Jorge Vercillo celebra 30 anos de carreiraDivulgação/ Central Sonora
Publicado 06/04/2024 08:47
No novo projeto, Jorge admite erros de execução ao vivo, sem auto tune e edições. O disco conta ainda com a participação de seu filho, Vini Vercillo, na guitarra, no violão de aço e nos vocais, e também do DJ Phabyo Castello.
"É um álbum cru, né? É diferente. É um álbum de voz e violão, apenas com a participação de um DJ fazendo a célula rítmica básica para não sobrepor meu violão e de um segundo violão, que é do meu filho, que faz apenas umas costuras, sem sobrepor meu violão também. É um álbum sem retoques, sem consertos. É um álbum que tem defeitos, sim, tem falhas de som, tem ruídos, tem micro desafinações por ser ao vivo, mas foram músicas que ficaram tão prazerosas de ouvir que eu resolvi lançar", revela.
E para comemorar o marco de 30 anos de carreira, além do álbum, Jorge vai passar por diversas cidades do Brasil e da Europa com a turnê "JV 30", que reúne seus grandes sucessos atemporais como "Homem-Aranha", "Monalisa", "Que Nem Maré", e os últimos lançamentos "Endereço" e "Só Quem Ama". 
"É muito difícil fazer uma seleção de músicas para o show. Eu sempre começo com um repertório muito amplo, muito grande e vou tirando. Mas eu acho que dessa vez, nós temos vários medleys, que são uns compilados, umas músicas juntas de outras e outras já cantando inteiras e eu acho que eu consegui colocar as mais representativas desse tempo todo, pelo menos para o público", opina.
Trajetória e fama
Apesar de ser um dos maiores nomes da MPB, Jorge Vercillo afirma que em alguns momentos esquece que é uma pessoa famosa. "A gente quase não sente passar, né? Porque a gente se envolve com a vida. Confesso que eu só me lembro que sou artista ou famoso quando alguma pessoa vem me abordar na rua, bater uma foto, e que sempre é de uma forma muito respeitosa, educada, sem histeria", diz.
Ele, então, reflete sobre a exposição da fama e seu estilo de vida mais reservado. "Eu sou muito contente com esse estilo que eu ocupo, que é um artista de MPB contemporâneo. E com isso, tenho a liberdade de ir à uma praia, ser abordado por algumas pessoas mas também não, ficar à vontade com a minha filha, com meus amigos, não ter meus passos observados ou restringidos por causa de fama. Isso não valeria a pena para mim", admite.
E no que diz respeito ao seu processo criativo, o cantor ressalta que ao longo de sua carreira, nunca abriu mão da qualidade em suas canções. "Eu me vejo muito feliz e com muito contentamento com esses 30 anos de êxito de uma música feita com qualidade, era a que eu queria. Eu nunca fiz concessão, assim, 'ah, vou fazer uma música pior para que eu apareça e depois eu mudo'. Não. Eu sempre fiz a música, desde a mais simples ou mais hermética, sempre foi a que eu queria para poder me relacionar com o público", conta.
Parceria com o filho
Por sete anos, Jorge Vercillo contou com a presença de seu filho, Vini Vercillo, em sua equipe. O jovem, que também é músico, agora vai focar em sua carreira solo. O artista, então, fala sobre o motivo de terem tomado essa decisão.
"A gente chegou a uma conclusão juntos de que ele precisava correr atrás da carreira dele e que ficar como um side meu, do Jorge Vercillo, do pai, não tava dando tempo dele focar na carreira dele e principalmente porque apesar de ser um procrastinador assim, preguiçoso, no dia a dia, o Vinicius é um grande talento musical", afirma.
"Ao mesmo tempo que eu tenho essa crítica para fazer nele, eu falo que ele é um grande talento musical, como compositor e cantor, assim, ele é o diferencial. Não por ser meu filho e quem ouve o álbum dele com atenção percebe isso tanto nas canções em portugues como principalmente nas canções em inglês que ele domina com uma facilidade incrível. Então, eu acho que é um verdadeiro pecado você deixar um talento desses, em uma geração cheia de novos talentos, jogado, apenas acompanhando o pai", pontua.
