Publicado 18/02/2023 10:22
Rio - O Cordão da Bola Preta promoveu neste sábado, 18, no Centro do Rio, seu 103º desfile. Considerado o mais tradicional da cidade, o bloco, que ficou sem ir às ruas em 2021 e 2022 por conta da pandemia, apostou na força de marchinhas e sambas antológicos para embalar os foliões. De acordo com os organizadores, o desfile, que começou às 8h e terminou por volta das 13h, reuniu mais de 1 milhão de pessoas na Rua Primeiro de Março e na Avenida Antônio Carlos.
Nas ruas de acesso ao local do desfile, policiais militares montaram pontos de bloqueio para controle e revista dos foliões, que formaram longas filas para passar pelos agentes.
O desfile começou com uma homenagem às vítimas de covid-19 e um discurso do presidente do Bola, Pedro Ernesto Marinho. No carro de som, a Corte Real, formada por celebridades e personalidades do Carnaval, levou o público ao delírio. Entre os destaques estavam a atriz Emanuelle Araújo, Musa; a Embaixatriz, a cantora Maria Rita; Madrinha, e atriz Leandra Leal, Porta-Estandarte.
A lista de famosos contou ainda com a atriz Paola Oliveira, Rainha; e Mirian Duarte, Musa do Centenário. Completam a Corte as Musas Adeline Gervágio, Taissa Marins, Cassia Silvia e Elaine BR.
O maestro da banda do Bola Preta, Altamiro Benedito Gonçalves, de 85 anos, que participa dos desfiles desde 1990 tocando trompete, falou sobre a emoção de poder voltar a desfilar. "Quando me trouxeram pra cá, me falavam: 'Olha, você tem que lá em cima pra ver como é isso'. Quando eu vi aquelas 2,4 milhões de pessoas (em 2013) lá de cima, aí já viu…", emocionou-se.
Ele afirmou que por conta da longa vivência no bloco, já não sente mais aquele friozinho na barriga. "Já não sinto mais isso. Sou responsável pela banda, então tenho que estar dando atenção a todos que me solicitam", explicou o maestro, que completou: "Enquanto tiver bem, eu vou participar. Depende da minha condição de saúde."
Presidente do bloco desde 2007, Pedro Ernesto Marinho, 70, tem mais de 50 anos de participação no Bola Preta. Ele comemorou a volta às ruas. "A alegria é muito grande, muita emoção, porque o Bola Preta é um clube de carnaval, nasceu para o carnaval, e ficar dois anos sem foi muito triste para nós. Tanto do lado emoção quanto do lado econômico. Mas graças a Deus a gente está firme e forte ai", celebrou.
Marinho ainda ressaltou a participação na folia. "Nós vamos para mais um carnaval, 103º da história do Bola Preta, com todos os ingredientes para agradar ao nosso folião. A razão da essência do Bola Preta é o povo, são os foliões. Estamos aí exatamente pra isso. Agradá-los com muita alegria e música de qualidade com a nossa tradicional banda", exaltou.
Com fantasias inspiradas nos prêmios do Grammy Latino da cantora Maria Rita, a enfermeira Regiane Finamore, 26 anos; as profissionais de marketing Patrícia Oliver, 21, e Ariane Machado, 24; além da bióloga Tainá Amorim, 23, todas amigas, se divertiram no meio da multidão.
"Somos fãs dela há muitos anos, e todo ano a gente vêm no Bola Preta com uma fantasia que remete a ela. Em 2020 a Ariane veio da própria Maria Rita, já viemos de 'Amor e Música', e esse ano a gente veio de Grammy", explicou Regiane.
Com exceção de Patrícia, que veio de São Paulo para curtir o carnaval, todas são do Rio. As amigas contaram, ainda, que já estão acostumadas a interagir com Maria Rita no desfile. "Ela dá tchauzinho e brinca do jeitinho dela, até o final".
Já a técnica de enfermagem Neide de Moura, 67 anos, aproveitou a festa em família. Ela foi ao bloco com a filha Marcela, 38, e os netos Ariane Mariana, 14, e Artur Mariano, 8.
"Sempre venho no Bola Preta. Nos sentimos muito seguros, está tudo organizado, sempre esteve. É maravilhoso festejar o Carnaval depois da pandemia", declarou Neide, moradora de Coelho Neto, na Zona Norte.
Outra família que aproveitou foi a de Laura Cesário, 35, mãe de Bruna Saiori, 16. Este ano é a primeira vez que as duas foram juntas aos blocos. "Somos uma dupla, eu e ela o tempo todo. A gente sempre se fantasia de formas diferentes, mas saindo iguais", disse Bruna. "A energia é boa demais, recarrega a gente pro ano inteiro", adicionou Laura.
Musa do Bola, a atriz Emanuelle Araújo também se jogou na folia. "Já chorei, já borrei a maquiagem toda. Eu sou musa da banda e pra mim é um orgulho! Esse é um bloco centenário. Tem senhores aqui que estão no Bola Preta há décadas e décadas".
"Eu passei por todo o período que vivemos na pandemia estimulando o Bola a continuar. Foi muito difícil para quem é carnavalesco, tudo o que a gente passou. Então chegar até aqui, ver que sobrevivemos, que está tendo carnaval, lindamente é muito emocionante", acrescenta, relembrando o período em que o carnaval foi suspenso por causa da pandemia.
Ela ainda comemorou por receber a faixa de musa. "Eu, finalmente, apesar de ter cantado dois anos do carnaval com eles (2019 e 2020), esse ano eu estou recebendo a faixa oficialmente e estou muito feliz."
Quem também marcou presença foi a atriz Paolla Oliveira. Vestida com uma fantasia em estampa de onça preta e branca — as cores do Bola —, a atriz destacou que o bloco consegue reunir uma multidão todos os anos. "A minha energia se renova quando eu estou aqui. Porque é um bloco tradicional, com essa quantidade de gente, é muito especial".
A rainha Leandra Leal relembrou que tem raízes no Cordão da Bola Preta, e também emocionou em poder voltar a carregar a bandeira do bloco, após a pausa da pandemia.
"Eu venho no bola desde criança, e esse ano estou muito emocionada de estar voltando, de ter carnaval. A gente voltou a ter carnaval, voltamos a sonhar. É o retorno de muita coisa".
O Cordão da Bola Preta foi fundado em dezembro de 1918, e alcançou a marca de bloco mais antigo em atividade no carnaval carioca no desfile de fevereiro de 2018, chegando ao centésimo ano de folia.
Folia por toda a cidade
O sábado também foi marcado pelos desfiles de outros 40 blocos pela cidade do Rio. O tradicional e criativo Céu na Terra começou a reunir foliões às 6h, em Santa Teresa. Na Zona Portuária, o destaque foi a passagem do Cordão do Prata Preta. Na Zona Sul, o Escangalha homenageou o centenário da Portela e contagiou o público, no Jardim Botânico. O mesmo aconteceu com o Empolga às 9, que arrebatou uma multidão em Copacabana.
Patrimônio imaterial do Rio, a Banda de Ipanema, fundada por Albino Pinheiro, também agitou foliões pelas ruas do bairro em seu tradicional desfile.
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