Publicado 03/11/2024 21:55
Rio - No domingo, estudantes de todo o Brasil participaram do primeiro dia do ENEM 2024, que trouxe como tema de redação “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Em uma coincidência poderosa, o tema se alinha com o enredo da Mangueira para o Carnaval 2025, “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre Dores e Paixões”. A escola usou o samba-enredo de 2019, que exaltou figuras da resistência negra, como um dos textos de apoio para os candidatos.
PublicidadeA presidente da Mangueira, Guanayra Firmino, enfatizou a importância educativa das escolas de samba. "Muita gente talvez não pense nas escolas de samba como lugares que educam, seja por desconhecimento ou preconceito. Mas elas educam e, como vimos hoje no Enem, muito para além do chão de suas próprias comunidades", afirmou Firmino. “Nós fazemos toda a sociedade brasileira pensar nos temas da negritude, e portanto da herança africana. É um jeito de fazer história. De fazer uma outra história.”
Para Sidnei França, carnavalesco da Mangueira e autor do enredo de 2025, a escolha do tema da redação do ENEM representa uma convergência importante. “A pauta identitária como proposta temática da redação do ENEM, relevante para os rumos de toda uma geração, coloca a narrativa reivindicatória das Escolas de Samba em compasso com as necessidades do seu tempo”, observa França. “Isso comprova meu pensamento de que o Brasil se tornará ciente de si quando reconhecer e enaltecer sua ancestralidade africana para além dos aspectos culturais, mas também e - principalmente - como uma sociedade alicerçada na coletividade, no matriarcado e no afeto. As escolas de samba, em sua proposta basilar de aquilombamento, servem de modelo para reinventar o Brasil!”
O Enredo de 2025 e a Herança Bantu no Rio
A Mangueira encerrará o desfile de domingo com o enredo “À Flor da Terra: o Rio da Negritude entre Dores e Paixões”. A apresentação destaca a presença bantu no Rio de Janeiro, particularmente no Cais do Valongo, principal ponto de chegada de africanos escravizados, e suas contribuições culturais e sociais para a cidade. A escola abordará a resiliência e as influências dessa população que ainda marcam o Rio de Janeiro, em uma homenagem ao legado vivo desses povos.
O histórico samba-enredo “História para Ninar Gente Grande”, que levou a Mangueira ao título de 2019, também fez parte das reflexões deste ano. A composição trouxe uma reinterpretação crítica da história brasileira, exaltando figuras populares e questionando heróis oficiais. No enredo de 2019, nomes como Dragão do Mar e Luísa Mahin receberam destaque, enquanto a visão tradicional sobre figuras como Pedro Álvares Cabral e Dom Pedro I foi questionada.
A Estação Primeira de Mangueira e seu Legado
Fundada em 1928, a Estação Primeira de Mangueira, com sua emblemática bandeira verde e rosa, se destaca como uma das mais importantes escolas de samba do Brasil. Com uma trajetória de 96 anos e vinte títulos do carnaval, a Mangueira é um símbolo de resistência cultural e preservação da memória africana no país. A escola, hoje presidida por Guanayra Firmino, a primeira mulher a ocupar o cargo, mantém viva a tradição de valorizar as raízes africanas e de promover a inclusão por meio do samba.
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