Publicado 24/02/2024 06:00 | Atualizado 24/02/2024 08:52
Rio - Após 11 anos distante dos palcos, Camila Morgado está de volta ao Rio com a peça "A Falecida", clássico do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980). O espetáculo, que estreou há 70 anos, está em cartaz no Teatro Copacabana Palace, na Zona Sul. A temporada vai até 7 de abril, com apresentações às sextas e sábados, às 21h, e aos domingos, às 20h.
"A Falecida", que virou filme protagonizado por Fernanda Montenegro, em 1965, conta a história de Zulmira (Camila Morgado), uma mulher frustrada e que sofre de tuberculose. Desiludida, ela passa a sonha em ter um enterro cheio de luxo, para compensar as dificuldades pelas quais passou na vida. Dessa forma, ela causaria inveja na prima e vizinha Gloria, com quem não fala, mas mantém uma relação de rivalidade. A história se passa na Zona Norte do Rio, na década de 1950.
Em entrevista ao DIA, Camila, que nasceu em Petrópolis, na Região Serrana, conta que o convite para fazer o papel partiu de Sergio Módena, diretor do espetáculo.
“Ele é um grande amigo meu, e a ideia veio dele. Eu aceitei na hora porque já conhecia o texto. Adoro o Nelson Rodrigues e me entusiasmei com a ideia da parceria. Acabou que eu emendei um trabalho no outro com audiovisual e quando vi, já tinham se passado 11 anos. Adoro fazer teatro, e foi pelo teatro que comecei na profissão. Sempre foi um desejo interpretar um texto do Nelson, então foi um convite irresistível”, relata.
A atriz destaca também a alegria de poder remontar um clássico, que conta, entre outros nomes, com Thelmo Fernandes Stella Freitas. “Quero ressaltar a importância de sempre trazer este grande dramaturgo para cena. Um homem que revolucionou o teatro brasileiro, que descreve tão bem estes seres do asfalto, a alma brasileira, o carioca. Nelson, nosso grande escritor, é popular e erudito ao mesmo tempo.”
Questionada sobre como é dar vida a uma personagem que já foi de Fernanda Montenegro, Camila celebra a conquista. “Fernanda é uma referência para todos nós! Uma referência artística e de grande mulher que é! Nosso farol! Assisti ao filme e gosto muito”, diz.
Ao analisar a complexidade do papel, a artista considera que Zulmira é uma mulher que quer ser escutada e ao mesmo tempo ter voz e relevância em um casamento e dentro da sociedade.
“Ela vê no luxo do seu enterro uma forma de ter uma espécie de holofote sobre si, como se finalmente aparecesse a chance dela ser olhada, admirada e reverenciada. Uma forte simbologia sobre o apagamento em cima do feminino, principalmente naquela época, mas que ainda está presente nos dias de hoje. Ao se ver doente, ela percebe que a proximidade da morte é uma forma dela conseguir chamar a atenção e é através de um desejo enorme de organizar seu enterro, que ela passa a ter atenção e a ascensão devidas”, opina.
Camila enumera, ainda, outros destaques da peça. “Ela traz muitas cenas que flertam com o cômico, que são retratos do Rio de Janeiro de uma época e levantam questionamentos que dizem respeito à sociedade como um todo. A morte e o fanatismo religioso são aspectos da dramaturgia, que na sua profundeza, está falando de carência, de abandono, de costumes, de relações e do Brasil.”
Agenda cheia
Atualmente, a atriz também pode ser vista na TV como a dona Patroa, de “Renascer”. Conservadora e submissa, a personagem adere às ideias do marido por meio das grosserias dele. Ela terá em breve um conflito geracional com a filha.
Camila vem de uma sequência de mulheres fortes, em tramas que lidam com questões como a violência doméstica e a rivalidade feminina. Assim foi com a Janete de “Bom dia, Verônica” (2020) e a Irma de “Pantanal" (2022).
“A arte está sempre em diálogo com a vida e a sociedade. É uma espécie de lente de aumento para os dilemas e questões humanas. Infelizmente, o machismo ainda é um problema estrutural muito forte no mundo e, na sociedade brasileira, esta questão é bastante arraigada. Quem sofre são as mulheres. Todas as personagens citadas acima trazem diferentes pontos de vista sobre esta questão. Eu sempre tento mergulhar nestas personagens tão ricas com o maior respeito, busco me cercar de informações e ouvir relatos reais, apesar das personagens serem ficção. O impacto que cada história destas traz para o público me interessa muito, no sentido de aprofundar o debate e darmos mais um passo nesta imensa e ampla caminhada coletiva rumo a uma sociedade melhor”, conclui.
