Publicado 15/10/2024 05:00
Rio - Brilhando na segunda temporada de "Justiça", do Globoplay, e conhecida por papéis em novelas como "Anjo Mau" (1998), "Cravo e a Rosa" (2001) e "Mulheres Apaixonadas" (2003), Maria Padilha, de 64 anos, está em cartaz com o espetáculo "Um Jardim para Tchekhov", no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, no Centro do Rio. A peça mistura humor e drama, trazendo a artista no papel de Alma Duran, uma consagrada atriz que, enfrentando o desemprego e a intolerância contemporânea, busca renovar seu sonho de encenar "O Jardim das Cerejeiras" do dramaturgo Tchekhov (1860 - 1904).
PublicidadeSobre os desafios e as alegrias de interpretar Alma Duran, Padilha comenta: "O desafio era o texto coloquial e fantasia de Tchekhov. Foi onde tive que me aprofundar mais. A personagem mistura duas personas, ela vai virando entre uma pessoa real, essa atriz muito sonhadora, e ao mesmo tempo um pouco com a personagem da Liuba, do 'Jardim das Cerejeiras'. A personagem tem uma mensagem positiva, ela é muito a gente que faz teatro, que está querendo inventar uma vida melhor. Ela acredita que a beleza vai salvar o mundo. E também acho que acredito nisso. Ela está tentando enfeitar a vida daqueles personagens mais concretos, a filha médica, o genro delegado e a aluna dela de teatro. Gosto dessa alegria, ela é uma personagem que tem um otimismo muito grande".
A artista ainda destaca a importância da criatividade no cotidiano. "A vida não é só realismo, a vida também é feita de invenção. Todos nós, não só os artistas, podemos inventar uma vida melhor, enfeitar um pouco o nosso cotidiano, enfeitar com beleza, esperança e vida. A mensagem que eu espero que as pessoas levem é que um pouco de fantasia e criação para todos é saudável, é uma estratégia de sobrevivência muito boa".
A ideia da peça surgiu de uma vontade pessoal de Maria. "Estava com muito desejo de falar de assuntos que as peças do Tchekhov tratavam e do jeito que ele fala. Procurei o Pedro para fazer uma adaptação de alguma peça do Tchekhov ou juntar algumas, porque fazer uma peça de Tchekhov inteira tem que ter um elenco muito grande e bom. A situação econômica do teatro não estava muito boa. O Pedro escreveu a sinopse, que é a história da atriz que está desempregada e vai ter que morar com a filha e o genro. A atriz tem um sonho de montar o 'Jardim das Cerejeiras', a peça do Tchekov, e ela acaba encontrando o próprio Tchekhov para ajudá-la nesse sonho".
"Justiça 2"
Na segunda temporada de "Justiça", disponível no Globoplay, Padilha interpreta Silvana, uma mulher que sofre violência doméstica, presa em um casamento tóxico com o corrupto Nestor (Marco Ricca). Juntos, eles apontam injustamente o motoboy Balthazar (Juan Paiva) como culpado de um crime, levando-o à prisão. Após o rapaz, que é inocentado, passar sete anos na cadeia, Silvana o reencontra livre e passa a ajudá-lo como pode para tentar se redimir.
"A personagem de Silvana foi bem difícil porque ela é muito diferente de mim. Foi um grande estudo, contei com o apoio da direção de atores, do Juan, da Belize (Pombal) e principalmente do Marco Ricca, a gente tentou construir uma coisa juntos, desse casal. Foi um exercício de me desprender de mim para contar a história de uma outra pessoa que não é parecida comigo, mas que eu sei que existe. A Silvana vai se desenvolvendo como personagem na relação afetiva dela, com a situação do personagem do Juan, ela começa a peitar o marido e vai acontecendo, tentando reparar o erro que ela fez e nessa trajetória da reparação ela vai passando por coisas terríveis", conta.
Apesar de sua realidade ser bem distinta da de Silvana, a artista se sensibiliza com o drama da personagem e reconhece que muitas mulheres enfrentam situações semelhantes na vida real. "Foi um exercício muito grande e gratificante fazer um personagem tão diferente de mim, tão longe da minha história, da minha realidade, tão bem escrita e construída. Foi um presentão que deram. O personagem é pesado, mas o trabalho ali não foi pesado, porque foi muito acolhedor".
