Em sua estreia na Sapucaí, União de Maricá foi grande destaque da primeira noite de desfiles da Série OuroCleber Mendes
Publicado 10/02/2024 10:56
Rio - A abertura dos desfiles da Série Ouro, nesta sexta-feira (9), foi marcada pela contraste da tradição, com o desfile da primeira escola de samba do Brasil, a Estácio de Sá, e pela novidade das estreantes na Marquês de Sapucaí, União do Parque Acari e União de Maricá. Ao longo da noite e madrugada de sábado (10), o Sambódromo ainda foi palco da Império da Tijuca, Acadêmicos de Vigário Geral, Inocentes de Belford Roxo, Acadêmicos de Niterói e Unidos da Ponte. 
Estreando na Sapucaí, a União de Maricá apresentou o enredo "O Esperançar do Poeta" e foi o grande destaque da noite, com evolução consistente e ritmo excelente para os componentes, que cantaram com espontaneidade e alegria em praticamente todas as alas.
O alto nivel de alegorias e fantasias da escola, com excelente acabamento, cores vivas e muito luxo também chamaram atenção. A comissão de frente, com 15 integrantes, entre eles um menino, vestidos de malandros, arrancou aplausos do público ao mostrar muito samba no pé e poses no chão e em cima do tripé.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira apresentou bailado tradicional, com pouquíssimos momentos mais coreografados. Giovanna Justo mostrou uma dança suave e segura, talvez atrapalhada pelo peso da fantasia, enquanto Fabrício Pires acompanhou o mesmo ritmo, cortejando com muita graça nas interações. Na segunda cabine, ele errou uma pegada de bandeira, a deixando escapar. A bateria comandada pelo mestre Paulinho teve uma exibição de ótimo nível na sustentação do ritmo e a escola encerrou sua passagem pela passarela do samba sem correria ou lentidão, nem abertura de espaçamentos anormais, aos 52 minutos.
Acari abre desfile
A União do Parque Acari abriu os desfiles com o enredo "Ilê Aiyê – 50 anos de luta e resistência", que celebrou os 50 anos do bloco afro mais antigo do Brasil e levou ancestralidade e festividade para a Sapucaí. A alegria da comunidade e a comissão de frente, com 15 bailarinos representando "O Ritual de Obaluaiê no Sagrado da Mãe Hilda de Jitolú", foram os grandes destaques da agremiação. A escola desfilou com três alegorias e um elemento cenográfico, além de fantasias com leitura e bom acabamento, apesar de terem sido afetados pelas fortes chuvas de janeiro.
Nas duas primeiras cabines, a porta-bandeira Layne Ribeiro teve dificuldade na execução dos giros, por conta do peso da fantasia. O primeiro casal representou Olorum Ayê, a ligação entre o céu e a terra, e a apresentação da dupla foi marcada pelo bailado mais clássico e o estilo expressivo do mestre-sala Vinicius Jesus. Os componentes da agremiação desfilaram com o canto regular e, no geral, não houve discrepância entre as alas. Com uma apresentação correta da bateria dirigida pelos mestres estreantes Erik Castro e Daniel Silva, a escola encerrou sua primeira passagem pela Marquês da Sapucaí com 54 minutos. 
Segunda da noite, a Império da Tijuca levou a história da rainha da ciranda para a avenida com o enredo "Sou Lia de Itamaracá, cirandando a vida na beira do mar" e homenageou a artista que completou 80 anos e desfilou em posição de destaque no carro abre-alas. A escola passou pela Sapucaí com três alegorias e um tripé, que além de bem acabadas, contaram com o bom uso da iluminação e apresentaram um bom conjunto visual. A comissão de frente foi composta por 15 componentes, entre homens e mulheres, uma menina de 13 anos, e a presença de Tia Surica da Portela. 
Em sua passagem, a agremiação do Morro da Formiga apresentou inúmeros problemas de evolução e dois grandes buracos foram observados, ambos em frente a módulos de julgamento. A escola também sofreu com o espaçamento e a falta de alinhamento de algumas das 21 alas. O canto da Império foi regular e alternou entre bons momentos e outros com menos intensidade. O entrosamento do carro de som comandado pelo intérprete Daniel Silva com a bateria do mestre Jordan foi o ponto alto do conjunto harmônico da escola, que encerreu o desfile com 55 minutos. 
Comissões de frente encantam, mas escolas sofrem na harmonia e evolução 
O desfile da Vigário Geral, terceiro da noite, levou para o Sambódromo o enredo "Maracanaú: Bem-Vindos ao Maior São João do Planeta" e se destacou pelo entrosamento do carro de som e bateria. A escola começou com uma apresentação divertida da comissão de frente, representado perrengues de turistas no Ceará, com direito a show de fogos frios no fim do número, que gerou resposta do público. A dança do mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, chamou atenção pela expressividade, com muitos sorrisos e troca de olhares. 
A rainha de bateria Egili Oliveira também foi destaque por sua fantasia vermelha com leds, que davam um brilho especial, principalmente quando havia uso da luz cênica da Sapucaí. Entretanto, a agremiação não conseguiu manter o nível no resto da passagem. O conjunto alegórico foi marcado pela extrema simplicidade e problemas de acabamento, o canto dos componentes foi irregular e a bateria acabou não entrando no segundo recuo, fazendo a passagem da escola ocorrer de forma muito acelarada. Ao final, a tricolor precisou fazer uma evolução muito lenta, para poder terminar no tempo mínimo regulamentar. A escola encerrou sua apresentação em 53 minutos.