Serviço
“Ele é um grande amigo meu, e a ideia veio dele. Eu aceitei na hora porque já conhecia o texto. Adoro o Nelson Rodrigues e me entusiasmei com a ideia da parceria. Acabou que eu emendei um trabalho no outro com audiovisual e quando vi, já tinham se passado 11 anos. Adoro fazer teatro, e foi pelo teatro que comecei na profissão. Sempre foi um desejo interpretar um texto do Nelson, então foi um convite irresistível”, relata.
A atriz destaca também a alegria de poder remontar um clássico, que conta, entre outros nomes, com Thelmo Fernandes Stella Freitas. “Quero ressaltar a importância de sempre trazer este grande dramaturgo para cena. Um homem que revolucionou o teatro brasileiro, que descreve tão bem estes seres do asfalto, a alma brasileira, o carioca. Nelson, nosso grande escritor, é popular e erudito ao mesmo tempo.”
Questionada sobre como é dar vida a uma personagem que já foi de Fernanda Montenegro, Camila celebra a conquista. “Fernanda é uma referência para todos nós! Uma referência artística e de grande mulher que é! Nosso farol! Assisti ao filme e gosto muito”, diz.
Ao analisar a complexidade do papel, a artista considera que Zulmira é uma mulher que quer ser escutada e ao mesmo tempo ter voz e relevância em um casamento e dentro da sociedade.
“Ela vê no luxo do seu enterro uma forma de ter uma espécie de holofote sobre si, como se finalmente aparecesse a chance dela ser olhada, admirada e reverenciada. Uma forte simbologia sobre o apagamento em cima do feminino, principalmente naquela época, mas que ainda está presente nos dias de hoje. Ao se ver doente, ela percebe que a proximidade da morte é uma forma dela conseguir chamar a atenção e é através de um desejo enorme de organizar seu enterro, que ela passa a ter atenção e a ascensão devidas”, opina.
Camila enumera, ainda, outros destaques da peça. “Ela traz muitas cenas que flertam com o cômico, que são retratos do Rio de Janeiro de uma época e levantam questionamentos que dizem respeito à sociedade como um todo. A morte e o fanatismo religioso são aspectos da dramaturgia, que na sua profundeza, está falando de carência, de abandono, de costumes, de relações e do Brasil.”
Agenda cheia
Atualmente, a atriz também pode ser vista na TV como a dona Patroa, de “Renascer”. Conservadora e submissa, a personagem adere às ideias do marido por meio das grosserias dele. Ela terá em breve um conflito geracional com a filha.
Camila vem de uma sequência de mulheres fortes, em tramas que lidam com questões como a violência doméstica e a rivalidade feminina. Assim foi com a Janete de “Bom dia, Verônica” (2020) e a Irma de “Pantanal" (2022).
“A arte está sempre em diálogo com a vida e a sociedade. É uma espécie de lente de aumento para os dilemas e questões humanas. Infelizmente, o machismo ainda é um problema estrutural muito forte no mundo e, na sociedade brasileira, esta questão é bastante arraigada. Quem sofre são as mulheres. Todas as personagens citadas acima trazem diferentes pontos de vista sobre esta questão. Eu sempre tento mergulhar nestas personagens tão ricas com o maior respeito, busco me cercar de informações e ouvir relatos reais, apesar das personagens serem ficção. O impacto que cada história destas traz para o público me interessa muito, no sentido de aprofundar o debate e darmos mais um passo nesta imensa e ampla caminhada coletiva rumo a uma sociedade melhor”, conclui.
Serviço
"A Falecida", de Nelson Rodrigues
Temporada: até 7 de abril
Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h
Teatro Copacabana Palace: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 261
Temporada: até 7 de abril
Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h
Teatro Copacabana Palace: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 261
Ingressos: balcão R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) | plateia R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia)
Vendas online pela Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/90776
Capacidade: 330 lugares
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos
Vendas online pela Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/90776
Capacidade: 330 lugares
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos
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