o carnaval e os momentos dos quatro dias para conseguir levar o resto do ano em momentos mais difíceis, como agora".

Apesar da falta de apoio do governo, policiais e guardas municipais foram vistos nos entornos dos locais fazendo a segurança do caminho onde o bloco desfilou. Em todo o momento, as pessoas curtiam e festejavam de forma pacífica.
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