Apesar da saudade, Jorge não esconde a emoção de ver a nova etapa profissional do filho. "Ele está estreando no dia 4 de abril os shows dele no teatro Miguel Falabella, na Zona Norte do Rio, depois vai para São Paulo. Eu estou muito feliz de ver isso, apesar de estar com saudades dele no palco, mas ele mesmo me indicou um substituto fantástico que é um novo talento maravilhoso também, o Henrique Oliveira", ressalta.
Mudanças no cenário musical
Com tantos anos no mercado, Jorge Vercillo passou por diversas mudanças no cenário musical. Para o DIA, ele faz uma análise sobre a venda e consumo das canções, além de criticar a falta de valorização do compositor. "Nada mais é o mesmo. Eu entrei no mercado onde se vendia música e ela tinha um valor de venda. Hoje em dia a gente nota que há uma intenção de um esvaziamento do conteúdo de uma composição. Você não percebe uma valorização tão grande da figura do compositor, pelo contrário, hoje em dia o produtor muitas vezes é mais valorizado que o compositor. Hoje em dia não se paga bem pela música, infelizmente", lamenta.
"As plataformas digitais são uma excelente inovação. Realmente, a gente democratizou bastante o lançamento das músicas. Só que por enquanto elas ainda entregam muito da nossa obra de graça para o público e isso gerou um problema porque não se paga decentemente o músico, o autor, apenas o artista recebe uma fração de centavos por execução. A proposta é muito boa, o ponto é que precisa melhorar e deixar a gente encontrar uma maneira das plataformas pararem de entregar músicas de graça com o nosso trabalho", diz.
Em seguida, o artista revela que em sua trajetória, seu foco musical nunca foi o chamado "mainstream", ou seja, as músicas mais comercializadas. Sem esconder seu descontentamento, Jorge explica que, apesar disso, acredita que a solução para receber melhor das plataformas digitais por suas canções está cada vez mais perto.
"As músicas mais apelativas e óbvias acabam se destacando mais em detrimento de um oceano de músicas boas que são colocadas e que ficam em um limbo. Porque são as músicas mais apelativas que acontecem mais, isso no mainstream, né? O meu foco nunca foi o mainstream porque música apelativa para fazer sucesso, seja de qualquer artista, isso sempre existiu, sempre vai existir, inclusive com excelentes artistas com muito talento, mas gravando músicas apelativas", começa.
"Isso é um descontentamento da minha parte e eu não faço a menor questão de esconder isso, mas a gente tem que aprender a lidar com as coisas, com a realidade. Essa é a realidade e cada um vai fazer o seu. Desses 30 anos, muita coisa mudou, mas a música apelativa sempre existiu, a diferença é que hoje em dia a gente precisa descobrir uma maneira de receber melhor pela nossa música, pelo o que a gente faz. E eu acho que nós estamos próximos, podemos estar muito perto de uma solução", conclui.
Novo projeto em espanhol
E ele não para! Após o lançamento do álbum "Groove Mundo" e o início da turnê "JV30", Jorge Vercillo conta sobre seu próximos projeto, uma música latina em parceria com a cantora uruguaia Meri Deal e o produtor Rafinha RSQ, prevista para ser divulgada no dia 4 de abril.
"É uma mistura de afrobeat e MPB, que é 'Tu Sabes', uma música latina, meio flamenca, produzida por mim e pelo Rafinha RSQ, que inclusive é um produtor de músicas populares, que grava com sertanejo, funk, samba, grava com todo mundo, mas que veio procurar o Jorge Vercillo para fazer músicas em alguns momentos menos apelativas. Eu achei isso muito bonito da parte dele, nos tornamos amigos", diz.
"Ele fez o arranjo, além de compor a música junto comigo e com a Meri Deal, que é uma cantora uruguaia muito estourada no México e trouxe uma parte em espanhol para essa música. É uma das primeiras vezes que eu apareço nas rádios cantando em espanhol. Eu não só canto em português, como canto em espanhol com ela e está muito interessante. Estou animado para mostrar para vocês esse resultado, essa fusão híbrida de MPB com afrobeat", afirma.
Publicidade
Leia mais