Irmão de Emicida critica gravação de Juliette e Duda Beat e aponta plágio

Rio - O cantor e compositor Evandro Fióti soltou o verbo em uma live no Instagram, na madrugada desta quarta-feira, e apontou semelhanças entre a música 'Magia Amarela', interpretada por Juliette e Duda Beat, com o hit "AmarElo", do seu irmão Emicida. O produtor se indignou com o "roubo conceitual" da canção, que faz parte do projeto "Amarelo – É Tudo Para Ontem", vencedor do Grammy em 2020, na categoria "Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa", e deixou claro que pretende resolver a situação na justiça. 

"A gente precisa dar o nome que as coisas tem. A gente está assistindo a um caso de apropriação. Está vendo, mais uma vez, a branquitude se unir, sem ética nenhuma, pra se apropriar de criações de pessoas negras. É um absurdo a gravidade do que aconteceu. E vocês nem sabem o que é aquilo ali ainda, eu sei. Vocês vão ficar de cara quando eu falar o que é. Eu participei da negociação disso que a gente viu hoje. Achei muito sem escrúpulos. Achei muito sem ética nenhuma", começou. 

"Infelizmente a maioria das pessoas brancas agem sem ética. Isso é muito triste de comprovar. Quando a gente vê uma situação como essa e ninguém teve a capacidade, a decência, de levantar a mão dentro de uma mesa de uma reunião, da aprovação de uma música e dizer: 'isso está errado'. Vai dizer o que? Que é ignorância? Vai dizer que se apropriou e colocou a música como amar é o elo na composição e que isso não teve uma fonte de inspiração? Que isso não teve nenhuma ligação com um dos trabalhos mais relevantes dos últimos tempos da música? Da criação de um artista negro. Ainda tendo que fazer dez vezes mais pra ter o mínimo de reconhecimento, espaço e de respeito. E depois de vencer todas essas estruturas, a gente conseguiu. Mas estando no lugar que estou, como o empresário, falo tranquilamente: 99% dos artistas deprimem e morrem antes. Desistem. Esse atravessamento mata os artistas", continuou. 

"Tem banda de artista branco que a gente encontra em todo o lugar que mal lançou um disco e já ganhou um Grammy. A gente levou 12 anos pra ganhar o Grammy. E o trabalho que a gente ganhou o Grammy acabou de ser roubado conceitualmente. Tem noção do ódio que isso gera? Só que essa não é a arma que a gente vai usar. É isso que eles esperam da gente. Não vou usar essa arma, a gente não vai usar essa arma. A gente vai usar a diplomacia, como a gente sempre usou. Mas o ódio canalizado é um ótimo instrumento de luta. E a gente precisa canalizar o ódio para algo que mude a percepção das pessoas nesse mercado", disse o empresário, que deu mais detalhes sobre o uso de "Magia Amarela" em uma campanha publicitária.  

"Não vou falar a marca. Mas essa parte é mais chocante ainda. Essa música faz parte de uma estratégia de uma campanha de reposicionamento de uma marca, que amanhã a gente vai começar um outro processo de diálogo com eles. Só que essa marca negociou com a gente, só que a gente não chegou a um acordo por cronograma, prazo e questões financeiras também, porque a verba que eles tinham não justificava a entrega que a gente tinha que fazer", concluiu. 

No Instagram Stories, Emicida publicou: "Se vocês soubessem o que aconteceu ficariam enojados". Em seguida, a postagem foi apagada. 

Fióti compartilhou, no Twitter, um trecho do clipe de "Magia Amarela", divulgado por Juliette, e disse que vai resolver a situação de "apropriação" na Justiça. "Sobre apropriação e tudo aquilo que a gente discursa sobre ética? Então, esse mercado tem bem pouco. Sem criticar as artistas que inclusive admiro. Mas nosso jurídico vai trabalhar!", avisou.

Em outra publicação, Evandro confirmou sua indignação, mas pediu para os internautas não atacarem Juliette e Duda Beat. "Estou indignado. Vou explicar esse contexto dessa apropriação, plágio e mais uma vez falta ética nesse mercado vindo em sua maioria (mas não somente), de pessoas brancas. E reafirmo: essa critica é coerente e vai no lugar certo. Não quero hate em cima da Juliette ou Duda". 

Em agosto, Manu Gavassi comentou as semelhanças entre o clipe de sua música "Gracinha", de 2021, e de "Quase Não Namoro", de Juliette com Marina Sena. "Quando vi a capa, eu fiquei, sim, chateada. A Juliette é uma pessoa maravilhosa, eu amo muito a Ju. Ela me ligou antes de tudo sair. O que foi de uma decência, uma classe, de um caráter que poucas pessoas têm nesse meio", contou a artista para as apresentadoras Titi Müller e MariMoon, no podcast "Acessíveis Cast". 

Apesar do gesto de consideração da amiga, a artista não conseguiu esconder sua insatisfação com as semelhanças entre os projetos. "Sobre a equipe, tenho algumas coisas a falar. Não tem como não prestar atenção no que os outros profissionais da sua área estão fazendo num mercado tão pequeno. Ser original dá trabalho, mas é legal", concluiu.

Após o desabado e acusações de Fióti, a assessoria de imprensa de Juliette se manifestou sobre o assunto em nota. "Informamos que a música 'Magia Amarela' faz parte de uma campanha publicitária e que Juliette foi contratada como uma das intérpretes para este trabalho audiovisual. A equipe da cantora está em contato com os contratantes responsáveis pela criação e produção da campanha para mais esclarecimentos".