A Inocentes de Belford Roxo levou para a avenida um desfile luxuoso, com grandes alegorias e fantasias com riqueza de detalhes e bom acabamento, ao apresentar o enredo "Debret pintou, camelô gritou: 'Compre 2, leve 3! Tudo para agradar o freguês". Com três alegorias e três tripés, o destaque ficou com o carro que representou o comércio ambulante nos trens do ramal Belford Roxo. O segundo tripé também chamou atenção, ao levar o Baú da Felicidade e representar Silvio Santos, que foi camelô da Zona Norte do Rio. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Santos e Jaçanã Ribeiro, apresentou estilo mais clássico, com muita sincronia e expressão.
A comissão de frente teve 15 bailarinos e se destacou pela troca de roupas durante a transição entre momentos da performance. Mas, o tripé do segmento travou no primeiro módulo, causando um buraco ao final e, no terceiro, um adereço da fantasia caiu da cabeça de uma das componentes. A comunidade mostrou um canto regular, a harmonia da escola fez um bom trabalho e não teve discrepância entre as alas. Com um bom entrosamento entre o carro de som e a bateria do mestre Washington Paz, o desfile terminou aos 55 minutos.
Canto forte, espontaneidade e alegria de componentes contagiam Sapucaí
A Estácio de Sá cruzou a passarela do samba com o enredo "Chão de devoção: orgulho ancestral", que resgatou suas origens africanas, através da arte e religião, levantou o público presente nas arquibancadas e teve o canto forte da comunidade como grande destaque. A comissão de frente emocionou e impactou a Sapucaí, com dança e teatralização na performanece que representou a trajetória de "Kianda e Mwana Ya Sanza", Cambinda e Maria Conga, que lutaram por sua cultura, mesmo escravizadas quando meninas. O mestre-sala e a porta-bandeira, Feliciano Junior e Thais Romi, dançaram juntos pela primeira vez e demonstraram muita sintonia e leveza nos movimentos, além de coreografia no momento do samba que remetia às pretas velhas.
A agremiação apresentou um conjunto alegórico modesto com três alegorias e dois tripés, mas duas delas atrapalharam o desenvolvimento do enredo, por conta de problemas de acoplamento. A segunda chegou a avançar para as grades no setor três e seguiu até o final com dificuldades. Os intérpretes Tiganá e Charles Silva e a bateria de mestre Chuvisco impulsionaram o samba, mas em alguns momentos, as alas não evoluíram e a vermelha e branca ficou parada por mais de cinco minutos no setor três. A bateria também se apresentou às pressas na última cabine de julgamento e a escola encerrou a passagem com 56 minutos e largará com um décimo a menos na apuração. 
 
Fé, cultura popular e origem do dendê fecham primeira noite
Penúltima a desfilar, a Acadêmicos de Niterói apresentou o enredo "Catopês - Um céu de fitas", exaltando a fé e a cultura popular dos mais de 180 anos da Festa de Catopês, de Montes Claros, Minas Gerais. A escola teve três alegorias e um tripé, com o bom acabamento e a beleza do abre-alas chamando atenção e, apesar de problemas na evolução dos carros, a estética e a plástica foram os grandes destaques, além das fantasias bastante coloridas, bem acabadas e bonitas. Apesar da boa apresentação do bailado clássico e com pouca coreografia do casal de mestre-sala e porta-bandeira Vinícius Pessanha e Jack Pessanha, no terceiro módulo, ele falhou e não conseguiu pegar a bandeira. Com 17 componentes, a comissão de frente apresentou coreografia bem entrosada, que contou com a nova iluminação do sambódromo.
O desfile foi marcado por problemas de evolução e a última alegoria teve problemas ainda no início, causando um buraco no primeiro módulo de jurados. O carro precisou ser empurrado em vários momentos. No último módulo, o abre-alas e a segunda alegoria demoraram a evoluir, abrindo mais dois espaços. As falhas impactaram no andamento e no desempenho dos componentes. A harmonia foi prejudicada por vazamentos seguidos de áudio do som oficial da Sapucaí e mesmo com o entrosamento do carro de som do intérprete Tuninho Jr. com a bateria do mestre Demétrius Luiz, o samba não teve um bom rendimento entre os componentes, que cantaram apenas alguns trechos. 
Encerrando o primeiro dia da Série Ouro, a Unidos da Ponte desfilou o enredo "Tendendém – O axé do epô pupá", contando a saga do dendê desde a sua origem mítica em terras africanas até a chegada ao Brasil. A escola de São João de Meriti se destacou pelos ritmistas comandados pelo mestre Branco Ribeiro e a bateria que impulsionou o samba-enredo. Composta por 15 integrantes, a comissão de frente chamou atenção pelo tripé representando um bambuzal, de onde saíram os componentes e Oyá foi elevada ao final. O casal de mestre-sala e porta-bandeira Emanuel Lima e Thainara Matias apresentou dança clássica e realizou coreografias durante partes do samba, entre elas, elementos da capoeira. A performance contou com iluminação cênica em algumas partes. 
As fantasias usaram materias alternativos e as três alegorias abusaram do uso das cores quentes que, apesar de simples, contaram o enredo de forma clara. A primeira teve problemas para manter a direção no setor três, principalmente a parte da frente, abrindo um buraco no setor três, e a escultura na parte traseira passou caída por toda a avenida. O intérprete Kleber Simpatia e a bateria do mestre Branco Ribeiro estavam entrosados, mas o início do desfile foi frio, com somente alas do final cantando. Em alguns momentos, a escola andava mais rápido e em outros, mais lento. Na apresentação da bateria no setor três, as alas da frente seguiram normalmente e um grande clarão foi deixado e o erro se repetiu no módulo seguinte. A bateria não entrou no recuo e a apresentação na última cabine foi mais longa do que o habitual. A agremiação encerrou a passagem com 53 minutos.
*Com informações do site Carnavalesco
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