Longe das telinhas
Afastada das novelas desde "A Regra do Jogo", exibida em 2015 na TV Globo, a atriz comenta que não recebeu mais convites para fazer folhetins. "Estou esperando convites, tenho muita vontade de voltar, é muito bom a gente se comunicar com esse público grande que vê novela, que ainda não está vendo as séries, que não tem acesso a outras coisas. Sempre gostei de fazer novelas e acho que faço bem, eu me divirto fazendo. Então eu pretendo voltar quando tiver um convite bacana".
Em uma reflexão sincera, a artista abordou os desafios do envelhecimento na indústria do entretenimento. Maria observa que, embora as oportunidades tenham diminuído, ela ainda encontrou papéis interessantes e relevantes para fazer. "Na indústria do entretenimento é complicado porque, pelo menos quando eu tinha 40 e poucos anos, eu estava sendo convidada para tudo, toda hora. E agora não, tem que ter uma mãe, né? Tem que ter um personagem que justifique a minha idade. Eu acho que a indústria ainda tem uma coisa muito ligada à beleza. Então, para a indústria, as pessoas mais velhas não são tão bonitas".
Ela ainda compara-se a grandes atrizes que também fizeram seus melhores trabalhos nessa mesma faixa etária. "Penso que nesses últimos tempos eu tenho tido muita sorte nos trabalhos. Acho que eu estou em uma idade maravilhosa, na idade em que a Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Beatriz Segall fizeram grandes papéis. Me sinto ainda privilegiada de poder estar trabalhando".
Maternidade
Mãe de Manoel, um menino preto de 12 anos que adotou quando ainda era bebê, Maria compartilha as experiências em relação aos casos de racismo que o jovem já enfrentou. "Sou uma mãe como todas. Toda mãe tem aquele sentimento, um amor incondicional por aquela criatura, é um amor que não se mede. Meu filho é um menino negro, que para mim não faz muita diferença, mas no convívio com a vida, durante o crescimento dele, nós já enfrentamos várias situações de racismo e que eu já sabia que existiam. Fui educada por uma família muito antirracista, a gente já tinha muita consciência disso, mas quando é com a gente, na nossa pele, porque na pele do filho é na nossa também, é muito mais avassalador", conta.
Padilha explica como lida quando essas situações acontecem: "Eu procuro me colocar na situação, defendê-lo e me colocar como uma pessoa justa, trazer a pessoa que está sendo injusta a realidade, tentar trazê-la a real, dou algumas broncas nas pessoas, alertando elas e, se for necessário, recorro judicialmente, mas ainda não tive esse momento. Por enquanto, eu consegui resolver pessoalmente com as pessoas, mas acho que a gente tem os instrumentos da lei para nos ampararem. É muito terrível, vemos como a sociedade está doente, como ela precisa se consertar para se chamar dignamente de sociedade".
Planos para o futuro
Questionada sobre os planos para o futuro, ela conta: "Tenho um projeto de fazer outra peça, é o que eu posso garantir, porque as outras coisas são estruturas maiores. Tomara que pintem outros convites para séries, filmes e televisão, estou sempre super aberta. De preferência nas peças eu queria continuar a trabalhar com o ator Leonardo Medeiros, a gente já tinha trabalhado juntos antes e foi muito bom, agora nessa peça a gente teve um encontro muito bacana, profissional e pessoal, e a gente está tentando estender isso para outros projetos. Ainda não temos nada certo, mas estamos com algumas coisas em vista".
Serviço
'Um Jardim para Tchekhov'
Em cartaz até 27 de outubro de 2024
Sexta e sábado, às 20h; e domingo, às 18h
Local: Teatro III do CCBB RJ
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
Ingressos: a partir de R$ 15
Em cartaz até 27 de outubro de 2024
Sexta e sábado, às 20h; e domingo, às 18h
Local: Teatro III do CCBB RJ
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro
Ingressos: a partir de R$ 15
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