Mais tarde, foi a vez da própria Juliette se posicionar sobre a polêmica. Nas redes sociais, a cantora publicou um texto ressaltando a informação dada por sua assessoria e afirmando que a música vai ser retirada das plataformas digitais.

Leia a íntegra:

"Sobre a campanha Magia Amarela. É extremamente necessário e importante informar que eu e minha equipe jamais compactuaríamos ou participaríamos cientemente de atitudes de plágio e apropriação criativa. Fui contratada para uma campanha publicitária em que interpretaria uma canção e um videoclipe e, nesses casos, os processos de liberações autorais são de responsabilidade do contratante.

Peço desculpas e lamento profundamente as consequências deste ocorrido. Estejam certos de que tomaremos providências e aumentaremos, ainda mais, o nosso cuidado sobre propriedade intelectual e diversidade em futuros trabalhos artísticos e comerciais. Por fim, informo que a campanha foi cancelada e a música será retirada de todas as plataformas digitais", concluiu.

Duda Beat também se defendeu das acusações de plágio, em nota emitida por sua equipe, através do Instagram. "A artista Duda Beat foi contratada pela marca Bauducco, através da Agência Galeria, para ser um dos talentos da campanha publicitária e intérpretes da canção Magia Amarela ao lado de Juliette... Viemos informarque não existe qualquer participação criativa da artista na concepção da campanha, identidade visual, letra ou produção musical da faixa/jingle publicitário", começou o comunicado.

"Porém, desde o primeiro contato entre agência e escritório da artista, ainda na fase de negociação, o nome de Felipe Vassão (um dos autores do projeto musical e da canção AmarEIo) estava citado no escopo da campanha como autor da faixa comercial (que ainda não existia e nem tinha o nome de “Magia Amarela”). A exclusão de Vassão do time de autores do jingle NÃO foi informado pelo cliente/agência ao longo do processo. Dessa forma, ficou entendido que havia consentimento da produção do jingle por parte dos idealizadores pro projeto original AmarElo", explicou a nota.

"No entanto na data de hoje houve um movimento de reivindicações através das redes sociais de que os autores do projeto AmarElo foram usurpados de sua propriedade intelectual em 'Magia Amarela'. Essa informação surpreende Duda Beat e equipe, uma vez que nós somos expressamente contrários a qualquer evidência de plágio ou apropriação de ideia criativa sem o consentimento de seus autores legais", continuou. 

"Duda Beat reitera seu compromisso com a transparência e valorização dos profissionais envolvidos em seus projetos. Ela e toda sua equipe lamentam profundamente o dano causado por essa situação e ressalta que, diante desses novos fatos, sua equipe  jurídica tomará as medidas cabíveis para garantir a integridade artística e ética de sua participação na faixa", concluiu.  

Minutos depois, o comunicado foi excluído da rede social. 

Após as acusações de plágio e a repercussão nas redes sociais, a Bauducco suspendeu a campanha com Juliette e Duda Beat. No comunicado, a marca explicou a escolha das artistas e afirmou que a tipografia nos materiais gráficos de divulgação seria a mesma que a empresa já costuma usar.

Leia o posicionamento na íntegra:

"A música 'Magia Amarela', protagonizada por Juliette e Duda Beat, foi criada para fazer parte de uma campanha de mesmo nome da Bauducco, com o objetivo de celebrar o amarelo, icônico e característico da sua identidade visual, presente nas embalagens e comunicações da marca há mais de 30 anos, além de unir conceitos também historicamente propagados: família, união, encantamento e comunhão. Reforçaria ainda a assinatura utilizada nas campanhas da marca: 'Um sentimento chamado Família'.

A tipografia prevista para os materiais gráficos de divulgação seria a mesma já usada pela marca, tanto nas embalagens como em outras campanhas e posts das redes sociais. A campanha foi concebida como um projeto amplo e integrado, nascido das fortalezas históricas da marca.

Para interpretar a música e protagonizar o videoclipe, foram considerados artistas da música brasileira e internacional. A escolha das cantoras Juliette e Duda Beat refletiu o propósito da campanha: são duas artistas que já tinham uma amizade e formam “uma família” com base nos laços de afeto, de afinidade e da arte. É importante ressaltar que a participação das cantoras se restringiu à interpretação da música-tema, sem vínculo com a criação da campanha.

Diante de questionamentos sobre o projeto e sobre as cantoras, a Bauducco decidiu cancelar a campanha e seguirá dialogando com os artistas envolvidos, pelos quais manifesta total respeito e admiração. Em novas oportunidades, a marca voltará a celebrar sua cor icônica e sua mensagem de união", diz a nota.

Os internautas também comentaram as semelhanças entre a música "Magia Amarela" e "Amarelo" nas redes sociais. "O que mais escancara a gravidade do plágio é copiar em absolutamente tudo da obra do Emicida. Não é só a fonte ou os vitrais, é tudo. Apesar do rap (e o Emicida) alcançar grandes patamares, a indústria ainda tira o gênero pra nada. Faz apropriação descarada, sem medo", comentou um usuário do X. 

"Isso é de um desrespeito gigante com a obra do Emicida e da Lab Fantasma. É esvaziamento de uma parada construída por anos e com significado. Não existe a menor possibilidade de ter passado por todo processo de aprovação sem ser percebido. É desrespeito e certeza de impunidade", afirmou outro.