Iluminação é capaz de fazer focos de atenção em cenas do desfileDivulgação/ Rio Carnaval
Publicado 30/01/2024 16:40 | Atualizado 31/01/2024 14:04
Rio - Em seu aniversário de 40 anos, a Marquês de Sapucaí ficará mais estilizada com a maior adesão das escolas à iluminação cênica. No Carnaval de 2023, apenas cinco escolas utilizaram a tecnologia, que vai ganhar mais espaço este ano. Todas as agremiações do Grupo Especial vão lançar mão do sistema de luz de alguma maneira nos desfiles.

"Esse ano todas as escolas vão criar alguma coisa nova em cima da iluminação. Teve uma noite pra cada uma programar sua luz. Todo mundo passou por lá. Talvez não utilize uma luz muito marcada, mas escolheu a luz da entrada da escola, do intervalo. Uma coisinha todo mundo fez”, conta a diretora de iluminação do Carnaval da Sapucaí, Mariana Pitta.

A Beija-Flor de Nilópolis foi uma das que aplicaram a iluminação cênica na comissão de frente em 2023 e obteve a pontuação máxima no quesito. A iluminadora Tabatta Martins operou o sistema na Avenida no ano passado e retornará à sala de operação no domingo de Carnaval, quando a escola será a segunda a desfilar.

"A primeira vez, foi uma surpresa. Era uma novidade que envolvia muita responsabilidade. Foi o maior projeto que já fiz na minha vida", conta a iluminadora sobre o desafio da estreia da iluminação na Sapucaí. Acostumada a iluminar Cinema, Teatro e espetáculos, Tabatta conta que o trabalho no Sambódromo exige afinação com os coreógrafos da comissão de frente e que, sem ensaios gerais, as referências para guiar o trabalho se tornam o próprio samba-enredo e o avanço do desfile. A nota 40 para a comissão de frente de Nilópolis deu a confiança para a equipe de que o trabalho estava no caminho certo.

"Ninguém nunca tinha feito o recorte de luz. Havia medo de como seria o julgamento. A gente recebeu um monte de críticas positivas, mas ao mesmo tempo críticas temerosas. Era uma dúvida e o resultado fez a gente acreditar na ousadia", avalia a iluminadora. O recurso permite, entre outros efeitos, que uma determinada cena seja focada para atrair a atenção do público.  

A Viradouro, atual vice-campeã vai ampliar os efeitos de luz neste Carnaval. Sem entregar detalhes, o carnavalesco Tarcisio Zanon acredita que a tecnologia vai ganhar cada vez mais espaço no espetáculo. No ano passado, a escola de Niterói também empregou a iluminação na comissão de frente.
"No ano passado, a gente utilizou apenas na comissão de frente. Até porque a gente teve um tempo muito reduzido de teste. Esse ano, a gente pôde ser um pouco mais ousado. Eu estou utilizando a luz em outros momentos e trabalhando a materialidade do desfile, dos carros, das alegorias, para contrastar e ganhar maior efeito com essa luz", adianta Zanon.

Todas as escolas tiveram a oportunidade de ir à sala de operação para reconhecer o sistema e por dois dias levar fantasias, carros alegóricos, tripés para fazer os testes de luz. As cenas são gravadas previamente e o iluminador de cada escola é responsável por acionar os efeitos durante os desfiles.

Sem a possibilidade de ensaiar com os componentes, a iluminadora da comissão de frente da Beija-Flor, Tabatta Martins, conta que o roteiro começa a ser elaborado no barracão da escola e a gravação da luz é feita de forma solitária, sem a presença dos componentes na Sapucaí, como acontece no ensaio técnico.

"A partir do trabalho da coreografia, a gente constrói o roteiro do barracão. Como o Carnaval exige muito sigilo, não se pode ir com componentes, tripé, entregar tudo no teste de luz. A gente faz nas madrugadas e à pé, fazendo os desenhos de luz em frente às cabines dos jurados. Meu tempo é com o samba. Para mim, ele é o principal roteiro", explica a iluminadora, que trabalha pela segunda vez com a dupla de coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon.

Responsável pela iluminação da Sapucaí junto ao desenhista de luz e diretor de fotografia da TV Globo Cesio Lima, Mariana Pitta conta que a tendência é que a cada Carnaval a filmagem da emissora seja equalizada para que a iluminação cênica seja captada igualmente pela transmissão e pelo público do Sambódromo. Ela afirma que já houve avanço para a festa de 2024.

"Já tem uma adaptação pela Rede Globo para que eles possam captar melhor as alterações de luz. Cesio Lima é diretor de fotografia e faz a junção dos dois mundos: a luz na Sapucaí com a TV", conta Mariana.

O carnavalesco Tarcisio Zanon acredita que a iluminação cênica é um recurso que faltava no desfile e que chega para fazer parte em definitivo do Carnaval do Rio de Janeiro.
"Sempre foi o nosso sonho, enquanto artistas do Carnaval, poder ter esse recurso. A gente tem o maior espetáculo da Terra e não tinha uma luz de espetáculo. Agora temos. Eu acredito que utilizar com inteligência essa ferramenta, sem descaracterizar a festa, o detalhe, a minúcia, o trabalho manual, é o que vai ser o mais importante dentro dessa nova fase da Marquês de Sapucaí", avalia.

A iluminadora Tabatta Martins acrescenta que a inovação cria um novo campo de trabalho. "Me parece que está se abrindo uma nova profissão no setor. Não tem escola ou curso de formação como temos para iluminar teatro ou show. Não existe uma fórmula. Ela está sendo desenvolvida nesses dois carnavais", pontua a profissional.

Instalado em 2022, o sistema de iluminação da Prefeitura do Rio hoje conta com 570 refletores na Sapucaí, sendo 510 voltados para a pista. A cada torre sobre arquibancadas, há três moovings light que projetam luzes coloridas sobre qualquer elemento na Avenida e mais três refletores RGBW. O investimento aquele ano foi de R$ 16 milhões por meio de uma parceria público-privada (PPP) firmada pela Prefeitura do Rio, através da Rioluz e a subconcessionária Smart Luz. Em 2023, apenas cinco escolas optaram por utilizar a iluminação de forma mais imponente. A Estação Primeira de Mangueira, que vai homenagear a cantora Alcione, é uma das agremiações que não utilizaram a iluminação no ano passado e vão utilizar em 2024.
*Reportagem atualizada 31/01 com novo número de equipamentos do sistema de luz da Sapucaí
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