Alexandre Borges e Marcelo Drummond Divulgação/Jennifer Glass
Publicado 07/12/2024 05:00
Rio - O ditado popular 'o bom filho a casa torna' é a perfeita representação do atual momento na carreira de Alexandre Borges, que após três décadas reencontra com a companhia do Teatro Oficina Uzyna Uzona na peça "Esperando Godot" em cartaz no Teatro Carlos Gomes, no Centro, até domingo (8). Em 1993, o ator viveu o Rei Cláudio na montagem de "Hamlet", de William Shakespeare, espetáculo que marcou a reinauguração do espaço. 
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"É uma peça que eu tive vontade de fazer, acho Samuel Beckett um escritor muito genial. Um dos mais importantes do teatro mundial e com a direção do José Celso. Estamos há dois anos com o espetáculo e agora a gente conseguiu levar para o Rio de Janeiro, que era uma vontade grande do Zé também", explica o artista de 58 anos. 
Durante a preparação, Alexandre precisou lidar com a partida de José Celso Martinez, que dirigia a produção e morreu em decorrência dos ferimentos causados por um incêndio que atingiu sua casa, em julho de 2023. "A gente está fazendo um grande esforço. Ele me deixou um legado no sentido de uma força de vontade, uma paixão pelo teatro e uma entrega. [...] Nos ensaios quando ele vinha já era com uma certa dificuldade, né? Pela própria idade e tudo, mas era guerreiro e continuava com amor infinito pelo teatro. Então, isso é um dos legados mais importantes que ele deixou. Admiro muito essas pessoas que resistem".
Escrita no período pós-Segunda Guerra Mundial, a obra é uma representação da sociedade contemporânea. "É uma leitura que mistura esses dois personagens sem-teto que estão à espera do Godot. Só que ele manda um mensageiro dizendo que não vem hoje, mas vem amanhã sem falta. O Beckett mostra essas repetições das nossas vidas, o ser humano esperando uma redenção, um contato divino, alguma coisa que faça sentido, só que esse diálogo não existe, né? Isso é uma coisa muito interna e que às vezes paralisa o ser humano. Não só a espera do divino, mas de um novo amor, um trabalho... é complexo para quem faz e quem assiste. Mas é uma peça muito profunda e com muito humor", reflete Alexandre. 
Ao longo das três horas e meia no palco, o ator encarna Vladimir que se encontra na encruzilhada entre a paralisia e a tomada da ação ao lado de Estragão (Marcelo Drummond). O enredo profundo é sustentado por uma ponta de comédia. "O humor bate bastante e te dá uma reação. Entender a coisa através do riso, então eu acho que Beckett soube bem misturar por isso que a peça dura tanto tempo".
Enquanto se dirige a sala do espetáculo, o público que for assistir "Esperando Godot" também poderá ter uma experiência imersiva por meio da exposição "Fragmentos do Paraíso", que transita por pedaços da vida de José Celso Martinez e suas montagens. "Tem objetos pessoais, fotos, escritos, figurinos que ele usou e alguns vídeos. É um material muito importante", destaca Alexandre.
Carreira
Alexandre Borges integrou o elenco de "Elas por Elas", trama das seis da TV Globo que teve seu último capítulo exibido em abril deste ano. O artista comenta essa transição entre as duas formas de arte. "O teatro vai me sustentar até o final da minha carreira, tem uma gama de personagens que abrange todas as idades. Você sempre vai ter um personagem para fazer no teatro. Naturalmente, eu me coloco como um ator de teatro que por um acaso fez televisão e cinema, deu sorte e que às vezes esteve no lugar certo e na hora certa. Eu tinha uma vontade, mas não contava e nem tinha certeza que ia acontecer. Foi algo a mais. O teatro é o pai de todas as artes e dele que surgiu tudo."
Aos 58 anos, o ator fala sobre a recente discussão em torno da ausência de veteranos na dramaturgia. "Para entrar pessoas novas, é preciso que os veteranos cedam lugar, e eu acho isso justo. Quando eu entrei muitos atores que eu via, eu senti falta porque fez parte da minha infância e adolescência, mas aí veio a minha geração. Agora eu virei um pouco o veterano, mas isso não quer dizer muita coisa, porque tem gente mais velha trabalhando em novela e eu também acabei de fazer uma. No meu caso, eu acho que a TV é um lugar de muita responsabilidade. Estou fazendo novela há 30 anos, a gente se preocupa com ibope, se o público e a imprensa estão satisfeitos. É uma dedicação."

Com um ano intenso de trabalho, o artista revela que pretende tirar uma pausa antes de pensar em novos trabalhos. "Depois da temporada no Rio, daremos um tempinho. Com o verão e o carnaval, as coisas dão uma parada mesmo. E aí pensar em projetos futuros. Eu fiz um filme chamado 'Operação Borboleta', que fala sobre internet e vale muito a pena assistir. Fui gravar em Bananeiras, na Paraíba. Mas é isso, terminando esse ano que foi intenso de trabalho, eu vou descansar um pouquinho."
Serviço:

Espetáculo "Esperando Godot"
Sábado e domingo, às 17h
Local: Teatro Carlos Gomes
Endereço: Praça Tiradentes, s/nº - Centro
Ingressos: a partir de R$ 80
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